5 de abr. de 2012

Ecos.

texto bruna

por Bruna Correia
(Disparidade)

“E Deus não é seu irmão, Deus não é filho da memória; é filho da experiência imediata (...) Se quisermos viver cada instante tal como ele se apresenta, temos de morrer para todos os outros”.

Passamos grande parte do tempo pintando o futuro como uma grande linha do tempo, traçando o modo de se viver como uma estrada retilínea, pressupondo uma só realidade, fantasiando um modelo, e como tal errônea já que generaliza tudo o que envolve.

E neste trajeto há desvios e por vezes estes desvios são o caminho, cheio de ramificações que transformam trilhas tortuosas nos caminhos corretos.

◘◘◘

Ele abriu o mais belo sorriso, sentia-se especial, era o seu aniversario de 5 anos. E mesmo tão novo conseguia dimensionar o valor de ter alguém que lhe diga para quais  caminhos tender, mas nem sempre foi assim.

Durante seus poucos anos de vida, viu aqueles a quem amava se destruindo, não sabia bem do que se tratava, mas fosse o que fosse não era bom. Os dias, semanas e meses passaram, e sua mãe afundava em si, o vício consumia toda a família, o consumia, não conseguia desvencilhar-se daquele momento, nem sempre vivera aquela tensão, mas ele aprendeu uma lição muito cedo, a de que “chafurdar no passado pode ser boa literatura. Como sabedoria, é estéril”. E foi assim que apagou os momentos de felicidade da memória para que a totalidade do espírito estivesse presente no sofrer. Até que ganhou uma nova família, esta cheia de faces, a maior parte deles muito jovens, da sua idade, de 4 a 5 anos, as pessoas grandes eram poucas, e tratavam-nos como filhos. E isso se mostrava nos menores gestos; demonstravam orgulho com os menores feitos, aplicavam broncas e o mais deslumbrante era a estabilidade que parecia transbordar dos seus olhos.

E foi no seu aniversario de 5 anos que que gravou em sua a mente a imagem de família, a família do Lar. Lugares que abrigam crianças e adolescentes que perderam os pais, não moravam em ambientes que favoreçam o desenvolvimento do menor, ou sofreram alguma espécie de agressão ou abuso. Esses menores são encaminhados ás instituições pela vara da infância, presentes em todas as cidades e/ou regiões.

Com o passar do tempo, o jovem entendeu que naquele lugar o objetivo era obter uma nova família. E foi quando a realidade da partida apresentou-se. O pequeno não se assustou já que o seu sonho era sair do lar para quando fosse auto suficiente ajudar sua mãe.

Depois da maior idade, as instituições não os mantem nos abrigos, porem alguns lares recrutam antigos internos para trabalharem na própria instituição ou são incentivados a conseguirem empregos.

No caso do jovem que contei um breve relato, que ouvi de terceiros, quando chegou enfim o momento de partir, ele encontrava-se em meio a outros na mesma situação. Com razoável rapidez conseguiram empregos, o que os permitiu que alugassem uma casa. E hoje ele esta no inicio de uma nova fase, ainda com a sua mãe em mente.

◘◘◘

Leitor querido. Não espero que o seu teclado esteja em meio a lágrimas, mas a história descrita é um quadro que pintei com base nas experiências de uma pessoa que amanhã poderá sentar-se ao seu lado na sala de espera de um dos dentistas da cidade. É importante saber que existem outras realidades, outras pessoas. E como passar do comodismo a uma atuação efetiva?.

Denunciando maus tratos, colaborando com doações, como a campanha do agasalho. Não lhes digo para saírem correndo pelados gritando: Eu amo as pessoas!!!!, e abraçando árvores, porem pequenos gestos podem resolver alguns problemas.

Um exemplo são campanhas de coleta de alimentos e/ou festas de visam arrecadar fundos. Ou até mesmo uma visita pode mudar o dia de alguém.

Cada pessoa é um universo, e isso torna tudo grande demais para olhar apenas para o nosso dedão do pé, por mais bonito que seja. São reflexões e inflexões que nos movem. E agora vos pergunto: O que estará acontecendo na esquina da sua casa?

“Praticamos uma alquimia invertida, tocamos o ouro e ele se transforma em chumbo; tocamos o puro lirismo da experiência, e ele se transforma  nos equivalentes verbais de tripas a agua chilra” 

(citações extraídas do livro “O Gênio e a Deusa”, de Aldous Huxley)

Bruna Correia escreve todo dia 5.

1 comentários:

Clara lú disse...

se cada um fizer a sua parte no final todos ficarão bem,entendo por fazer minha parte olhar pro outro,e enxergar suas necessidades,saber ouvir aprender olhar dos lados durante a correria do dia a dia...porque existe alguém além de mim vivendo no mundo e meu mundo sera melhor se eu tiver vizinhos felizes,
valeu Bruna,amo você,
amo viver.