Curta Person of Interest Oficial Brasil no Facebook
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Uma míriade de possibilidades passou pela cabeça deste que vos fala ao considerar começar o review de “The Crossing”, nona entrada da terceira e fenomenal temporada de Person of Interest. A que mais chegou perto de tocar o significado e a essência dessa hora de televisão, no entanto, soou técnica demais: existe uma regra nunca dita no mundo da narrativa, ou seja, no mundo que observa o comportamento e a condição humana de forma mais aguda, que dita mais ou menos que nenhum plot point, conceito ou traço de personagem pode se sobrepor ao fato de que há pessoas nas suas vidas que eles amam mais do que tudo. Mais do que qualquer plano de vingança, ambição ou trama complicada, é nessa característica que mora a chave para fazer cada personagem verdadeiramente humano. Parece piegas, mas é simplesmente infalível.
“The Crossing”, no entanto, é mais que um excelente exemplo da soberania dessa elaboração na construção de narrativa. Difícil explicar, a não ser para quem passou por experiência semelhante, o quão parecida (guardadas as proporções) com a dor de uma perda real é de se despedir de verdade de um personagem que fez parte de uma fatia da vida do espectador. Assim como tudo na ficção, essa dor é um espelho conceitual do mundo real, e mistura o choque, a contemplação do quanto ficou inacabado para trás da vida daquele personagem, a revolta pelo mérito ou desmérito dessa morte. Nesse episódio, porque estamos falando de Person e não de American Horror Story, nos despedimos da Detetive Carter de Taraji Henson. E é uma despedida que explode tudo o que veio antes, e coloca o episódio acima de qualquer crítica.
Damos a partida onde terminamos na semana passada, com Reese e Carter, com Alonzo Quinn como refém, correndo contra o tempo e os infinitos recursos da HR para levar o chefão do grupo direto para um prédio do FBI, a única instituição onde Quinn não deve ter agentes infiltrados. A caçada de uma noite por Nova York envolve todos, como era de se esperar, de Fusco e Shaw formando uma dupla improvável até o primeiro ser sequestrado e torturado pelos policiais corruptos dos quais foi um dia colega, até Mr. Finch lutando contra a perspectiva de pedir ajuda para Root (e para a máquina, por conseguinte) e tendo que intervir de corpo presente no último minuto. A máquina cospe o número de Reese, o que complica ainda mais as coisas, porque traz a atenção o fato de que 2/3 da comunidade criminosa da cidade, graças a uma recompensa oferecida pelo HR, está a procura da cabeça do moço.
Denise Thé, já em sua sétima colaboração na série, assina o roteiro, costurando tramas significativas para todos os personagens (Finch e Shaw são um pouco secundários, mas tem sua parcela de brilho) e mostrando o quanto os entende. Fusco, por exemplo, tem várias setpieces incríveis no decorrer do episódio, o que é sempre bem-vindo, porque Kevin Chapman é um ator extraordinário, visceral e carismático quando lhe é dada a oportunidade. Conhecemos o filho do personagem, e logo depois vemos seu desespero quando a HR passa absurdamente perto de executar o garoto, seu alívio quando Shaw aparece no último minuto para salvar o dia, e sua conflituosa raiva ao sufocar um dos policiais que estava o mantendo preso com as correntes das algemas.
O ponto principal aqui, no entanto, exatamente como eu disse lá em cima, é que nada disso nunca ultrapassa o amor como tema central. O triunfo da HR, no final das contas, é saber que aqueles que estão sob seu comando podem aguentar tudo, menos perder aqueles que amam. Por outro lado, o triunfo dos subjugados – e o que os leva a deixar de ser – é o quanto eles realmente amam. O episódio aplica isso a Fusco e ao filho, a Finch e a Reese (é a menção de que John pode morrer que faz Harold considerar o indíviduo sobre a sociedade pela primeira vez em sua vida), e especialmente a Carter. A personagem de Taraji Henson, que fez um trabalho estupendo e precisa ser reconhecida por isso, nos deixa no meio de seu arco de personagem, mas seu ensinamento é claro: se existe algum ponto de equilíbrio entre as trevas e a luz, ele está no genuíno sentimento de afeição por aqueles que nos cercam.
Observações adicionais:
- “The Crossing” começa com a máquina escutando uma conversa entre Reese e Carter! Person está definitivalmente virando o jogo nessa temporada, um plot point que está sendo trabalhado muito sutilmente no passar dos episódios. Colocar Reese como o número da vez aqui também faz parte desse movimento, e a hesitação de Finch em recorrer a uma intervenção mais direta da máquina também.
- É mais do que hora de reconhecer o bom trabalho de Robert John Burke em ser completamente odiável como Simmons. A voz monótona e rouca e a atitude ameaçadora são uma presença assombrosa em “The Crossing”.
- “You know the dog’s the only one that likes you, right?”
- O episódio também toca de leve na relação de Finch com Reese como complexa. Seja ao sabermos que em parte ele é responsável pela quase morte do moço, seja agora que descobrimos que ele não é o primeiro “ajudante” do personagem, esse distanciamento coloca Harold como um quase monstro, mas salienta também o quanto ele tenta não ser.
- “Seems like the only time you need a name now is when you’re in trouble”
- Eu não citei o súbito romance entre Reese e Carter porque é uma jogada barata em um episódio que de barato não tem nada. A própria série parece reconhecer isso. A conexão entre Reese e Carter é de almas parecidas, com experiências e conceitos parecidos. Essa dor era o bastante para transformar o personagem de Caviezel, não era preciso forçar um sentimento romântico que nunca esteve em pauta na série.
***** (5/5)
Próximo Person of Interest: 03x10 – The Devil’s Share (26/11)
2 comentários:
Só acho q não precisava mata-la. E dentro do show, Carter sempre gostou dele sim. Isso desde o primeiro episodio. E ele tb. a tratava diferente. Enfim, estou decepcionada c a morte dela. Era a minha personagem preferida.:( E se eu soubesse dessa morte bem antes, jah estavaria fazendo camponha p ela voltar.rs A serie vai perder muuuito c a saída dela. :(( Brigadinha.
Nezinha.
Não foi a primeira vez que mostrou Reese como não sendo o primeiro ajudante de Finch. Teve um flashback, sobre a máquina, que mostra um ex-ajudante do Finch morrendo...
Postar um comentário