29 de mai. de 2012

Seu (Sonho).

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Eu só queria um dia. Um dia de saber, ou talvez de não saber. Um dia em que as coisas fizessem sentido, ou que houvesse algum sentido nelas não terem sentido nenhum. Um dia em que eu pudesse respirar um ar que estivesse impregnado do perfume que me confunda os sentidos, pudesse abrir os olhos e enxergar um rosto do qual eu conheça cada traço. Um dia em que nada estivesse faltando.

Eu queria um dia no parque. A grama bem aparada, o olhar apontando para o céu (e que ele estivesse tão azul quanto se pode pedir), o som do silêncio. Ou de uma voz angelical cantando uma melodia divina. Queria um dia sozinho. Queria um dia com você. Queria um dia na metrópole, no caos, nas luzes artificiais, no frio cortante. Um dia de sentir o ar gelado, claustrofóbico, seco, entrando pelas narinas e devolvê-lo, quente, convidativo, da minha boca para a boca de alguém.

Eu queria um dia de sentir. Sentir como se eu estivesse em um filme. As noites estendidas em um café qualquer iluminado por neon, a forma de um sorriso absorvendo toda a atenção do meu olhar. A risada roubada de um canto abandonado, fugindo da multidão que passa a poucos metros e finge que não existimos. O sussurro, o perfume do seu hálito, o arrepio do ar que toca a pele. Queria um dia de ter tudo de uma vez.

Eu queria um dia de passar dos limites, ou de fazê-los não existirem. Queria um dia de Psique e Eros, de visão de águia e olfato de cão. Queria um dia em que o sobrenatural não o fosse. Queria um dia de café forte e discussão pungente. Queria um dia de buscar, mas nunca entender, os mistérios do mundo. Queria um dia de revolucionar. E um dia de apenas deitar e sorrir com o fato de que, não importa o quanto tentemos, o mundo vai ser sempre assim.

Queria um dia vermelho. E que tudo, sob esse filtro, fosse à flor da pele. Paixão, ciúme, desejo. Tudo aquilo cujas consequências sempre acabam valendo a pena. Queria um dia azul de calma. Um dia em que apenas o olhar fosse o bastante para dizer tudo o que quisesse. Dia branco de paz, e jamais negro de luto. Queria um dia que durasse para sempre, e um dia em que tudo durasse para sempre. Queria um dia para lembrar. E queria um dia para esquecer-me de tudo o que traz aquela dor no fundo da cabeça, aquela picada de veneno no coração.

Um dia em que nada fosse utopia. Um dia de respirar leve. E então, depois, simplesmente deixar o coração parar. Porque, depois de tal dia, como voltar ao insustentável peso de simplesmente ser real?

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