A vocalista Nastja e os “fios” que ligam os mundos das músicas do Ljon
por Caio Coletti
“Tudo começa em algum lugar. Talvez nas nuvens. E desce para terra, cresce, e se torna algo novo. Padrões evoluem. Então você não pode dizer com certeza onde estão as fronteiras. Essa é a ideia do Ljon, é sobre eu e você e os mundos entre nós”. Essas são as palavras que Nastja Sittig usa para justificar o nome do trio alemão Ljon, explicando ainda que “deve haver uma fluidez e uma pureza no momento de criatividade. É sobre se desapegar, deixar o espírito voar”.
Essas são pequenas prévias da entrevista que a moça nos concedeu. Vocalista, compositora e violão da banda, ela é residente da cidade de Cologne, na Alemanha, junto com os companheiros Erik (baixo) e Matthes (bateria), que completam o trio, oficialmente na ativa desde o final do ano passado. O primeiro álbum do Ljon, intitulado Salty Water, foi lançado por gravadora independente, e tira o título de uma citação da escritora dinamarquesa Karen Blixen, conhecida pelo pseudônimo Isak Dinesen:
“A cura para tudo é água salgada – lágrimas, suor ou o mar”
Dá para ouvir cinco das nove músicas do álbum de estreia no Soundcloud da banda (na playlist aí embaixo), e quatro dessas faixas estão disponíveis para download gratuito na página deles no Last.Fm (clique aqui). A gente recomenda, e muito, para quem curte asrtistas como Laura Marling, Björk, Joni Mitchell e Lykke Li, além de The Doors e Bob Dylan, que Nastja citou como referências fortes da banda.
Nastja sobre…
O começo na música
“Eu comecei bem cedo. Comparado com a fala, veio naturalmente, eu acho. Até hoje ainda é a forma mais fácil de me expressar completamente. Depois de uma pessoa muito próxima de mim falecer, eu comecei a compor. Eu tive que lidar com a dor e o desespero, então simplesmente saiu na forma de música. Até hoje eu preciso escrever canções para tocar na beleza e na dor da vida.”
O processo criativo
“Há múltiplas influências para as melodias e letras que eu escrevo. Como eu disse, elas vem dos mundos “entre nós”. Na maioria das vezes eu não consigo me lembrar como uma canção nasceu. Claro que minha criação russa teve uma influência forte nas harmonias e melodias que eu uso. Mas eu nunca escrevi uma canção pensando: a melodia tem que soar desse ou daquele jeito. Tem que haver uma fluidez e uma pureza no momento da criatividade. É sobre se desapegar, deixar o espírito voar.”
“Eu tenho que admitir que as letras do álbum, Salty Water, são em parte inspiradas por uma pessoa que continuou vivendo como um fantasma em minhas memórias, me encantando e assombrando. Mas no final é uma união de pessoas, momentos e impressões que tiveram uma influência forte sobre o jeito que eu sou agora.”
“Eu costumava escrever em alemão por um bom tempo. Mas eu comecei a escrever em inglês quando era adolescente, então de alguma forma (ao voltar a escrever em inglês agora) eu voltei para as raízes. Como o inglês não é minha língua nativa ele me dá certo espaço, distância e simplicidade. A maioria das letras que me influenciaram são em inglês. Mesmo assim, essa linguagem é como uma paisagem desconhecida para mim. E eu adoro explorá-la com os meus sentimentos.”
“Como uma banda, nós dividimos um processo criativo muito íntimo. Tanto Erik quanto Matthes são músicos incrivelmente sensíveis, cada um com um background musical muito único e diferente. Quando começamos a tocar e desenvolver nossas canções é como mergulhar nas almas uns dos outros. Eu sou muito feliz de tê-los como amigos e colegas de música.”
A relação do Ljon com a música contemporânea/mainstream
“Eu acho que não existe preto e branco. Há, certamente, grandes artistas na música mainstream hoje em dia. Mas a maioria dos músicos que eu admiro são aqueles que são independentes de uma certa indústria. A natureza da música é livre e independente para mim. Existem apenas alguns poucos artistas que conseguem se manter fiéis a si mesmos na indústria mainstream, eu acho. E eles tem personalidades muito fortes. Mas em geral, arte não acontece nas ‘grandes dimensões’. Acontece em cada momento, na nossa cozinha ou na nossa sala de estar, no universo do dia-a-dia”
“Eu decidi algum tempo atrás manter minha criatividade o mais independente possível. No momento eu estou trabalhando meio período em um projeto de arte inclusivo, e estudo serviço social. Isso me faz feliz porque eu, pessoalmente, preciso desse contra-balanço. Eu preciso me concentrar em algo além de mim mesma, arte e criatividade. Isso alimenta minha inspiração. Trabalhar com pessoas e ambiente diferentes de vida me preenche. Eu parei de me definir como uma artista ou uma musicista. Eu não gosto desse tipo de caixas em que as pessoas se apertam para caber. Eu prefiro ser eu mesma, o que quer que isso seja”
“No geral, eu acho que o Ljon está lá, do jeito que é. Vai continuar respirando e crescendo sem pressão nenhuma. Nós não estamos lutando para nos tornar nada além do que somos agora. Nós só estamos sendo quem somos, amando o que estamos fazendo e dividindo isso com os outros. Eu, por exemplo, amo ter contato próximo com as pessoas que ouvem nossa música, e me conectar com eles. Esse é um presente valioso”
A decisão de postar as músicas no Youtube
“Eu precisava dividir meus sentimentos. Foi simples assim. Eu me fiz muito vulnerável e também estava com medo de me colocar lá fora. Eu não quis fazer vídeos estilosos ou artísticos. Eu simplesmente queria capturar meus sentimentos de uma maneira crua e simples. O Youtube serviu como um meio de fazer isso. Eu comecei a fazer isso antes mesmo do Ljon existir como banda”
“Algumas pessoas podem gostar dos vídeos, e algumas não. Eu acho que o mundo ficou muito obcecado com ‘gostar’ e rankear as coisas em geral. O valor de algo está em si mesmo. Quando você está aceitando suas falhas como perfeição e suas fraquezas como força, não importa o que outras pessoas pensam, então você está ‘pronto’ (para dividir os sentimentos com o mundo)”
Sobre o futuro do Ljon
“Para resumir em uma das minhas citações favoritas, de Chris McCandless, pseudônimo Alexander Supertramp: ‘Eu acho que carreiras são uma invenção do século XX, e eu não quero uma’. E meu amado amigo Gry Bagoien costumava dizer: ‘O futuro está aqui’. Isso resume tudo”
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