por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Se você ainda não está assistindo The Americans, não deve fazer nem ideia de que está perdendo um dos melhores dramas na televisão americana em um tempo considerável. Talvez desde Lost uma série não lidasse com seus personagens de maneira tão delicada e não estabelecesse um tema tão pungente e intrigante para guiá-los. No episódio dessa semana, intitulado apropriadamente “Duty and Honor”, a série consegue a proeza de voltar para o seu tema mais intrínseco (o paralelo entre a espionagem e o casamento) e ainda nos dar uma visão diferente de como essa trama encara-o. Aqui, fica claro que, num escopo maior, The Americans é sobre pessoas que aos poucos desacreditam de tudo aquilo que um dia foi o princípio e a perspectiva dominante em suas vidas.
Isso é mais sutil (e ao mesmo tempo mais evidente) no personagem de Keri Russell, a dedicada e rígida Elizabeth. Embora tenham havido reclamações quanto a forma com que a série a colocou como “a vilã” das tramas dentro da relação do casal protagonista, nesse sétimo episódio fica claro que o quê de frieza da moça esconde um lado que, como ela deixa transparecer numa linda cena no final de “Duty and Honor”, “quer que isso seja real”. O time de roteiristas que a construiu assim recebe a ajuda fundamental de Russell, que pode ser figurinha fácil nos próximos Emmy e Globos de Ouro se manter esse nível absurdo de performance. Nas suas mãos, Elizabeth é uma pilha de nervos com olhos compenetrantes e decisivos, mas é também uma mulher que nunca pôde escolher o rumo da sua própria vida, e por isso se agarra ao rumo que escolheram por ela.
“Duty and Honor” mostra também um lado de Phillip que ainda não conhecíamos, e o trabalho sempre sólido de Matthew Rhys ganha destaque ainda maior, especialmente porque os roteiristas não estão tão certos de que tom dar a seu personagem. Rhys, por outro lado, mostra segurança e empresta coesão a ele quando a fonte não ajuda. Por exemplo: na cena em que Phillip reage a notícia de que tem um filho com a ex-namorada soviética, nascido há quase vinte anos, de forma furiosa (espancando-a), mas depois revelada como fria (o tal espancamento estava dentro dos planos para derrubar um ativista anti-socialismo polonês em visita aos EUA). A subsequente traição de Phillip, que acorda na manhã seguinte com a ex-paixão na cama, é inesperada e um tanto fora do personagem. Mas Rhys faz funcionar cada segundo. Seu olhar que preenche os últimos segundos do episódio é definidor nesse sentido.
Porque se The Americans é sobre mudança de perspectivas e como ela é um processo árduo, “Duty and Honor”, na verdade, é sobre dois “casamentos” arruinados. Enquanto ganha uma subtrama de espionagem toda sua, Elizabeth também tem a oportunidade de jantar na casa dos Beeman, evento para o qual Stan nunca aparece, e ver de primeira mão o relacionamento complicado dos dois. Enquanto isso, em um paralelo de cenas brilhante (créditos ao roterista Joshua Brand e ao diretor Alex Chapple, que acerta no tom opressivo da encenação), o próprio Stan comete o adultério mais que antecipado entre ele e a informante Nina.
Talvez essa seja a pista de The Americans para colocar em conflito e em transformação os únicos personagens que estavam definidos a ferro e fogo desde o início: Phillip não está mais tão certo sobre seu casamento com Elizabeth, e Stan tampouco parece satisfeito com os entremeios morais do trabalho no FBI agora que sua informante tem um relacionamento mais próximo com ele. The Americans segue a regra de ouro da narrativa: entende que o que a movimenta é a dúvida.
***** (5/5)
Próximo The Americans: 01x08 – Mutually Assured Destruction (20/03)
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