ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Em certo momento de “Red Team III”, talvez o episódio mais vital dessa segunda temporada de The Newsroom, Mackenzie entra no escritório de Will enquanto uma boa fatia do time do News Night está dando os detalhes de uma história quente sobre um protesto no Oriente Médio que pode ser disfarce para um ataque terrorista. Ela acabou de descobrir que o prrodutor Jerry Dantana editou a entrevista central da história da Operação Genoa, e tomou uma viagem de elevador com o moço para despedí-lo. Ela diz que Will precisa retratar a história, voltar atrás e desconfirmar tudo o que foi reportado dois dias atrás. E a sala toda cai em silêncio.
Esse é um momento que Aaron Sorkin vem deixando dentro de sua manga, cozinhando em banho-maria, por toda a temporada, sim, mas é principalmente um momento que encontra ressonância em um processo que vem acontecendo lá desde Junho de 2012, quando a série estreou: nós nos importamos com esse momento porque ele é o pesadelo que qualquer jornalista, o fundo do poço moral para qualquer profissional dessa área, e esse silêncio é chocante e grave por isso; mas acima de qualquer coisa, nós nos importamos com esse momento, e ele é verdadeiramente devastador, porque nos últimos 12 meses e 17 episódios, aprendemos a confiar nesses personagens. E o olhar de Emily Mortimer (absolutamente brilhante como nunca nesse episódio) quando percebe o enorme deslize que cometeu com a sua profissão é genuinamente aterrador.
Então aí está aos detratores mais ferrenhos do drama pessoal de The Newsroom: desenvolver personagens vale a pena. Durante “Red Team III” acompanhamos a última reunião antes da aprovação de Genoa, a transmissão da mesma e a progressiva destruição de cada fonte “confiável” que os personagens amealharam no decorrer dessa temporada. É um espaço grande de trama que Sorkin precisa cobrir com seu roteiro, mas ele o faz com competência, urdindo três atos redondinhos de narrativa: o primeiro marcado pelo complicado jogo moral e retórico da aprovação e transmissão; o segundo pela mais convencional espiral descendente das evidências que suportavam Genoa; e o terceiro inteiramente lidando com as reações desses personagens à destruição de suas confianças em si mesmos.
Não me resta nada se não listar todas as virtudes que ficam expostas nessa fatia fina: a incredulidade atenta da advogada de Marcia Gay Harden, que mesmo nas poucas aparições ganhou carne e osso sob a batuta de Sorkin e da sempre determinada atriz; a lealdade de Jim para com Mackenzie e a expressão de preocupação concentrada e íntegra de John Gallagher Jr; o ferrenho veneno na ponta da língua de Don e o olhar de aço de Thomas Sadoski frente aos questionamentos da personagem de Harden; os olhos analíticos de Olivia Munn e a contornada e coerence vivacidade de Dev Patel, que parece eternamente grato pelas melhorias que a segunda temporada trouxe para seu Neal; a grandeza convicta da interpretação de Hamish Linklater, que deu um bicho-papão perfeitamente camuflado para a trama da temporada.
“Red Team III” mostra qual é o grande triunfo da escrita de Sorkin, mesmo com seus vícios de diálogo e sua retórica muitas vezes mão-pesada: ele se importa com os personagens que escreve, e faz com que nos importemos também. Os constrói altos na percepção de seu espectador, e dessa forma faz com que seja muito mais doloroso quando eles tombam ao chão.
***** (5/5)
Próximo The Newsroom: 02x08 – Election Night, Part 1 (08/09)
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