Nicole Kidman e Tim Roth, a Grace Kelly e o Príncipe Ranier de Grace of Monaco
por Caio Coletti
Filme de abertura: Grace of Monaco, de Olivier Dahan
O comentário mais gentil que se ouviria em Cannes sobre Grace of Monaco, filme de abertura do Festival desse ano, seria que, de tão ruim, o filme poderia ter um futuro como clássico kitsch. A trajetória da cinebiografia, rótulo que Nicole e o diretor Olivier Dahan (Piaf – Um Hino ao Amor) rejeitam com convicção, não ocorreu sem obstáculos pelo caminho: os descendentes da princesa Grace, incluindo a filha mais nova, Stephanie, expressaram repúdio pelo filme, e o diretor brigou com os produtores, os irmãos Weinstein, pelo corte final do longa. Acerca desse último boato o cineasta foi incisivo: “Só existe uma versão do filme e Harvey [Weinstein] vai lançar essa versão. Se houver alguma mudança a fazer, faremos juntos”, disse na coletiva após a exibição do filme para a crítica.
A polêmica com a família real de Mônaco foi tratada com tato por Nicole, que é 12 anos mais velha do que a princesa Grace seria na época retratada pelo filme: “Fico triste que a família de Grace tenha rejeitado o filme. Não tivemos malícia em relação a eles. Esta é uma ficção, não é uma biopic; precisamos tomar algumas licenças dramáticas. São seus pais retratados na tela, entendo que eles estejam buscando uma proteção de privacidade. Mas quero que eles saibam que minha performance foi feita com muito amor”, esclareceu ela. A estrela ainda revelou que hoje não vê o trabalho como o centro de sua vida, e que entende a decisão de Grace de deixar o cinema pela família (“Quando você tem filhos, descobre que é capaz de morrer por alguém. E quando você tem isso, todas as suas perspectivas mudam”).
Segundo o IMDb, a estreia de Grace of Monaco no Brasil está marcada só para 01 de Janeiro de 2015.
Quentin Tarantino, Nuri Bilge Ceylan, Uma Thurman, Timothy Spall e Bruce Wagner
Palma de Ouro: Winter Sleep, de Nuri Bilge Ceylan
Terceiro ano seguido em que a Palma de Ouro sai para um país fora do eixo EUA-Inglaterra, o grande vencedor da premiação esse ano foi o turco Nuri Bilge Ceylan, de 55 anos, que venceu pela primeira vez após quatro seleções anteriores para a disputa. Conhecido por filmes como Distante, Era uma Vez na Anatólia e 3 Macacos, o diretor trouxe à Cannes dessa vez uma épica meditação sobre a natureza humana e partes dela com o egocentrismo e manipulação. São 3 horas e 15 de filme, duração que, segundo a presidente do júri Jane Campion, meteu medo na plateia, mas a maestria de Ceylan acabou se revelando conquistadora: “O filme tem um ritmo tão bonito que me envolveu, eu podia ficar mais tempo ali. É como uma história de Tchecov, com os personagens se torturando o tempo todo”, afirmou.
A cerimônia de premiação apresentada por Quentin Tarantino e Uma Thurman (em comemoração aos 20 anos da Palma de Ouro de Pulp Fiction), laureou ainda o britânico Timothy Spall, conhecido como o Rabicho da saga Harry Potter, como Melhor Ator pelo papel-título de Mr. Turner, filme de Mike Leigh sobre um dos precursores do impressionismo nas artes plásticas. O título de Melhor Atriz ficou com Julianne Moore, a atriz atormentada por fantasmas do passado e do presente no irônico Maps to the Stars, de David Cronenberg, um dos filmes mais controversos de Cannes 2014 (vide o topless no tapete vermelho) – o roteirista do filme, Bruce Wagner, recebeu o prêmio pela atriz, que não estava mais na França.
Melhor Diretor: Bennet Miller, por Foxcatcher (EUA) - TRAILER
Melhor Roteiro: Oleg Negin e Andrey Zvyagintsev, por Leviathan (Rússia) – TRAILER
Prêmio do Júri: Xavier Dolan, por Mommy (Canadá)
Cámera D’Or (para cineastas estreantes): Marie Amachoukeli-Barsacq, Claire Burger e Samuel Theis, por Party Girl (França)
Un Certain Regard: O Sal da Terra, de Wim Wenders
Uma co-produção Brasil, França e Itália, documentário sobre a vida de um brasileiro notável, foi a grande vencedora da mostra paralela Un Certain Regard, sempre a mais concorrida de Cannes depois da seleção principal. O Sal da Terra era um projeto de Juliano Ribeiro Salgado, filho do lendário fotógrafo jornalístico Sebastião Salgado, que chamou o diretor alemão Wim Wenders (O Homem Urso, Asas do Desejo) para ajudá-lo a montar uma homenagem em forma de filme para o trabalho do pai. O resultado encantou o júri presidido pelo cineasta argentino Pablo Trapero, que concedeu o prêmio Especial do Júri ao filme, já garantido para distribuição americana e brasileira.
O prêmio principal da mostra ficou, no entanto, com White God, filme húngaro que chocou a plateia ao apresentar cenas violentas de ataques de cachorros selvagens no centro de Budapeste. O diretor Kornél Mundruczó já concorreu a Palma de Ouro duas vezes, mas esse é o primeiro prêmio que leva para casa. Os atores principais do filme, os cães gêmeos Luke e Body, ganharam a “Palma Dog”, brincadeira que premia os cachorros mais expressivos de Cannes. Party Girl acumulou, junto com a Camera D’Or, o prêmio de melhor direção da Un Certain Regard. O ator australiano Davil Gulpilil ganhou o troféu de melhor atuação pelo papel de um aborígene em Charlie’s Country.
O quê mais teve?
- Teve Quentin Tarantino comemorando 20 anos da vitória de Pulp Fiction na corrida pela Palma de Ouro e deixando os fãs eufóricos ao dizer que está pensando em filmar The Hateful Eight, projeto que abandonou em Janeiro após o vazamento de um rascunho do roteiro.
- Teve Ken Loach, um dos diretores preferidos de Cannes (são 12 seleções para a Palma de Ouro e uma vitória, por Ventos da Liberdade), desistindo de se aposentar após ver seu último filme, Jimmy’s Hall (TRAILER), ser ovacionado pelo público.
- Teve Steve Carell sendo o primeiro cotado para o Oscar de Melhor Ator do ano que vem pela atuação em Foxcatcher, na pele de um bilionário obsessivo.
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