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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
“If you can’t save her, you’re of no use whatsoever”. Seria uma boa ideia para The Blacklist manter o roteirista J.R. Orci por perto. Até o momento, na metade da temporada, nenhum outro escritor (nem mesmo o criador Jon Bokenkamp) entendeu melhor a grande série que essa trama pode gerar se apertar os botões certos. Como mostra a experiência anterior do moço em Fringe, Orci é um homem que sabe exatamente onde estão esses botões, e “Anslo Garrick, Part 2” é em grande parte tão bom porque ele está por perto para encontrar o caminho até eles. No meio tempo, o roteirista ainda acha tempo para jogar com as peças de xadrez no tabuleiro de The Blacklist um jogo mais amplo, ainda priorizando francamente os dois protagonistas, mas reconhecendo a materialidade das pessoas ao redor deles.
Boas notícias para a Agente Meera Malik da ótima Parminder Nagra, a quem a série andava devendo algum espaço a mais; e, claro, para o Agente Ressler de Diego Kattlenhoff. O problema com esse último é que, mesmo com um material bastante razoável, o ator não é capaz de fazer muito com o que lhe é oferecido – faltou senso de oportunidade, vivacidade e garra. Até o pobre Harry Lennix, reduzido a condição de fantoche de Red em muitos dos outros episódios, é presenteado com alguma responsabilidade, embora se mantenha numa estranha e hesitante área quando se trata da elaboração moral do tema.
The Blacklist é ém muito sobre a inversão dos valores de justiça entre aqueles inseridos em uma organização governamental e os criminosos. O slogan “never trust a criminal… until you have to” já prenunciava isso, e ao menos nesse aspecto a consistência da série tem sido exemplar. O que Orci faz nesse sentido, especialmente ajudado pela personagem Diane Fowler (Jane Alexander is back!), é introduzir dúvida, tons de cinza e complicações éticas. Nas mãos dele, The Blacklist não é uma narrativa vista “de só um lado”. Por mais que seja divertida e tenha suas virtudes dessa forma mais simplista, a série, como qualquer outra, ganha pontos com o expandir dos horizontes.
Outro elemento de consistência para a série não falha em “Anslo Garrick, Part 2”, que começa de onde paramos semana passada, com Liz sendo capturada pelos capangas de Garrick, o que leva Red, é claro, a abrir a caixa de proteção e se entregar ao inimigo, em troca da vida da agente. Em todo o tempo em que isso se desenvolve, e depois, James Spader está absolutamente fabuloso, numa atuação elástica e bem estruturada que combina carisma com uma força de espírito talvez sem precedentes na atual televisão americana. Seu Red é um anti-herói orgulhoso, muito mais do que um vilão, e isso serve aos propósitos pulp e conceituais de The Blacklist como uma luva.
Por falar em pulp, o episódio ainda oferece dois momentos gloriosos para os amantes desse lado da série: o primeiro é o embate sórdido e violento entre Red e Anslo, que termina com uma cena de morte e fuga genuinamente cool e que fecha bem o arco de um dos melhores vilões que The Blacklist já teve; o segundo é o monólogo de um Alan Alda deliciado consigo mesmo, no papel de um misterioso chefão de uma igualmente misteriosa organização que, ao que parece, foi o motivo de Red ter sumido da vida de Liz e da família vinte anos atrás. Embora o personagem negue na conversa por telefone com Liz, The Blacklist há muito tempo passou do ponto em que a paternidade da personagem de Megan Boone está em dúvida. Seguindo sua política de franqueza com o público, a série faz desse momento uma outra questão, muito mais intrigante: o que um pai teria a esconder de sua filha?
Observações adicionais:
- A perseguição e a cena toda da ambulancia ainda estão entre as melhores sequencias de ação da temporada.
- É muito legal, mais do que as pessoas dão crédito, que as grandes questões de The Blacklist estejam nos motivos dos personagens, e não nos fatos que os cercam.
***** (5/5)
Próximo The Blacklist: 01x11 – The Good Samaritan Killer (13/01)
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