30 de abr. de 2012

SUA.

por Fabio Christofoli
(Clube do Camaleão)

A situação é essa.

Fulano vai sair. Desde já ele anuncia aos quatro ventos que vai sair. Posta mil mensagens nas mil redes sociais que participa. Fala pra quem pode na rua. Todos sabem que ele vai sair.

No aquece ele começa a postar fotos. Continua anunciando. Está com os amigos, mas não desgruda do celular ou (na hipótese mais absurda) do note. Chega a conversar com pessoas, ainda falando que vai sair.

Durante a festa, tira fotos, sempre pensando na pose, na roupa, no cabelo e nas companhias que vão aparecer daqui a pouco no seu Facebook. Ele faz pensando no depois. Esquece o agora.

Se acha uma bebida, faz questão de registrar. Todos têm que saber que ele sai. Todos têm que saber que ele bebe. Todos têm que saber que ele vive.

Mas ele não vive.

Não para si. Vive para os outros, que até acreditam que ele vive, e passam a entender que também devem fazer o mesmo, passam a viver para os outros. E tudo isso se transforma num ciclo sem fim, de pessoas que vivem para as outras pessoas.

Até acredito que Fulano se divirta, mas duvido que faça isso plenamente. Tenho certeza que falta algo a ele, que talvez ele nem saiba que falta... mas sente falta. É aquele tal vazio que a sociedade tanto reclama, que multiplica o depressivos pelo mundo. É aquela sensação de desconforto, que indica que  falta algo. E falta! Falta a NOSSA vida. O que realmente queremos ser e curtir. Há pessoas que vivem tanto para os outros que já nem lembram do que gostam. Simplesmente entraram no automático. Sinto pena delas.

É claro que é normal querer fazer parte do grupo. Eu mesmo me flagro fazendo coisas mais pela convenção social do que por mim (tipo dançar...). Seria um hipócrita se dissesse que não. Duvido que alguém seja totalmente independente. Se existe, penso que essa pessoa é solitária e infeliz.

Minha crítica é ao exagero. É ao fato da vida estar se tornando propriedade coletiva. É aquela pessoa que vive preocupada com o que os outros vão pensar e age para que eles aprovem tudo que ela faz. Tá errado! E isso digo com propriedade. TÁ ERRADO!

Somos 7 bilhões de pessoas, vivendo uma vida, que não tem dia marcado pra acabar. Não consigo imaginar um sentido pra vida se não o de ser relevante. Nem todos vão atingir o sucesso, mas todos podem brilhar de diferentes formas. Brindar sua existência com uma dose de autonomia, de felicidade própria.

Não vejo nada mais divertido do que fazer aquilo que se gosta. Eu, por exemplo, tenho 27 anos e adoro mangás e animes. A cultura geral deve achar uma babaquice isso, mas to andando pra o que eles acham. Não tenho vergonha alguma de tirar meu mangá pra ler no ônibus rumo à faculdade. Sou feliz assim!  Pois nada é mais legal do que ter seu próprio jeito de ser.

Pra finalizar, lembro de uma música do Pato Fu que resume o que penso. Meu trecho preferido é esse...

“Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém

Acho que eu fico mesmo diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente”

Viva SUA vida.

Fabio Christofoli escreve todo último dia do mês.

2 comentários:

GuiAndroid disse...

Ótimo texto, parabéns.

Talita Rodrigues. disse...

Amei esse texto! Parabéns!!