por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
O Impossível é um filme que tem méritos o bastante para se provar mil vezes digno de ser assistido. No entanto, é preciso frisar que o maior trunfo do filme de Juan Antonio Bayona (O Orfanato) reside em se tratar de uma história que, como poucas nesse último ano (ou nessa última década, aliás), precisava ser contada. Tanto por seu valor de realidade e pela relevância da tragédia que vemos acontecer em tela, o tsunami que atingiu a Tailândia em 2004, quanto pela forma como essa abordagem em especial do cenário olha para um lado humano do acontecimento e nos expõe a uma jornada que provavelmente foi a de uma centena de outras famílias na época. A tese, aqui, é que o impossível do título (e a metáfora deste é brilhantemente explorada) é, na verdade, improvavelmente possível. Não há um grande significado. O que há é um farol de esperança em meio a escuridão. E um filme não nos poupa de mostrar o quão profunda foi tal escuridão.
O primeiro ponto a favor de O Impossível é não se furtar de impiedoso realismo no retrato da tragédia. As cenas que se permitem uma visão mais ampla do que a da história da família na qual a narrativa se concentra mostram um cenário desolador, por vezes aflitivo. Não se engane: você vai se sentir sufocado, afogado, dentro da catástrofe (e eu não estou falando apenas da brilhante cena em que a água invade a terra, mas das consequencias do fato). A separação da família composta por Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor) e os filhos Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast) parece ser infligida ao próprio espectador, e a constante debilitação física da personagem de Watts, assim como o desespero do filho mais velho ao assistir esse processo, encontram ressonância direta em quem o assiste.
Esse mérito, é claro, deve ser creditado ao roteirista Sérgio G. Sanchez, também de O Orfanato, e ao diretor Bayona. O primeiro faz um trabalho excepcional em manter a narrativa no ritmo enquanto as buscas, encontros e separações acontecem em constante sucessão, e também constrói personagens no ponto certo entre o ordinário e o especial para que as situações pelas quais eles passam sejam tanto identificáveis quanto tocantes. Bayona, por sua vez, mostra-se um contador de histórias habilidoso e um entendedor nato da arte do cinema. As sutilezas na direção (tome por exemplo a sequência de delírio que a personagem de Watts tem em certo momento do filme) e a forma como ele intercala takes concentrados nos personagens com outros que constróem um contexto ao redor deles, tudo na delicada direção do espanhol emerge o espectador na narrativa.
O trio principal do elenco é também fundamental nesse processo. Watts, McGregor e Holland internalizam-se em seus personagens, e o ritmo da narrativa é daqueles que nos fazem esquecer que estamos assistindo performances de atores. Naomi, na pele da mãe de família e médica que é também a mais ferida pela catástrofe, imprime fragilidade e força em cada take de sua personagem, encontra a medida certa para as cenas em que seu estado debilitado é explicitado, e não tem dificuldade em impôr-se como o centro emocional e nervoso do filme. McGregor, por sua vez, entrega aqui uma de suas melhores atuações, brilhando na cena do reencontro e quando precisa confessar para o pai da esposa, por telefone, que não sabe onde ela e o filho mais velho estão. Ele é talvez o membro do elenco que se aproxime do espectador com mais facilidade.
Por fim, o jovem Tom Holland é um prodígio. Em sua estreia no cinema, o garoto se coloca como o pivô da trama: é a coragem de seu personagem e o insuspeito senso de proteção com a família que nos faz realmente encontrar-nos com esses personagens, afeiçoar-mo-nos a eles. E é nesse ponto que O Impossível tem o jogo ganho. É Lucas, o filho mais velho de uma família que, aqui, se torna o cartaz de uma centena de outras, que nos faz acreditar que esse é um filme com algo a dizer. Algo simples, talvez até piegas, mas inegavelmente fundamental: quando se ama e se está disposo a fazer tudo por aquilo que se ama, nada é impossível.
***** (5/5)
O Impossível (Lo Imposible, Espanha, 2012)
Direção: Juan Antonio Bayona
Roteiro: Sergio G. Sánchez
Elenco: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast, Grealdine Chaplin.
114 minutos
0 comentários:
Postar um comentário