ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Há um termo no cânone americano da narrativa, “suspension of disbelief”, que se refere a intensidade com que uma história exige do espectador que aceite situações, diálogos, acontecimentos e ações dos personagens mesmo quando essas não são as mais prováveis ou mais lógicas no mundo real. Em Duro de Matar, por exemplo, escolhemos acreditar que John McClane é capaz de sair ileso das cenas de ação cada vez mais perigosas e impossíveis, simplesmente porque essas cenas são alguns minutos de entretenimento que perderíamos se não praticassemos a tal “suspension of disbelief”. Não há nada errado em abusar desse artifício, mas é de bom tom não fazê-lo.
Essa semana, em Under The Dome, a série nos pede a maior “suspension of desbelief” de sua curta vida: quando o policial que enlouqueceu e matou outro no final de “The Fire” escapa das mãos de Linda, e Big Jim reúne uma equipe, incluindo Barbie, para caçá-lo pelas florestas de Chester’s Mill, o personagem de Mike Vogel mostra-se útil ao identificar um dos rastros deixados pelo fugitivo como um “dummy trail” (uma trilha falsa). Under The Dome, nesse momento, nos pede para acreditar que o enlouquecido e paranóico policial que vimos atirar contra o domo e derrubar Linda na delegacia teve a frieza e o calculismo de recorrer a uma técnica aprendida em seu treinamento militar, para despistar uma equipe de busca que ele nem mesmo sabia se existiria.
O fato de que essa pequena “suspension of desbelief” não tem consequencias grandes para a narrativa, e que o restante dela continua com pés firmados na realidade, diz muito sobre a qualidade de Under The Dome, mesmo em um episódio mais fraco que os anteriores, como esse indiscutivelmente é. Os destaques aqui ficam por conta de duas relações interpessoais que acendem na série uma faísca interessante, a primeira entre Julia e Barbie, e a segunda entre Linda e Big Jim. Os atores representando esses quatro personagens também ajudam: Rachelle Lefevre e Mike Vogel encontram uma química perfeita e uma entrega de diálogo afinadíssima; e enquanto Dean Norris ainda é um elo fraco no contexto da série, Natalie Martinez tem se mostrado o fundamento mais forte dela. Linda é, no momento, o personagem mais interessante e com mais perspectivas de gerar uma história bem amarrada.
“Manhunt” não é tão agitado quanto “The Fire”, mas descobrimos que o domo também se estende embaixo da terra quando Junior vai, sob a sugestão de Angie, explorar antigos túneis da cidade. O roteiro de Adam Stein continua o ponto acertado da série na ambientação de cidade pequena, mas foi dado um pedaço de trama um tanto arrastado, e não tem muito o que fazer acerca disso. A direção de Paul Edwards, que se tornou merecidamente uma figura carimbada da televisão depois de Lost, traz o conhecido domínio de cenário e elegância de câmera que é sua assinatura.
**** (4/5)
Próximo Under The Dome: 01x04 – Outbreak
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