20 de dez. de 2013

Review: Person of Interest, 03x11 – Lethe

PERSON OF INTEREST

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Lethe” é um episódio pivotal para a terceira temporada de Person of Interest, e não só isso, é o quinto episódio seguido que merece essa designação. No espaço dos últimos dois meses, Person tem desenvolvido sua trama de maneira espetacular naquele que pode muito bem ser o auge criativo da série, bem no meio do terceiro ano. E não só de acontecimentos chocantes como a morte de Carter (que ainda faz falta aqui) vive essa época de ouro da trama: é na lenta realização de todo um novo conceito para Person, quietamente desenvolvido nos diálogos e nas direções em que seus personagens são empurrados, que está o triunfo dessa temporada. É uma notável realização quando uma série de audiência espetacular, estabelecida como uma das grandes marcas da CBS, tem a coragem de colocar tudo o que compõe o seu núcleo mais fundamental em dúvida.

Desde a primeira temporada, a premissa fundamental tem sido bem simples: Finch e Reese, mais alguns outros cooptados pela causa, contam com a ajuda de uma máquina de vigilância para encontrar e tentar salvar vários civis que estão em perigo eminente. Se existia um problema nessa construção básica, embora a série nunca tenha deixado transparecer, era o quanto ela roubava dos personagens sua capacidade de decisão e ação próprias. Person sempre foi governada, mesmo com seu frio cinismo ao olhar o mundo humano, por um senso de destino e obrigação, por um desenvolvimento de plot essencialmente dirigido pela máquina, enquanto éramos deixados observando os humanos reagirem ao mundo que ela construía. Nessa terceira temporada, no entanto, se a Máquina é o Deus de Person, chegou a hora dos seus súditos contestarem a divindade.

Isso faz de personagens que já eram bastante bons ainda melhores, e a série ainda acertou ao esperar três temporadas para mostrar esse lado de sua trama, porque agora conhecemos Finch, Reese e companhia o bastante para entender de onde vem as suas ações quando estão agindo sozinhos, muitas vezes à revelia e até batendo de frente com a vontade da máquina. Por vezes, Person ainda tem a necessidade de mostrar que os humanos da sua história precisam se curvar diante da máquina, mas a relação deles com ela, de repente, se tornou muito mais antagônica e amarga. Essa mudança se personifica no agente do caos que é a Root da fabulosa Amy Acker, uma perigosa nova parceira/vilã que, junto à morte de Carter, representa a transição do momento em que fica claro que a máquina quer dar as cartas, mais do que qualquer coisa.

Mas vamos falar de “Lethe” (palavra grega para “esquecimento”, diga-se de passagem), episódio dessa semana que coloca o foco em Arthur Claypool (Saul Rubinek, de Warehouse 13, em uma performance fascinante), número dado pela máquina e relutantemente aceito por Finch, tanto por pressão de Root quanto de Shaw. A série tira um ótimo momento da cena inicial, em que o personagem de Michael Emerson anda pelas ruas e se recusa a atender os orelhões que a máquina faz tocar, amarrando o episódio com os acontecimentos anteriores da temporada e mostrando que Finch foge de qualquer responsabilidade com o mundo após provar das consequencias. De qualquer forma, Claypool, logo descobrimos, é um ex-funcionário da NSA que, devido a um tumor no cérebro, se torna uma potencial e fácil fonte de informação para qualquer grupo rival disposto a se aproveitar da psique frágil do moço.

Uma míriade de reviravoltas de roteiro são amarradas com firmeza por Erik Mountain, que assina o script do episódio e adiciona no tempero uma série de flashbacks para a infância e adolescência de Finch, lidando com um pai (Tuck Mulligan) que tem os mesmos sintomas de Arthur. Não só Mulligan está ótimo no papel, como o subplot dá à criação de Harold e a sua complexa relação com ela uma nova e mais humana perspectiva, traçando a vontade de criar uma máquina que pudesse pensar por si própria diretamente com a doença do pai e a necessidade de “consertá-lo”. Ao mesmo tempo, uma mão cheia de cenas mostra como Reese está lidando com o mesmo tipo de comportamento que Finch teve na primeira cena do episódio, fugindo das responsabilidades para bem longe até que Fusco chega em seu “socorro”. Caviezel encaixa bem a amargura e a perda de propósito que surgem em Finch nesse pós-luto, e parece grato pela oportunidade de deixar seu personagem respirar um pouco emocionalmente.

“Lethe” deixa todas as suas tramas suspensas no ar, incluindo a revelação de que a mulher que esteve posando como a esposa de Arthur, Diane (Camryn Manheim, de Ghost Whisperer, se divertindo no papel), é na verdade a antiga chefe de Shaw, e portanto primeira em comando do time do governo que deseja controlar a máquina. Misture isso com uma rápida aparição do grupo Vigilance, que decididamente se encaminha para ser o grande antagonista do final da temporada, e o episódio é um mid-season finale mais do que digno para uma série que está quente em uma sequencia de excelentes episódios. Person of Interest volta só em 7 de Janeiro, e poucas vezes uma espera foi tão torturante.

Observações adicionais:

- Shaw lidera o trabalho de campo na trama da semana, já que Reese está em seu momento revoltadinho. É testemunha do bom desenvolvimento da personagem – e da habilidade de Sarah Shahi em ser verdadeiramente badass – que isso não conte como desvantagem para o episódio.

- A mistura de amargura e medo na atuação de Michael Emerson quando finalmente se encontra com Arthur, que descobrimos ser um antigo colega de faculdade de Finch, ilumina uma visão desse personagem como um homem torturado pelo passado, que amargamente encontra-se com outro que vive quase integralmente nele.

***** (5/5)

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