3 de abr. de 2012

Sobre preconceitos e paradoxos.

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por Marcelo Antunes
(Diz Que Fui Por Aí...)

No texto em que apresenta os novos colaboradores aos leitores de O Anagrama, o Caio me definiu como alguém que  vinha"(...) para adicionar uma  pitada de cotidiano, humor e cultura ao blog (...)".  Infelizmente, vou decepcionar, já de cara.  Abordarei um assunto que há, aproximadamente, uma semana, está atravessado em minha garganta.  Perdão pelo tema punk.  Prometo, na próxima, ser mais leve.

Covardia.  Eis a palavra que resume o que aconteceu a Daniel Zamudio, jovem chileno de 24 anos, que foi agredido por um grupo neonazista, tendo parte de sua orelha arrancada e várias suásticas "tatuadas" pelo corpo.  Internado em um hospital de Santiago, inicialmente sem risco de morte, Daniel não resistiu.  O governo do Chile repudiou o caso, grupos de defesas das minorias sexuais puseram a boca no trombone e os pais do rapaz declararam que não foi a primeira ocasião que o filho sofrera por conta de sua orientação sexual.

Casos de agressões a gays não são novidades, inclusive no Brasil.  Mas o que mais espanta, nesse episódio, é pensar que os agressores - como um amigo comentou, no Facebook - têm sangue inca e aimará.  Povos que sofreram na pele o que é ser perseguido, escravizado e dizimado.  Um completo dispararte - como um neonazista mulato, por exemplo.  O que nem é improvável, num país como o nosso.  É só dar uma espiada mais atenta e descobrir, por aí, entre esses grupos, descendentes de nordestinos, índios, negros.  Revoltante.

Li essa notícia e fiquei para baixo.  De bode.  Pior ainda, quando encontrei, no Facebook, esse grupo que se autodenomina de "Espartanos" (a única página nazi-socialista-judeu-stalinista-cristã e metalera da web).  Eles comemoravam a morte de Daniel:  "Si Daniel Zamudio hubiese sido un hueón cualquiera, nadie sabría de él, sin embargo como era gay, todos lloran, eso no es discriminación?..", "Uno menos... Spartans.cl está de fiesta!!!!".  Compartilhei em meu perfil para que todos meus amigos pudessem denunciar a página.

Eu sei que a história não acaba por aqui.  Ainda haverá Daniéis ao montes por aí.  Mas ficar calado, passivo, de braços cruzados é pior ainda.  É preciso gritar, combater o preconceito, apontar a quem pratica violência e dissemina ideias desse tipo.  Que o caso  Zamudio não seja esquecido.  Ele morreu, com suásticas por todo corpo.  Oxalá que não cheguemos a esse ponto, na terra Brazilis.  Afinal,  "lâmpada" para suástica é uma involução podre - e muito preocupante.

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Marcelo Antunes escreve todo dia 3.

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