11 de mai. de 2014

Person of Interest 3x22: A House Divided

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Para quem acompanha uma série, qualquer série, com regularidade, é impossível não começar a procurar padrões e tentar decifrar ideologias que guiam os roteiristas na hora de escrever as tramas. Um processo natural e particularíssimo da regularidade de uma produção de TV que nos libera 20 e tantas horas anuais de storytelling, essa busca pelo “cerne” daquilo que estamos assistindo estabelece um jogo de provocação entre série e espectador que, além de manter o interesse, ainda atiça as percepções de quem assiste, o que nunca pode ser ruim para uma obra que pretende ser entendida profundamente. No entanto, é preciso que, ao mesmo tempo que o espectador nunca se deixe acomodar num só definição do que aquela série pode ser, os escritores entendam que contar uma história é muito menos sobre uma ideologia geral e muito mais sobre várias ideologias individuais (a dos personagens, quando bem construídos) entrando em conflito.

Mais uma vez demonstrando absoluta excelência entre os títulos no ar atualmente, Person of Interest é talvez uma das séries que melhor entenda tudo isso. “A House Divided” é tão absurdamente complexo moralmente que fica quase impossível acreditar que se trata de um programa da televisão aberta americana. Num esforço sobre-humano e ao mesmo tempo numa manipulação de engrenagens muito bem azeitadas, esse pré-season finale brinca com todos os elementos importantes da temporada e os amarra perfeitamente na última cena, produzindo nesse processo um episódio completo e absolutamente envolvente. A multiplicidade do roteiro de Amanda Segel (em seu nono crédito na série!) é admirável, mas mais ainda é a forma como a escritora aposta na humanização de todos esses personagens para desmontar o jogo de xadrez de Person em um campo de batalha muito mais crível, e muito mais angustiante.

Parte do episódio se preocupa em contar a história de Peter Collier (Leslie Odom Jr., em uma atuação discreta que constrói um conjunto muito convincente), previamente retratado como um dos “vilões”. A grande sacada do roteiro é que, quando da última cena do episódio, é difícil definir se ele está tão errado quanto muitas vezes a série nos levou a crer durante essa temporada. Existe um sentimento de justiça muito forte no personagem, e é difícil culpa-lo por isso quando Person o faz a própria representação da quantidade de injustiça passiva de ser cometida pelo sistema de vigilância que o governo considera “perfeito”. As cenas do passado de Collier são frequentemente tocantes, e mais ainda, impregnadas com um sentimento de raiva latente que faz soar natural a explosão do personagem no tempo presente da série.

Outra fatia de “A House Divided” nos mostra a interação entre Greer e Finch, cheia de diálogos filosóficos que colocam em perspectiva tanto a criação do personagem de Michael Emerson quanto a reação do de John Nolan. O embate entre os dois atores, e entre as duas formas de pensar, é impressionante exatamente por nos deixar decidir por nós mesmos onde e porque cada um deles tem uma fatia de razão. É claro que, eventualmente, a série vai reafirmar que a decisão de Finch de “machucar” sua criação e embuti-la com limitações a tornou essencialmente melhor, porque apesar de não se subjugar ao julgamento humano, ela guarda alguma espécie de compaixão (ainda que eletrônica) por eles. Esse é, afinal, todo o ponto de uma série que, no meio de intensas disputas sobre a validade do uso de determinadas tecnologias, sublinha sempre a importância essencial de uma humanidade no trato e na conexão entre nossa sociedade e nós mesmos.

No entanto, por mais que esse seja essencial e inseparavelmente o centro nervoso e emocional de Person, é uma virtude colossal que a série seja capaz de coloca-lo em dúvida. A capacidade de “desprovar” a si mesma a protege da arrogância de não ver as consequências de sua própria filosofia.

Observações adicionais:

- “Altruism? Funny. I always thought it was about the power of creation”

✰✰✰✰✰ (5/5)

Person-of-Interest-A-house-Divided-Control-and-Greer-captured-by-Vigilance

Próximo Person of Interest: 3x23 – Deus Ex-Machina (13/05) [SEASON FINALE]

1 comentários:

Anônimo disse...

Eu simplesmente adoro as reviews do Anagrama, são as melhores! Concordo com tudo e também acho que POI não tem padrão de série de TV aberta, principalmente para o público da CBS e esse sempre foi o meu maior temor, de cancelarem a série. Achava que ela era para um público específico que não era o perfil do canal, mas milagres acontecem e ela tá aí, rumo a season 4 e espero que seja devidamente finalizada. Abraços!

Rafael