27 de mai. de 2012

É proibido proibir.

marcha

por Luciana Lima
(Blog pessoal)

Se você perguntar pra dez cidadãos que moram nos grandes centros urbanos qual é o principal problema de sua cidade, provavelmente nove responderão que é a violência urbana. Assaltos, sequestros e o tráfico de drogas são problemas que parecem insolúveis para a maioria dos governantes das grandes cidades, entretanto algumas ações que vão muito além da repressão, que sempre é escolhida como único caminho, seriam mais eficazes, principalmente no que diz respeito às drogas.

Um estudo de Harvard esse ano, que foi assinado por 300 economistas, dentre os quais três ganharam o prêmio Nobel, afirmaram que se a maconha fosse legalizada os EUA economizariam U$S 13,7 bilhões. O Brasil já é o terceiro país com a maior taxa de prisões, e um quarto dessas pessoas está detida devido á crimes relacionados às drogas. Esse alto índice de encarceramento gera inúmeros problemas e até agora a política de repressão se mostrou altamente ineficaz para resolvê-los. A guerra pelo tráfico também está relacionada à diversos conflitos armados ao redor do mundo, enfim,a política adotada com relação às drogas se mostrou falida tanto no Brasil quanto no mundo inteiro.

Porém, mesmo com todas as evidências de que se é necessário um debate que reavalie a condição das drogas, isso é colocado como tabu pela sociedade, e devido aos diversos mitos antidrogas difundidos como realidade e da visão moralista religiosa que as condena como pecado, levantar essa questão já é interpretável como uma forma de apologia e fortemente condenada. A Marcha da Maconha realizada ano passado, por exemplo, foi repreendida de forma brutal pelos policiais com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha, fazendo com que as pessoas tivessem que sair às ruas pedindo liberdade ao menos para discutir o problema. Somente após uma decisão do Supremo Tribunal Federal ela foi autorizada, contrariando assim o liberalismo que dizemos que vivemos hoje, a famosa liberdade que segundo dizem nos é assegurada por lei, porém que só funciona quando se trata de liberdade de mercado e não se aplica as mais importantes liberdades individuais.

Entretanto, a proibição da maconha tem suas origens ligadas a outras questões que vão além do discurso usual de que ela seja prejudicial à saúde, e sim possui uma correlação com discursos e práticas racistas e xenófobas, como por exemplo o preconceito contra árabes, chineses, mexicanos e negros, usuários frequentes de maconha no começo do século XX; além também dos interesses capitalistas, pois indústrias poderosas dos anos 20, que vendiam tecidos sintéticos e papel e queriam se livrar de um forte concorrente, o cânhamo.

Esse cenário de desinformação e conservadorismo da população, aliado aos interesses de diversos grupos, incluindo alguns ligados ao governo, que possuem relações estreitas com o tráfico e o crime organizado, faz com que não haja a possibilidade de um debate que discuta realmente o problema e proponha uma nova política baseada em informações de qualidade e não em mitos difundidos de forma errônea. Uma sociedade baseada em um conservadorismo irracional e medieval acaba por reforçar problemas que, com atitudes desprovidas dessa postura retrógrada, seriam resolvidos de outra maneira. A Marcha da Maconha e os graves problemas causados pela repressão ao uso de drogas estão pedindo de forma latente um discurso e uma prática muito diferente da que vivemos atualmente, e insistir nesse método é ignorar e reforçar cada vez mais uma política que se mostrou ineficaz e falha.

Luciana Lima escreve todo dia 26.

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