3 de out. de 2012

Mataram a única certeza da vida. Mataram a morte!

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por Marlon Rosa
(Beco 203)

*ESTE ARTIGO CONTEM SPOILERS*

Quarta-feira.

Na cozinha mãe fazendo arroz com fritas e bife;

Na sala, TV sintonizada na preguiça do final de tarde;

No quarto, Pai com pedra no rim.

Dever: checá-lo de 15 em 15 minutos.

Faltando dois minutos para completar um quarto de hora, uma voz sai do quarto e corre para a sala: “Filho, vem cá, o pai precisa conversar com você.” O filho pega a preguiça, a coloca no sofá, e vai até o quarto. Senta no canto da cama e espera o motivo da convocação.

Pai: “Chega mais perto... Acho que minha hora chegou, *cof cof*, dá cá um último abraço que eu quero me despedir de você.”

Filho deixa de ser prole por alguns segundos e transcende, fica louco, sai do corpo e grita silenciosamente, luta com a própria voz a fim de que ela encontre o caminho pra fora da boca. Por fim, recupera seu fôlego e corre para os braços da mãe. Ela por sua vez o ignora, diz que “é drama do seu pai, ele é assim mesmo, você sabe disso”. Agora quem ignora é ele, está convicto de que seu pai está pra morrer e precisa fazer algo, não pode acatar o achismo da mãe e ficar de braços cruzados. Ele então corre pra rua, vai até a vizinha e começa a gritar desesperado. Ninguém o atende. Volta para casa e fica no sofá, sentado em meio a choro, desespero e impotência.

Depois de 30 segundos uma voz ecoa pela casa, traz consigo a calma, a felicidade e por fim, a ressurreição, era a voz de seu pai. Mas como era possível se ele estava morto minutos atrás? Pensando bem, deixa pra lá, do que isso importava se agora estava tudo bem, se ele tinha voltado da morte e estava ali, novamente ao seu lado? De que importava todo esse evento realmente ter sido apenas um drama do pai e sua mãe estar com a razão? Tudo estava em seu devido lugar como antes, ISSO era tudo o que importava.

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A ideia de ter alguém que você gosta e ama de volta pode até parecer confortável de início, mas pior do que a dor de perder alguém é a dor da expectativa de tê-la de volta, do longo martírio que é o processo da espera e da convicção de que aquele pode não ser o fim, de que há uma tenra e fina faísca de chance de algum retorno. Essa é a realidade de quem lê histórias em quadrinhos. Não que a dor de perder um personagem do qual você é fã seja pior do que perder um ente querido, é óbvio que a dor de perder o segundo é infinitamente maior do que a dor pela perda do primeiro, mas imagine por um breve momento que você esteja ali dentro daquelas histórias, imagine que você faz parte de todas aquelas vidas e compartilha dos mesmos dramas. Imagine que você foi possuído por uma força divina, capaz de destruir mundos inteiros, dizimar bilhões de pessoas, uma força que faz você perder o controle e cometer um homicídio, a força Fênix.

Professor, pai e mutante, Charles Xavier representava a minoria do Universo Marvel, ele lutava pelos seres humanos que nasceram com necessidades fisiológicas que garantiam a eles habilidades anormais, sobre-humanas. Uma espécie em extinção, com pouco mais do que 200 sobreviventes em todo o planeta.

Setembro marca a morte de um dos maiores mutantes que já existiram na face da Terra: morre a origem dos X-Men e o pai de todos eles. Não o biológico, mas aquele que cria, ensina, mostra o caminho certo. Em setembro Scott Summers matou seu professor a sangue frio com direito a plateia. Nós sabemos que quando a força Fênix largar seu corpo e ele perceber o rombo que abriu na história, ele torcerá pela volta. Afinal, se todos os heróis retornam, porque o seu maior herói não haveria de voltar?

O evento aconteceu na 11ª edição de Vingadores vs. X-Men que está rolando lá fora, e marca o fim de uma era e o início de outra. A partir desse momento em diante a Marvel coloca uma pedra em seu passado, e da o pontapé para o início de um novo mundo, o que importa é o AGORA. Porém, a Marvel tem uma mania horrível: jogar suas pedras para cima e deixar a todos que estão no chão olhando, e esperando quando ela cairá, e quem ela vai acertar quando isso acontecer; a certeza aqui não é a da morte de Charles, a única certeza é a de que ele voltará, cedo ou tarde, morto ou vivo, em uma segunda ou quarta-feira qualquer.

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Marlon Rosa escreve todos os dias 04 e 16.

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