5 de dez. de 2013

Review: Masters of Sex, 01x10 – Fallout

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Toda narrativa é desimportante. No nosso microcosmo de receptores dos produtos da criatividade humana (cinema, literatura, TV, música), muitas vezes nos tornamos tão envoltos nas mecânicas dessa relação complexa entre o homem e a história ficcional, que nos esquecemos do quanto os barbantes que escolhemos percorrer são insignificantes perto da imensidão daqueles que escolhemos não percorrer. Cada narrativa nada mais é do que uma em infinitas possibilidades, um produto tanto do destino, quanto da manipulação humana, quanto do acaso. Pode até ser magnífica, mas é só uma.

“Fallout”, esse décimo episódio de Masters of Sex, é especialmente impressionante porque nos lembra disso com a crueldade característica da série. E não é algo que fique só na experiência subjetiva daqueles que se importam com a própria definição de narrativa (embora, mesmo que só assim, o episódio já seria aterrador); existe nessa realização uma nova perspectiva para olharmos os personagens. Tão ocupado com os dramas e “fins do mundo” de seus protagonistas que está, Masters of Sex se dá ao luxo de reconhecer que, caso o mundo todo realmente acabasse, eles todos seriam apenas números. Advem dessa realização que, afinal, nós não somos nada diferentes deles nesse sentido.

O grande triunfo do episódio está nessa sua ambientação: durante o decorrer dessa tensa hora de Masters, o hospital em torno do qual a maioria dos nossos personagens gravita está passando por um teste anti-bomba-nuclear, no espírito paranoio da Guerra Fria. Essa decisão do roteiro de Sam Shaw (um novato extremamente promissor, vide “Catherine”, episódio 5 dessa mesma série) contamina virtualmente todos os fatores que fazem do episódio o que ele é. A começas pela direção de Lesli Linka Glatter (Homeland), que escolhe planos longos e bem pensados, e instala em tudo um clima de thriller noir que, além de apropriado, é também um respiro para a série, que sai da sua zona de conforto e prova a excelência em um ambiente novo.

Em meio ao ensaio apocalíptico, observamos quase todas as storylines da temporada convergirem para um ponto em que tendem só a escalar até o finale, daqui a duas semanas. A série acerta ao colocar os personagens em um período de inferno astral antes do episódio final, porque dá espaço para a narrativa respirar nas próximas duas horas e concluir esse seu primeiro ciclo de forma mais consciente. O clima entre Bill e Virginia continua pesado, e a chegada de uma voluntária do estudo (Ashley Johnson, de The Help) que se diz grávida do homem com quem foi pareada é o estopim de uma divisão moral ainda maior, que leva a um momento de sinceridade avassaladora que serve a Lizzy Caplan material muito mais interessante do que boa parte da temporada até agora. Ouvir Virginia admitindo que o que ela e Bill estavam fazendo não era “só pelo estudo”, que na verdade nunca foi por ele, é uma admissão de fragilidade que só a torna mais gigantesca. Esse é o tipo de trabalho que a série precisa fazer mais com a personagem, e colocar ela ao lado da Dra. DePaul da fabulosa Julianne Nicholson daqui pra frente pode ser um bom caminho nesse sentido.

Não por coincidência, a gota d’água para Virginia e Bill é também um momento definidor para o Dr. Langham, uma vez que se descobre que o pai da criança é ele. O papel desempenhado pelo personagem de Teddy Sears na sinfonia de culpa, desejo, autoridade, resolução e insignificância dos últimos 15 minutos do episódio é quase simbólico. O roteiro o coloca, nesses momentos finais, se reencontrando com Margaret, enquanto essa digere a informação recém-descoberta de que o marido é gay. Masters tem sorte que Allison Janney esteja entregando uma atuação tão inspirada aqui, porque a inconsistência é clara: a mulher que estava no episódio anterior reafirmando a necessidade do divórcio agora procura uma prostituta para tentar saber como agradar ao marido na cama. Damos um desconto porque esse desenvolvimento culmina em uma setpiece de quebrar o coração, com Margaret percorrendo o quarto do marido, num realce da solidão da personagem e exemplo perfeito de comunicação narrativa puramente visual.

A última ponta solta a ser amarrada para o finale é o Dr. Haas, e mesmo com o pouco esforço de Nicholas D’Agosto em torná-lo menos superficial, o roteiro consegue colocar o personagem na história de maneira orgânica e satisfatória, dando dicas do seu comportamento subserviente em relação a Virginia e até dando-o um confronto definitivo com Bill. Essa cena em especial, aliás, é exemplo primário de como a série consegue sempre ver múltiplos lados de uma situação e analisar seus personagens sem julgá-los como certos ou errados. Em alguma medida, seja ela ética, emocional, psicológica ou social, todos eles caminham pelos dois lados dessa oposição.

Observações adicionais:

- A ausência sentida dessa vez é de Caitlin FitzGerald como Libby. É impressionante como a série constriu solidamente seu casting, a ponto de nos familiarizarmos com ele tão rápido.

- Jane e Lester são um casal pra shippar em Masters! YES!

***** (5/5)

Julianne Nicholson as Dr. Lillian Depaul in Masters of Sex (season 1, episode 10) - Photo: Patrick Wymore/SHOWTIME - Photo ID: MastersofSex_110_0973

Próximo Masters of Sex: 01x11 – Phallic Victories (08/12)

Caio

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