por Luciana Lima
(Blog Pessoal)
“XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social”
Nesse mês de abril, dia 17 pra ser mais exata, o Massacre do Eldorado dos Carajás completou 16 anos, e passadas quase duas décadas da barbárie, ao olharmos para o campo, nos dias atuais vemos que as coisas não mudaram muito.
A reforma agrária sempre foi um problema para o qual o Brasil fechou olhos e preferiu ignorar. Desde a época em que éramos colônia, as terras brasileiras estão nas mãos de oligarquias dominantes, ora senhores de capitanias hereditárias, ora grandes produtores de monocultura, e nenhum dos presidentes que passaram por nosso planalto quiseram colocar a mão nesse vespeiro. Até mesmo Lula, que levantava essa bandeira, nada fez em sua gestão.
A terra é um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento de qualquer indivíduo e a luta pela reforma agrária envolve aspectos econômicos, políticos e sociais. A luta pela questão da terra já exterminou muitas pessoas e o massacre do Eldorado dos Carajás é apenas um caso emblemático, que ficou marcado na história, porém massacres dos Carajás acontecem todos os dias, em diversas cidades do Brasil, com outras pessoas, mas com o mesmo contexto e brutalidade.
A concentração de terra na mão de uma elite agrária, que muitas vezes a concebeu de forma fraudulenta, é baseada em alianças políticas, influências econômicas e pelo uso da força; muitos policiais do campo, por exemplo, trabalham como jagunços de fazenda nas horas extras. Esses três fatores criam uma rede altamente amparada, fazendo com que a guerra no campo aconteça de forma desleal e absolutamente injusta. Prova disso é que até hoje, por exemplo, os dois coronéis acusados de serem mandantes da chacina ainda continuam impunes, contando com o auxílio de nossas leis falhas e do desinteresse do poder público.
Para completar o quadro alarmante, fora todos esses crimes, muitos ainda exploram mão de obra de uma forma não contratual, chegando ao limite da escravidão contemporânea e submetendo os trabalhadores a condições subumanas.
Além de causar problemas no campo, a reforma agrária também reflete na vida nas grandes cidades: o grande êxodo de pessoas que migram em larga escala do campo, faz com que as cidades superlotem, se urbanizem de forma selvagem e desestruturada e acabem por não comportar essas pessoas, causando assim a marginalização e como consequência a criminalização em alta e a degradação dos centros urbanos.
Como visto, a reforma agrária e as lutas no campo, que ao vermos pela televisão nos parecem tão distantes e algo do qual não fazemos parte, estão presentes nos problemas das “cidades inchadas”, que sofremos diariamente. Além disso, como cidadãos, não podemos assistir pacificamente a essa guerra, como se assiste a um filme de faroeste, e fingir que nada está acontecendo. Um dos passos para o país justo e “de todos” que nós almejamos é garantir o acesso a terra de forma igualitária e sem, como sempre, o domínio de poderosos e influentes. Por fim a minha pergunta, retórica até, é a seguinte: Quantos Eldorados dos Carajás precisarão vir para que o espírito de revolta se fortaleça e dê frutos em cada um de nós?
Luciana Lima escreve todo dia 26.
1 comentários:
É, vamos ver se DIlma faz algo por isso, afinal, "país rico é país sem pobreza".
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