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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
Em certo momento de “Deus Ex Machina”, este que vos fala, preciso confessar, teve a clara impressão de que Person of Interest estava dobrando-se mais à vontade da emissora de televisão aberta onde é veiculado, e deixando uma certa identidade moral para trás, como resultado. Isso aconteceu por volta dos 35 minutos, quando o plano maléfico do bond-vilão Greer foi revelado para Finch e Collier, e a atuação um tanto histriônica de John Nolan entrou no caminho para tornar tudo mais cheesy do que deveria (não me levem a mal, Nolan tem sido um ás na manga para Person, mas o texto nessa cena em especial não ajudou). A verdade é que eu precisava de tempo, porque assim que “Deus Ex Machina” entrou para os créditos finais ficou mais do que claro que Person não estava se curvando diante das convenções da CBS – estava se curvando diante das vontades de sua própria narrativa.
Em retrospecto, existe uma certa quebra de inocência no momento em que Collier descobre que foi manipulado pela Decima durante todo o tempo em que achou fazer parte de um movimento revolucionário pró-privacidade. O esforço de nos mostrar o passado do personagem e sua trajetória dentro do movimento nos últimos dois episódios recompensou no sentido de fazer a performance de Leslie Odom Jr. soar mais encorpada, e construir um elo de simpatia entre o espectador e Collier. Durante boa parte de “Deus Ex Machina”, Person passa por momentos de pura angústia moral durante o julgamento aberto promovido por Vigilance contra as forças do governo responsáveis pela máquina de Finch (e por Samaritan, agora). O confronto de Collier com cada um desses personagens é marcante e complexo, e isso não é diminuído pela frieza revelada por Greer – pelo contrário, o vilão é uma ferramenta essencial para que as entrelinhas morais permaneçam tão sutis quanto deveriam ser.
É preciso destacar no episódio a atuação de Camryn Mainheim e o confronto de sua personagem, Control, com o Peter Collier de Odom Jr. No roteiro de Greg Plageman e David Slack, ambos veteranos da série, o confronto entre essas duas forças de storytelling é memorável porque demonstra a forma como ambos os lados da discussão da privacidade e paranoia no século XXI podem ter seus defensores apaixonados e suas convicções de ferro. É quase como uma prévia do duelo de titãs (para usar uma metáfora mitológica das que Person tanto gosta) que veremos no quarto ano – ou não, visto que os roteiristas tem um comichão por surpreender seus espectadores.
Aliás, ao juntar Plageman e Slack para redigir o finale da temporada, Person soube pesar muito bem as forças que tinha em mãos: ambos são parte da equipe que concebe os episódios semanalmente, Plageman assinou o capítulo de estreia (“Liberty”), e Slack foi creditado como autor, entre outros, de “Root Path” e “Razgovor”, focados em Root e Shaw, respectivamente. Trazer o primeiro para o finale significa ter uma visão direta de como ele se conecta com o episódio de estreia da temporada, e portanto dotá-lo de maior poder de conclusão (mesmo que haja uma ponta evidentemente solta para puxar o quarto ano); trazer o segundo significa reconhecer a importância que os coadjuvantes adquiriram, e apurar uma relação mais próxima com os personagens num episódio que naufragaria sem o impacto emocional que atinge nas cenas finais.
“Deus Ex Machina” é um finale tão excelente justamente porque conserva a capacidade essencial de Person of Interest: a de jogar a própria premissa de cabeça para baixo e não ter medo de precisar lidar com ela no futuro. Em Person, nós nunca voltamos à estaca zero, e isso faz sentido absoluto na arte de contar histórias. Como o voice-over de Root cita no finalzinho: “The whole point of Pandora’s Box is that once you’ve opened it, you can’t close it again”.
✰✰✰✰✰ (5/5)
Person of Interest está confirmada para uma quarta temporada!
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