ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
E aqui estamos, na metade da primeira temporada de Mom, com a série nos dizendo “até logo” até o meio de Janeiro em um episódio que é tão tipicamente dela que fica difícil argumentar contra o ponto de que Mom construiu sua identidade com perícia que poucas séries estreantes tiveram nessa fall season. “Corned Beef and Handcuffs” tem o tipo de roteiro que sai da linha de produção de Chuck Lorre e cia sem esforço: uma trama desenhada em meros rabiscos, pontuada por longas digressões cômicas, se desenvolve em tela para dizer algo sobre o tema e os personagens da série. Sim, ainda estamos no primeiro ano, e há muito o que dizer sobre esses personagens que não sabemos, mas não vamos chorar pelo que ainda não foi feito. Hoje, Mom nos dá muitos motivos para festejá-la.
Primeiramente, a aguda consciência que a série tem de si mesma e do que precisa ser realçado ou tirado de foco na sua história inicialmente multifacetada é um bônus. “Corned Beef and Handcuffs” maneja muito bem o problema do ambiente de trabalho, dando ao cenário um uso lógico e entrelaçando um dos elementos dele na trama principal, que precisa ter certeza de estar sempre focada em uma ou mais das personagens femininas fortes construídas pelos escritores. O eleito para fazer essa “migração” é, justificadamente, o Chef Rudy de French Stewart, um dispositivo cômico sempre eficiente que ganha um episódio todo para mostrar o quão valioso pode ser para Mom.
Em alguns sentidos, “Corned Beef…” é o show de Stewart, que consegue expandir a sua performance “de uma nota só”, vista nos outros episódios, para um tipo de comédia física ao mesmo tempo contida e extremamente gráfica, instintiva para o espectador. O carisma do ator de 3rd Rock From the Sun é evidente, e seus momentos com Allison Janney são brilhantes jogos de cena entre dois intérpretes maravilhosos. Uma vez que o final do episódio dá a entender que esse estranho e sadomasoquista relacionamento entre os dois deve se tornar algo recorrente, é bom que, além de uma desculpa para ter Janney e Stewart contracenando, a trama seja um adicional bacana para a discussão de Mom sobre as barreiras da “decência”.
Ao posicionar no centro do palco personagens como Bonnie e Christy, alcoólatras reformadas que tentam seguir suas vidas com obstáculos estressantes e manter o bom humor, Mom já se fez uma sentença bem forte. No entanto, a série se presta a discutir o quanto nossa sociedade olha para esse tipo de pessoas como “degenerados”, descobrir o porquê dessa percepção, e então virar do avesso a relevância de questões como sexualidade, religiosidade e dignidade. Quem diria que uma comédia tão sutilmente inteligente nasceria da mente do homem que nos “deu” Two and a Half Men?
Observações adicionais:
- “I’m not happy with how my urine smells” “Then stop smelling it!”
- “I will bid you adieu” “À la prochaine” “Yeah. I just know adieu”
- “He’s gonna eat her?”
- “Walk of shame?” “Stride of pride”
- “I don’t know, it’s a tomato thing!”
- A montagem nesse episódio está um pouco estranha, com partes que atrapalham o desenrolar da história, cortes bruscos e a mania de filmar atores em pleno diálogo em “shots” individuais. Não é um bom sinal para Jon Cryer, o Alan de Two and a Half Men, que já testou a mão na direção na própria série.
***** (4,5/5)
Próximo Mom: 01x13 (13/01)
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