28 de jul. de 2013

Review: A transformação de uma sociedade em “Parade’s End”

Parades-End-Poster-HBO

Escritas e lançadas pouco depois do final da Primeira Grande Guerra, entre 1924 e 1928, as quatro novelas assinadas por Ford Madox Ford, das quais Parade’s End nasceu, são talvez justamente por essa localização temporal um dos retratos mais precisos e mais abrangentes do conflito. Compreendendo pelo menos uma década de narrativa, a história gira em torno do amor impossível entre o estatístico Christopher Tietjens e a ingenue feminista Valentine Wannop. Entre os dois pombinhos existe nada mais do que a honra de Tietjens, que se diz incapaz de trair a esposa socialite Sylvia, mesmo que ela já tenha se mostrado infiel. O homem, que se considera (e pode muito bem ser) “o último gentlemen britânico” acaba arrastado para a linha de frente da Grande Guerra.

Parade’s End é uma história de transformação tão eficiente porque compreende que a jornada de seus personagens é paralela à jornada da própria sociedade à qual eles fazem parte. As tintas progressistas do autor Madox Ford foram frutos do clima social predominante na Inglaterra depois da grande guerra, com as mulheres conquistando o direito ao voto e os ideais conservadores, que Tietjens representa como epítome, sendo deixados de lado para a vivência de uma época liberal (ainda que curta, vide a Segunda Guerra se seguindo em pouco tempo). Os cinco episódios de uma hora dão ao roteirista Tom Stoppard, vencedor do Oscar por Shakespeare Apaixonado, a oportunidade de pintar um retrato da sociedade que conduziu a Europa à guerra, e daquela que saiu, e em muitos aspectos foi gerada por ela.

Parade’s End, a minissérie, é uma co-produção da BBC com a HBO, e as duas grifes super conceituadas não deixam a desejar: direção de arte, música, fotografia, casting e figurino são apuradíssimos, mesmo as custas de às vezes o resultado final ser “limpinho” demais. O bom gosto estético é realçado pela direção de Susanna White, que fez Jane Eyre para a BBC em 2006, e a moça ainda é a responsável por equilibrar essas escolhas quase ascéticas de produção com o tempo compassado da narrativa e o cerne do arce de transformação dos personagens. Parade’s End muitas vezes se parece com uma pura fábula moral, mas White tem a ajuda de ser elenco para trazê-la de volta para a dimensão humana.

Benedict Cumberbatch faz jus ao seu nome ascendente no meio. Quem não acompanha a versão da BBC para Sherlock pode ter uma excelente primeira impressão aqui, porque ele é o encarregado de soprar vida ao personagem principal, e faz ser humanamente impossível não se engajar com sua jornada emocional. O ator acrescenta profundidade e tristeza inerente aos olhos duros de Tietjens, uma batalha interna que parece nunca estar em trégua, e uma dignidade que vende bem ao espectador a noção do personagem como um homem a ser admirado. Rebecca Hall, por sua vez, demonstra firmeza na própria concepção de Sylvia, e isso é uma das virtudes necessárias em uma história que baseia-se tanto nas percepções que os personagens tem de si mesmo. Seu desempenho é deliciosamente carismático, brilhantemente odiável e, ainda assim, comoventemente trágico.

Parade’s End, às vezes, ganha os tons de uma jornada cosmeticamente perfeita, mas em última instância um pouco vazia. No entanto, é preciso vê-la como uma história contínua para perceber a beleza daquilo que retrata. Como uma pintura impressionista, vista muito de perto, Parade’s End é só um borrão de cores agradáveis aos olhos.

**** (4/5)

Parades End. Call Sheet #11

Parade’s End está indicado a 5 Emmys, incluindo:
- Melhor Trilha Sonora para uma Minssérie, Filme ou Especial para TV
- Melhor Fotografia para uma Minissérie ou Filme
- Melhor Ator em Minissérie ou Filme (Benedict Cumberbatch)
- Melhor Roteiro para Minissérie, Filme ou Especial Dramático (Tom Stoppard)

Caio

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