16 de jan. de 2013

Review: “Indomável Sonhadora” e a grandeza dos menores

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Indomável Sonhadora (Beasts of The Southern Wild, algo como “Bestas do Sul Selvagem”, no original) é um filme que, como todos os grandes filmes de verdade, joga com múltiplos recursos e pinceladas temáticas para, em seu cerne, ser sobre algo essencialmente simples. E “simples” é a palavra mais do que certa aqui: sendo um filme em que a heroína é uma garota de 6 anos em meio a um mundo a beira do apocalipse (senão pós-apocalíptico), Beasts joga muito com a imaginação comoventemente singela de uma infância vivida em um ambiente que é exatamente o que o título descreve – selvagem. Trata-se de uma fábula zoomórfica que, no fundo, só quer nos lembrar da beleza que reside em ser só um pequeno detalhe diante da grandeza do mundo.

A trama segue Hushpuppy (Quvenzhané Wallis), que vive com o pai, Wink (Dwight Henry), na parte Sul alagada de um planeta que está sofrendo as consequencias do derretimento das geleiras no Pólo. O filme caracteriza o lugar pelo olhar da criança, cuja mãe fugiu da pobreza em que a família vivia, então há alguma beleza lúdica no ambiente selvagem: a conexão da garota com a natureza, explicitada em sua encantadora narração, e as luzes das constantes festas que acontecem em meio a desolação. Beasts é uma história dura, mas, de uma forma um tanto parecida com Onde Vivem os Monstros, de Spike Jonze, abstrai essa dureza em uma nobre e orgulhosa fantasia colorida que é, ainda assim, eventualmente amarga.

O diretor e roteirista estreante Benh Zeitlin não se furta da observação da barbárie que atinge homens privados da sociedade, mas reconhece também que julgá-los (mais ou menos da forma como atracar a expressão “barbárie” ao comportamento deles, aliás) não seria justo. Ao escolher a visão infantil ao lado da co-roteirista Lucy Alibar, que escreveu a peça que deu origem ao filme, Zeitlin se dá ao luxo de tornar sua obra em uma experiência essencialmente mágica também no sentido em que concede certa credibilidade, certa identificável garra, no comportamento de seus outcasters. O nova-iorquino é creditado também, ao lado de Dan Romer, pela fabulosa trilha-sonora de violinos e violões dedilhados que acabou (injustamente) não incluída nas quatro indicações do filme ao Oscar (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz).

A nomeação de Quvenzhané Wallis, aliás, faz história: atualmente aos 8 anos, a garota é a indicada mais nova da história do Oscar. E é uma lembrança merecida a concedida pela Academia: a moça carrega o filme com uma ferocidade que poucas ou nenhuma atriz mirim treinada (essa é a estreia dela no cinema) seria capaz. Hushpuppy é uma personagem apaixonante porque passa por uma jornada de constante busca – por força, bravura, coragem e ímpeto para enfrentar a vida – que todos nós passamos, mas também porque Wallis a faz crível e intensa mesmo nos momentos mais fantasiosos. Dwight Henry, outro estreante, poderia ter sido reconhecido ao lado de Wallis, porque sua atuação é tão fundamental quanto a dela. E é uma performance extremamente emocional, em um arco de descobrimento que vai da brutalidade a delicadeza com naturalidade.

Com sua situação extraordinária, seus elementos fantasiosos e sua recorrência as maravilhas da imaginação infantil, Beasts of The Southern Wild é um filme que quer dizer algo muito palpável para qualquer pessoa: não há nada de errado em seu um em um bilhão. É nossa aversão a essa ideia, talvez, que tenha nos levado a levar tão pouco em consideração o planeta em que vivemos, e o bem-estar de outros que não nós mesmos. E para quê? Beasts quer nos lembrar que, mesmo pequenos, talvez até microscópicos no universo, nós somos todos, essencial e inalianevelmente… notáveis.

***** (5/5)

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Indomável Sonhadora (Beasts of The Southern Wild, EUA, 2012)
Direção: Benh Zeitlin
Roteiro: Lucy Alibar e Benh Zeitlin, baseados na peça de Lucy Alibar
Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Levy Easterly, Gina Montana
93 minutos

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