por Caio Coletti
Na edição do mês passado da revista Rolling Stone Brasil, uma pequena matéria publicada sobre Godzilla destacava que o diretor Gareth Edwards teve como norte durante a produção encontrar “a jornada emocional dentro de um desastre natural” (leia a matéria completa aqui). É compreensível que se tenha esperado mesmo do diretor britânico uma abordagem como essa – seu único longa anterior, intitulado Monstros, é um suspense psicológico pós-apocalíptico que ganhou destaque por contornar problemas de orçamento e se concentrar nos personagens e na história que queria contar.
Parte de Godzilla também é assim, e não é que quando os monstros apareçam os humanos deixem de importar para o roteiro de Max Borenstein (Swordswallowers and Thin Men) – é que o autor do script elimina de forma sumária, no meio do filme, o próprio elemento que conduz a tal “jornada emocional” e que estava, por pura força de magnetismo, puxando o trabalho do filme (as atuações, a direção, a condução da trama) no sentido de sublinhar essa jornada. O novo Godzilla corta laços com a versão americana anterior, de 1998, para colocar o monstrão como o “herói” da história, exercendo sua função de predador quando duas criaturas nascidas das experiências humanas com radioatividade ameaçam a vida na Terra.
No meio de tudo isso, acompanhamos Ford (Aaron Taylor-Johnson, meio perdido em um papel que não lhe cai bem), um desarmador de bombas do exército americano que se vê em meio à confusão quando vai à Tóquio resgatar o pai (Bryan Cranston). Os dois são sobreviventes de um desastre em uma usina nuclear, que matou a mãe de Ford, interpretada por Juliette Binoche em participação decepcionantemente pequena. A trama, que viaja do Japão para os EUA (passando por Honolulu e, é claro, San Francisco), acerta ao mostrar só o bastante de Godzilla e dos dois monstros que ele combate, mas não se afasta tanto do filme-de-desastre comum quanto o diretor Edwards quer nos fazer acreditar.
Isso quer dizer que a patriotada continua aqui, mesmo que disfarçada em mensagem anti-bélica, e que todas as boas atuações são obliteradas por um espetáculo absoluto de efeitos visuais, e pela de fato excelente construção de personagem... em se tratando dos monstros. Não é sempre que se vê um filme disposto a admitir que a disputa entre três gigantes radioativos é mais profundamente caracterizada que a relação entre seus personagens humanos. Isso não é de todo um defeito, como o leitor pode pensar. Godzilla pode ser um filme muito envolvente quando quer, e sem dúvida sabe como mexer com a excitação do espectador. Só não é, como alguns poderiam estar esperando, um drama pulsante dentro de um invólucro de doce pirotecnia. Isso já seria bom demais para ser verdade.
✰✰✰ (3/5)
Godzilla (EUA/Japão, 2014)
Direção: Gareth Edwards
Roteiro: Max Borenstein
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Bryan Cranston, Ken Watanabe, David Strathairn, Juliette Binoche
123 minutos
0 comentários:
Postar um comentário