por Caio Coletti
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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Da forma como esta se estruturando em sua serialização, The Americans tem o potencial de entregar uma trama instigante e significativa a cada semana. “COMINT”, quinto episódio dessa primeira temporada, mantem o nível de qualidade insano estabelecido pela série, envolve e engaja o espectador na tribulação dos Jennings (tanto a pessoal quanto a prática), e ainda dá mais uma oportunidade para Keri Russell mostrar porque é uma das atrizes mais subestimadas de sua geração. Em suma, The Americans continua sendo uma das melhores coisas no ar na televisão americana no momento.
A trama dessa semana foca em um agente disfarçado da KGB, Adam Dorwin (o ótimo Michael Countryman), que começa a perder o controle após a morte da esposa e, os chefes temem, pode ameaçar o próprio disfarce. A solução óbvia seria arranjar um encontro entre Dorwin e seu contato costumeiro na embaixada russa, mas os figurões da KGB estão em estado de alerta por não possuirem mais o código de rastreamento do sistema de comunicação do FBI. Logo, cabe a Phillip e Elizabeth encontrar um jeito de roubá-lo antes que seja tarde demais e Dorwin surte de vez.
O roteiro dessa vez ficou por conta da estreante Melissa James Gibson, que lida bem com a trama de espionagem, produzindo pelo menos dois momentos de tensão excelentemente conduzidos, e consegue nos prover um novo insight nos problemas do relacionamento complicado dos Jennings. Ela retorna a uma questão muito abordada por The Americans nesse começo de série: o uso do sexo como forma de conseguir informação necessária ao trabalho de espionagem, e as consequencias disso nos relacionamentos “de verdade” dessas pessoas. Aqui, três tramas paralelas tocam discretamente ou não nesse assunto: Phillip e seu relacionamento com a informante no escritório do FBI, Martha (Alison Wright), Nina (Annet Mahendru, cada vez melhor) conseguindo informações para o Agente Beeman através da sedução do próprio chefe, e Elizabeth passando por maus bocados nas mãos do dono da empresa de segurança contratada pelo FBI.
É interessante que The Americans tenha percebido que não funciona bem colocar Elizabeth como a vítima, mas tampouco é preciso deixar de lado a faceta delicada da personagem (em boa parte provida por Russell). A contraparte feminina do casal principal vem se tornando cada vez mais a peça mais fascinante dessa série, algo ajudado pela excelente química entre a atriz e o companheiro de cena Matthew Rhys, que achou o tom perfeito de seu personagem desde o início. The Americans corrige aqui um de seus (poucos) erros de início de temporada. E mostra que pode ficar ainda melhor.
***** (5/5)
Como série absurdamente competente que vem sendo, The Americans sabe que o conflito que está no cerne de sua narrativa não pode, de forma alguma, ser resolvido de uma hora para a outra. Escapando da armadilha de transformar a série em uma repetição eterna de divergências e conciliações, “Trust Me” mostra duas coisas: primeiro, que os roteiristas estão prestando atenção nos múltiplos elementos e detalhes da trama, fato denotado pelo resgate de um ponto de plot que parecia esquecido ultimamente; segundo, que ainda há muito para analisar, revelar e explorar nos personagens principais. As três tramas paralelas, ligadas apenas por uma temática parecida, fazem um ótimo trabalho nisso.
A frente de “Trust Me” está a história do Agente Beeman e de sua informante na KGB, Nina. A relação entre os dois vem sendo desenvolvida pela série com a mistura certa de cumplicidade, repulsa e tensão sexual, e atingiu um ponto de definição em “COMINT”, uma vez que os chefões de Nina começaram a suspeitar da existência de uma informante em suas fileiras. Em “Trust Me” as linhas se borram ainda mais nas partes em que Beeman e Nina dividem a cena, e ajuda que Noah Emmerich e Annet Mahendru estejam brilhantes por si próprios, mas fiquem ainda melhores juntos. A grande jogada do roteiro de Sneha Koorse (Warehouse 13) é inserir a cena derradeira entre Beeman e sua esposa, a delicada Susan Misner, para balancear a óbvia fascinação do agente por Nina.
Claro que toda a suspeita da KGB quanto a um informante atinge também os Jennings. Phillip e Elizabeth são sequestrados logo no início do episódio, e a trama insere uma viarada no jogo não tão inesperada quando revela a Claudia de Margo Martindale, que vem distribuindo missões e informações para o casal nos últimos episódios, como a mandante da operação. O objetivo de determinar a fidelidade dos Jennings é completado, mas não sem antes Elizabeth mostrar porque não é só a ingenue da relação. Apesar de esse ser um episódio argumentadamente melhor para Matthew Rhys do que para Keri Russell (e ele faz um trabalho brilhante como sempre), The Americans parece ter aprendido a equilibrar as simpatias do público e o balanço de ação entre os dois personagens. E a revelação de Elizabeth quando os dois saem do cativeiro é justamente o conflito emocional que a série precisava.
Em seis episódios, The Americans conseguiu o feito de envolver seus espectadores e desenvolver seu mundo e seu ambiente de uma forma que algumas séries passam temporadas para conseguir (isso se conseguem). Mal da pra esperar pelo que vem a seguir.
***** (4,5/5)
Próximo The Americans: 01x07 – Duty and Honor (13/03)
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