6 de nov. de 2013

Review: Masters of Sex, 01x06 – Brave New World

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Em muitos sentidos, “Brave New World” e o seguimento perfeito para “Catherine”, que abalou as nossas noções de até onde Masters of Sex poderia chegar, na semana passada. Enquanto o episódio anterior tentava nos mostrar que o microcosmo emocional desses personagens em muitos sentidos é parecido com o nosso, e que certas verdades sobre a natureza humana não mudam com o tempo – o que só reforça a premissa social da série, diga-se de passagem, quando consideramos o quão mais bárbara é a repressão de determinados instintos quando à luz dessa suposta imutabilidade –, essa semana (re)descobrimos o quanto o mundo que cerca esses seres humanos primordiais está em constante e bagunçada transformação.

Lá no começo da temporada, em meu primeiro review da série, um dos pontos que destaquei é que Masters sabia ser elegante sem precisar para isso ser sutil. Talvez essa informação estivesse incompleta: embora aborde os temas superficiais com franqueza e, a grosso modo, nenhuma sutilidade, a série cada vez mais parece disposta a desenhar, a cada episódio, pequenos arcos dramáticos e elucidadores da situação social retratada e dos efeitos dela sobre os indivíduos em tela, que passamos a conhecer tão intimamente. Fica um destaque, aliás, para o quanto Masters tem se esforçado para nos trazer com sua câmera para o centro mais vulnerável de seus personagens, o que faz sentido para a história que os roteiristas querem contar.

No mais do que apropriadamente intitulado “Brave New World”, a trajetória que se desenha a partir da junção desses registros íntimos dos personagens é elaborada em função de mostrar que todos eles, com seus limites (Masters continua sendo uma “tragédia de limites” em mais de um sentido, como eu previ lá no terceiro episódio), tem uma relação complexa com o desejo. Bill e Libby, por exemplo, se vêem inicialmente divertidos mas em última instância encurralados em sua própria “química ao contrário” quando, ao saírem de férias para tentar lidar com a tragédia do episódio passado, acabam no quarto ao lado de um casal mais velho – e mais sexualmente resolvido. A série é madura o bastante para fazer com que o conflito que desencadeia a fenda no relacionamento dos dois venha da própria personalidade de ambos, e de um momento de desenvolvimento para Libby, e não totalmente da provocação cômica do quarto ao lado. Mesmo assim, não deixa de ser um exemplo da tentação do desejo se chocando contra as amarras sociais e provocando a ruína de um relacionamento.

Paralelamente, o Dr. Scully e a esposa Margaret parecem passar por uma situação similar. Masters não escalou Allison Janney de graça: quando o foco da câmera de “Brave New World” se volta para ela, as reentrâncias de sua performance evoluem com o texto e o tempo em tela, conforme somos revelados que a mulher do personagem de Beau Bridges nunca experimentou a sensação do orgasmo. É uma revelação chocante para o espectador e para Bill e Virginia, um pouco trágica, até digna de pena, mas Janney se coloca em cena de forma a edificar Margaret como uma representação de seu tempo, de sua geração. Em Masters, e essa é uma das grandes jogadas da série, os vilões nunca são os personagens. É a sociedade que os cerca entre grades grossas de ferro, mesmo que em última instância só eles mesmos tenham a chave.

Observações adicionais:

- E aqui estamos nós, com uma segunda temporada confirmada, e a estreia da abertura de Masters of Sex! Nós amamos a sequencia de ceninhas brilhantemente filmadas, relacionando o tema do sexo com a natureza e realçando a abordagem franca da série sobre ele. É ao mesmo tempo hipnotizante, engraçado e apropriado.

- Por falar em brilhantemente filmado, aplausos devidos ao diretor do episódio, Adam Davidson, veterano da TV (Suburgatory, Community) e vencedor de um Oscar pelo curta-metragem The Lunch Date.

- A tensão sexual e a história estendida da relação entre Bill e Virginia dá um inesperado salto para a frente na última cena do episódio. O desenvolvimento só não vem completamente inesperado porque dá para entender a decisão de Virginia como a personagem que conhecemos, e porque a cena é tão deliciosamente constrangedora de um jeito que Masters está fazendo ser sua assinatura.

- O episódio, que é cheio de plot, ainda resvala na questão dos limites da teoria psicanalítica de Freud ao lidar com a sexualidade humana. É conhecido hoje que as maquinações do mestre da psicanálise não cobrem a infinita variedade humana nesse sentido, e é corajoso da parte de Masters basear uma trama nessa suposição ao mesmo tempo que não descarta a possibilidade do afamado Dr. Sigmund ter entendido um pouco das maquinações da mente humana (especialmente, a masculina).

- Outra questão bem abordada pelo episódio é a “meritocracia” que muitas vezes rege as relações entre os pioneiros em quebrar preconceitos em uma área e aqueles que se seguem a ele. A relação entre a Dra. DePaul e Virginia é um excelente exemplo disso, e ainda se alinha com a tendência de analisar “limites de modernidade” de Masters.

- Por último e não menos importante, Barry Bostwick é o vizinho de quarto de terceira idade de Libby! Alan Ruck é o psicólogo do Dr. Langham! I dare say it: it’s a Spin City reunion! YES!

***** (5/5)

Lizzy Caplan as Virginia Johnson in Masters of Sex (season 1, episode 6) - Photo: Michael Desmond/SHOWTIME - Photo ID: MastersofSex_106_2540

Próximo Masters of Sex: 01x07 – All Together Now (10/11)

Caio

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