17 de dez. de 2013

Review: Masters of Sex, 01x12 – Manhigh

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

É magistralmente apropriado que essa primeira temporada de Masters of Sex termine em um momento tão silenciosamente sincero quanto o diálogo entre Bill e Virginia, à porta da casa dela, com uma chuva torrencial do lado de fora, quando o Dr. Masters, olhos um pouco desfocados pelo álcool, cabelo e terno desarrumados pelo clima, profere as últimas palavras desse primeiro ano do programa: “I finally realized that there is one thing I can’t live without. It’s you”. Apropriado porque no caminho dessas doze semanas acompanhando a jornada desses personagens, Masters aos poucos passou de um show nada sutil para um dos dramas mais afeitos a passar seu ponto com discrição. “Manhigh”, o finale do qual tratamos agora, é o ápice dessa tendência mais do que bem-vinda que os escritores da série absorveram, de não fazer alarde nem apressar os acontecimentos da trama.

Masters of Sex, em sua trajetória de série estreante, se tornou um lugar especial na televisão em que a uma trama é dado o luxo de tempo e espaço para respirar antes de conduzir os personagens a determinadas ações. Previsivelmente, dessa forma essas ações se tornam muito mais compreensíveis, e num momento de decisão como esse episódio derradeiro da temporada, isso fica evidente: nós entendemos porque, no final do episódio, após ter o seu bebê em uma maternidade de um hospital para negros, Libby não se apressa em chamar Masters para dar a notícia; entendemos porque Jane se sente tão atraída por Lester e seu idealismo às vezes bobo, mas integralmente romântico; entendemos porque Margaret, após saber que o marido estava pensando em procurar tratamentos para a homossexualidade, vai aprender mais sobre o assunto e acaba acconselhando-o a não tentá-los; entendemos porque Bill puxa a culpa para si quando ele e Barton são confrontados pelo chanceler da universidade sobre o estudo que foi realizado pelas costas do mesmo (e cujos resultados causaram revolta na comunidade médica). Não são motivos fáceis de por em palavras, mas eles estão lá, inescapáveis para quem esteve com esses personagens. Essa é uma mágica que existe dentro do processo narrativo, mas raramente é acessado e exigido de maneira tão paciente pelos escritores.

O episódio todo é construído em cima da grande apresentação do trabalho de Bill, que agora se aproxima. Um breve prólogo resolve algumas questões e coloca as peças no lugar, o segmento dedicado a apresentação em si brilha com uma luz fascinante de expectativa e excitação da descoberta, mas o estágio mais importante vem depois. Curioso como Masters faz com que as consequências de recepção ao estudo de Bill sejam o ponto principal da trama, porque essa decisão não só aumenta os riscos para os personagens no finale, como lhes dá uma “conclusão” mais ou menos encaixada, e também mostra que o nome do meio dessa série é ímpeto narrativo. As coisas nunca param de se mover em Masters, e existe muita realidade nisso, especialmente nos paralelos sempre presentes entre o âmbito social e as particularidades dos personagens, uma das espinhas dorsais da temporada, e um aspecto amplo que é muito bem explorado aqui.

Aí entra também um aspecto da série que eu particularmente sempre achei fascinante: em sua discrição dramática, Masters também é uma operística tragédia de limites sobre personagens que se colidem com concepções e preonceitos sociais parecidos, e provocam conflitos que são exclusivamente derivados de ideias que não são nem mesmo totalmente deles. Essas são pessoas que estão constantemente se colocando no caminho de complicações e circunstâncias dramáticas, e isso é tristemente fascinante de observar, e um prato cheio para o elenco.

Michael Sheen tem feito um trabalho tão magnífico durante toda a temporada (a indicação ao Globo de Ouro que o diga) que esse finale parece um floreio a mais para adicionar a sua atuação, com um toque de vulnerabilidade e uma pincelada de amargura; Lizzy Caplan, apesar das limitações de seu personagem, tem feito um bom trabalho e tira o máximo que pode dos momentos em que pode mostrar a Virginia verdadeiramente humana – seja na ligeira ansiedade que está em seu entusiasmo científico, seja nos olhos duros que vem a tona quando Ethan a pede em casamento. Allison Janney entrega cena comovente atrás de cena comovente, mas por tudo o que se fala dela nas críticas de Masters, pouco de falou de Beau Bridges. O “irmão do Jeff” passa pelo choque, pelo arrependimento, pela angústia e pelo afeto desmedido de mãos dadas com seu personagem, e  nesse processo extremamente transparente deixa escapar todos os conflitos que o Barton escancara no espectador contemporâneo.

É ao seguir o tom de Bridges que Masters finalmente mostra a que veio na sua vontade de discutir a homossexualidade. O tema, afinal, é essencial para o alcance de uma série que discute o comportamento sexual e a intimidade humanas, e faltava tratá-lo como tal. Aqui, a roteirista MIchelle Ashford prefere não isolar Barton e Margaret em sua sub-trama própria, e ao invés disse interliga a evolução do personagem de Bridges com a da percepção sexual estimulada pelos estudos do Dr. Masters. Esperemos que a série pegue carona com essa tendência do finale, porque a discussão homossexual é um belo adendo a uma já boa paleta de cores. Por fim, “Manhigh” é sobre a força que a sensação de descoberta pode provocar. É sobre essa força reagindo tanto sobre a sociedade quanto particularmentr sobre os personagens. E é uma sinfonia tão bem arranjada quanto todo o restante da temporada.

Observações adicionais:

- Michael Diner assume a direção no finale, e arquiva um trabalho de câmera classicista e muito bem pensado, com longos takes e uma linguagem bastante cadenciada. Até o jogo de fugas e entreolhares de Bill e Virginia ganha contornos mais amargos em seu tratamento visual.

- Com o “crescimento” da Dra. De Paul como personagem, a série aperta novamente o botão do “mulheres tem que fazer mais”, mas deixa claro que isso só é uma realidade para essas mulheres porque elas mesmas não se dão conta do preconceito imposto a elas. On the other hand, a série sugere que a Dra DePaul realmente PRECISA fazer mais por si mesma se quiser chegar onde quer.

- É notável que Masters não perca o humor. Sheen é ótimo em virar do drama para a comédia sem uma mudança de tom muito desorientadora de personagem, e Heléne Yorke está fabulosa como sempre.

***** (5/5)

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Masters of Sex está confirmada para uma segunda temporada!

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