18 de nov. de 2013

Review: Masters of Sex, 01x08 – Love and Marriage

MASTERS OF SEX (SEASON 1)

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Quando pela primeira vez o tema da homossexualidade surgiu na mira de Masters of Sex, lá no terceiro episódio (“Standard Deviation”), fixou extremamente claro que a série tomava posição simpática ao assunto, mas talvez pretendesse manter a distância, assim como seus protagonistas, porque não estava nessa discussão o seu centro nervoso. Nessa semana, cinco episódios depois, Masters volta a investir com peso no assunto após algumas storylines secundárias em oportunidades anteriores, protagonizadas pelo Provost Scully de Beau Bridges, mas observadas sempre do ponto de vista “de fora” (o do Dr. Masters, o da esposa Margaret, o do garoto de programa Dale).

A tentativa de elabborar a discussão em torno da homossexualidade dentro de uma história que é essencialmente sobre os limites de gênero, no entanto, não soa exatamente natural. Com a maior centralização em Barton, somos levados a observar as intimidades de sua vergonha e medo da própria orientação sexual, chegando ao ponto de mentir para Margaret mais uma vez, dizendo que a trai com prostitutas ao invés de confessar que Dale é seu “amante”. É um retrato pungente, principalmente quando o personagem do talentoso Finn Wittrock expressa em uma explosão de raiva um sentimento parecido de auto-rejeição, mesmo que envernizado sob uma camada de indiferença amarga.

Então, não é que Masters lide mal com a questão da homossexualidade em sua ambientação de época. Pelo contrário, é uma das abordagens mais honestas que a televisão já foi capaz de produzir, e é importante que ela seja repetida e imitada muitas vezes. O problema é que essa parte da trama parece tão desconectada do restante do tema que até estraga uma parte de “Love and Marriage”, episódio não tão bem amarrado em torno de um motivo como os três anteriores, mas com o meso senso de direção e minúcia com os personagens. Quase tudo nessa hora de televisão é extremamente coerente, como peças só levemente interconectadas que aos poucos vão se juntando em um movimento impressioante, mas a storyline de Barton soa como se a série estivesse esticando seus braços longe demais. A discussão de gênero e a de sexualidade, afinal, são bem diferentes.

Esse tema central está bem disposto no título, emprestado de um standard pop (famosamente gravado por Frank Sinatra) que fatalmente seria cantarolado por algum personagem no meio do episódio. Escolha perfeita foi dá-lo para Vivian Scully, não só porque Rose McIver faz uma rendição adorável da canção, mas porque é ela quem representa a instituição tradicional em Masters. Embora sua personagem passe por enormes mudanças de tom de episódio por episódio, é notória a desenvoltura da atriz em retratá-la como uma mulher determinada em seu objetivo, mesmo que ela seja uma convenção conservadora. Eu disse na semana passada que Masters via as interações entre o Dr. Haas e Vivian como uma forma de provar que, mesmo com o modenro permitido, o tradicional ainda funciona para algumas pessoas. “Love and Marriage” não nos leva muito fora dessa rota, mas faz um bom trabalho em expandí-la.

A história de Ethan e Vivian corre paralela a de Barton e Margaret, e uma parece existir para contrapor a outra, ao mesmo tempo que observamos Masters e Virgina desmoronarem as noções conservadoras do sexo. A Margaret de Allison Janney, em um ponto do episódio, aconselha Dale – sem saber que ele é o amante do marido – a nunca se casar, porque é tolo pensar que seu relacionamento vai ser a exceção daqueles que se desgastam e perdem o brilho com o tempo. A personagem não sabe que seu matrimônio nunca teve esse brilho por outros motivos, é claro, mas ainda assim é preciso apreciar a performance de Janney, uma das melhores coisas em Masters of Sex desde que apareceu divinamente em “Catherine”, três semanas atrás. Em seu olhar há dúvida, baixo-estima e, ao mesmo tempo, resiliência e elegância, uma mistura poderosa nas mãos de uma atriz que sabe lidar com ela.

Há um certo cinismo, e nele uma certa dualidade, na forma como a série enxerga esse seu tema matrimonial, no entanto. Algo na storyline entre Bill e Virginia sugere que a instituição do relacionamento advem de uma vontade de controle, especialmente quando o personagem de Michael Sheen mostra-se temeroso ao saber que sua companheira de pesquisa e amante está completando a faculdade e logo será uma “igual”. Não há muitas esperanças na história das continuadas traições do Dr. Langham tampouco. Se muito, o que ele faz é validar o ponto de Margaret, mas não é que é justamente ela que faz a separação entre os dois conceitos do título, “Love and Marriage”? Ela vive no fato de que, embora a sociedade da época as coloque inseparavelmente juntas, o primeiro pode existir sem desejo, sem atração. O segundo, não.

Observações adicionais:

- Liz Caplan e Michael Sheen estão em seu melhor quando juntos. O jogo de malícias, intimidades e a disputa de poder entre os personagens não é só excitante, como complexo e instintivo para o espectador. Uma experiência de storytelling fascinante.

- No entanto, há alguma preocupação quanto a personagem de Virginia a esse ponto da temporada, no sentido em que muita gente vem observando que ela é construída mais como uma ideia (ou seria um ideal?) do que como um ser humano de verdade. Todas as suas storylines e características existem para apoiar o fato de que ela é a incorporação da modernidade e da libertação feminina

- A exceção, no entanto, talvez esteja na relação entre Virginia e DePaul, que está chegando ao ponto de uma storyline em que a primeira aprende da segunda o fato de que, assim como os homens, as mulheres precisam se esforçar para chegar a algo. Essa é uma boa perspectiva para a personagem, e Julianne Nicholson está fazendo um ótimo trabalho como a Dr. DePaul.

**** (4/5)

MASTERS OF SEX (SEASON 1)

Próximo Masters of Sex: 01x09 – Involuntary (24/11)

Caio

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