ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
“All Together Now”, o terceiro de uma série incrível de episódios brilhantes que Masters of Sex vem enfileirando, apresenta ao espectador duas questões fundamentais, não só para a narrativa, mas para o próprio pensamento humano. Vamos começar com uma delas: o ser humano é bom por natureza? Masters tem sido uma daquelas séries sem vilões, em que pessoas de primordial boa vontade se vêem presas pela rede de consequencias social e comportamentral que advem de seus desejos. É uma estretégia perfeita para a história que a série pretende contar, é claro. Mesmo quando estão machucando uns aos outros, os personagens de Masters são retratados tão intimamente que fica difícil fingir que não conhecemos suas razões.
Essa, é claro, é uma das características que fazem a série ser da absoluta primazia moral e narrativa que é. Em “All Together Now”, uma parte desse pressuposto é derrubada em dois fronts, e lentamente reconstruída até o final. Esse processo, nas mãos do escritor Tyler Bensinger (Arquivo Morto), não busca justificar essas ações de quebra com o subterfúgio do desejo incontrolável. Por mais que Masters retrate o sexo e a atração como parte da natureza humana, os atos cometidos em relação a eles são inteiramente da responsabilidade dos personagens. O silêncio mortificado de Margaret quando Barton descobre que ela tem outro homem na casa, e a recusa do tal homem (o Dr. Langham, claro) em assumir o papel de “salvador” para essa senhora a quem ele seduziu motivado sabe-se lá por quais complexos psicológicos – quanto mais deles, melhor, porque isso significa mais tempo de tela para Alan Ruck –, podem até ser humanos. Só não são, mesmo, absolvíveis.
O tema ensaiado na semana passada do segredo destruindo por dentro os relacionamentos encontra um exemplo pungente na relação entre Margaret e Barton. Beau Bridges e Allison Janney multiplicam isso a uma camada social de quebrar o coração (a doída recusa de Barton em admitir a homossexualide para a esposa é angustiante), e se tornam facilmente o centro nervoso de um episódio com bastante acontecendo nas beiradas. As outras duas tramas envolvem o recém-fechado triangulo amoroso Libby-Bill-Virginia, uma vez que os acontecimentos do final de “Brave New World”, na semana passada, fizeram as coisas escalarem a um ponto em que os dois médicos se inseriram no estudo da sexualidade (e começaram um affair, na prática). Libby, que está agindo pelas costas do marido ao continuar um tratamento de fertilidade, precisa que Bill esteja presente sexualmente para ela, o que, é claro, é dificil com Virginia, representando a libertação sexual, esperando-o no escritório todos os dias.
No arco de personagem de Libby a série peca um pouco. Talvez fosse mais oportuno observar o ápice da revolução de comportamento que ela acenou no episódio passado, mas Caitlin FitzGerald vende qualquer coisa que esses escritores entregarem a ela, e a série ainda usa o plot point para inserir uma amarga constatação de época que talvez perdure até hoje: a vontade das mulheres serem mães para “prenderem” o marido. Masters explora essa “santificação” da maternidade talvez para apaziguar os animos de uma mudança meio repentina de personagem, mas a boa notícia é que, em grande parte, a estratégia funciona. Outra característica dessa “ala” da história é a relação de poder e intimidade acumulada que existe agora entre Bill e Virginia. Com os dois falando no mesmo nível, Masters ganha muito mais em diálogo, personagem e material para seus atores.
E a segunda questão levantada por “All Together Now”? Ela parece pular da boca de Teddy Sears, o intérprete – agora muito melhor aproveitado – do Dr. Langham, numa sessão com seu terapeuta. Ao descrever como a declaração de amor e a perspectiva de ter “salvo” Margaret de uma vida ruim não é exatamente a sua ideia de uma relação excitante, o personagem coloca em pauta o incômodo de alguns com a humanização da sexualidade. Assim, não basta saber se somos bons ou maus: precisamos saber se queremos ser humanos.
Observações adicionais:
- A dinâmica entre Ethan e Vivian é um quebra-cabeças. É enjoyable, mas o é pelos motivos certos para Masters? Eu sinto como se aquilo fosse uma representação do “tradicional”, e talvez a série tente nos dizer que, mesmo com o “moderno” permitido, esse classicismo não é, para todos, ruim.
***** (4,5/5)
Próximo Masters of Sex: 01x08 – Love and Marriage (17/11)
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