Poster da versão 2012 de Frankenweenie
por Amanda Prates
(Twitter - O Que Vi Por Aí)
Tim Burton sempre descreveu sua infância como “peculiar, imaginativa e perdida em seus próprios pensamentos”. E talvez daí tenha surgido sua genialidade que o fez diretor consagrado, com um estilo próprio de fazer cinema. Contratado, logo na sua juventude, como aprendiz de animador nos estúdios Disney, Burton criou e dirigiu seu primeiro curta-metragem, Vincent, baseado em uma de suas maiores influências, Vincent Price. Com apenas seis minutos de duração, o curta narra a história de um menino sombrio e lunático, que lia as obras de Edgar Allan Poe e desejava ser como o grande ator norte-americano, conhecido por contracenar filmes de terror e suspense, Price (o mesmo que fornece a voz “off”).
Dois anos depois, em 1984, ele produziu seu segundo trabalho, em live-action, Frankenweenie, em parceria com a Buena Vista (uma das produtoras ligadas a Walt Disney Studios) e com auxílio de Leonard Ripps, que co-escreveu o roteiro. O curta contava a história de um garoto que, inspirado no conto de Frankenstein, ressuscitava seu cachorro por meio de correntes elétricas, aos mesmos moldes do clássico de Mary Shelley. Burton conseguiu transpor para o filminho de 30 minutos uma gama de temáticas (como a amizade entre o homem e seu cão e a morte e sua possível reversibilidade), aparentemente simples, mas com toda uma fantasia que te prende à trama; e referências a alguns clássicos de monstros dos anos 30 e 40, o que tornou a produção uma pequena joia de sua filmografia. O curioso é que esse mesmo curta, bancado pela Disney, fez com que o cineasta fosse demitido da empresa, com o argumento de que a produção era demasiadamente mórbida para se encaixar entre “os produtos do Mickey Mouse e companhia”.
Porém, como mais curioso ainda, é que, quase 30 anos depois, com o objetivo de se desvencilhar da imagem de empresa que produz histórias infantilóides, definidas por princesas que sonham encontrar o príncipe encantado ou que falam com animais, a Disney sustentou a produção do remake do mesmo curta, agora em stop-motion e com mais de 80 minutos de duração. Lançada em outubro do ano passado e indicada ao prêmio da Academia na categoria de Melhor Animação, a nova versão de Frankenweenie segue a mesma linha da primeira, só que com uma extensão mais comovente, intensa e divertida, e com aromas nostálgicos. Tudo como uma mistura do tom deliciosamente cômico das produções de Ed Wood, com elementos sobrenaturais de A Noiva Cadáver e polido com o enternecedor e emotivo Big Fish, e claro, contornado pelo seu velho e bom humor sarcástico.
O próprio Burton confessa que o filme tem uma profunda inspiração autobiográfica. Quando jovem, seu cão foi diagnosticado com uma doença que o impediria de viver por muito tempo, mas ocorre o contrário. Na escola, ele era visto como uma criança estranha e não compreendida. Victor é como se fosse o alter-ego do diretor, um garoto “diferente” que produzia suas próprias mini películas, nas quais o ator principal era seu cachorro. Com personagens que fazem alusão a corcundas, zumbis e vampiros, ele tenta propor o bizarro como algo comum. Aquilo que antes era exceção, no século 21 torna-se uma norma.
Em preto e branco, sustentando a característica do curta de 1984, o desfecho de Frankenweenie cai num clichê, porém agradável, (comovente até) e a previsibilidade é inevitável, e se isso incomoda algum adulto, é preciso ressaltar que o filme também visa (ou talvez priorize) o público infantil. Mais do que um “filme de massinha”, Frankenweenie é um resumo de todas as antigas produções e a marca de que, por mais que isso possa parecer cansativo, Tim Burton é e sempre será Tim Burton, o que jamais consegue se afastar de seus próprios visuais neogóticos.
Cena de Frankenweenie, versão curta-metragem live action, de 1984
2 comentários:
texto limpo, nada cansativo (o contrário disso) e extremamente interessante. amei tudo! tudo!
Sempre gostei muito de Tim Burton, e Frankenweenie tem um gostinho especial pra mim, já que perdi um cachorro com uma doença muito séria há alguns anos. Como crio bichos desde muito cedo, vi alguns deles partirem, e sempre senti muito. Até hoje lembro de cada um deles. Não é a toa que esse tema sempre me comove (vide Marley & Eu e Sempre ao Seu Lado, que chorei como nunca).
O diferencial aqui que além de tratar de um tema muito pessoal, há toda essa áurea de homenagem ao cinema B, aos clássicos da Hammer, e à própria filmografia do Burton. Afinal, como não lembrar de Vincent Price ao observar o professor de ciências? Referências não faltam.
Parabéns pelo texto, Amanda!
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