6 de out. de 2011

Review: Unbroken – Duas visões sobre o novo álbum de Demi Lovato.

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Caio Coletti – **** (4/5)

Demi Lovato não é a mesma garota da Disney que todos conhecemos com Camp Rock ou, para os mais desligados desse mundo, com algum dos singles de Don’t Forget ou Here We Go Again. Quando o seu primeiro álbum saiu para surpreender pelo menos a parte mais atenta da crítica com um som mais encorpado, uma personalidade mais própria e um potencial vocal mais interessante do que as investidas de seus colegas de “geração Disney” Jonas Brothers, Selena Gomez e Miley Cyrus, Demi tinha 16 anos e cantava sobre estar se adaptando a posição de ídolo adolescente, sobre paixonites da juventude e sobre afirmação de personalidade. O lançamento de estúdio seguinte, Here We Go Again, mostrou que Demi estava disposta a experimentar bastante com o meio musical. De certa forma, musicalmente, Unbroken não foge do caminho natural dessa evolução.

Quando abre com “All Night Long”, que coloca já na primeira faixa os talentos de Missy Elliott e Timbaland para funcionar juntos ao dela, e abre caminho para as três faixas seguintes (“Who’s That Boy”, “You’re My Only Shorty” e “Together”), Demi quer nos dizer que não é mais só a estrela mais rock n’ roll da Disney. Aos 19 anos, ela sabe se virar muito bem no R&B, tem voz para as ambições que traça e sabe se cercar das pessoas certas. Nessa leva de quatro primeiras músicas o único erro (e talvez seja mesmo um caso isolado em todo o Unbroken) é “Who’s That Boy”. Para uma faixa que tem trabalhando ao seu favor os talentos incontestáveis de Dev e Ryan Tedder (ela, já referência obrigatória na música eletrônica atual; ele, um dos maiores compositores pop do nosso século), a segunda do setlist do álbum erra ao não dar o devido destaque ao vocal de Demi, e ao se mostrar, essencialmente, rasa.

Esse primeiro bloco do álbum fecha brilhantemente com “Lightweight”. A última contribuição de Timbaland na produção é talvez a melhor balada do Unbroken, e é aqui que é trazida a tona a imensidão do potencial de Demi como vocalista. O refrão é de dar arrepios, e a produção é absurdamente criativa, quase toda construída em cima de diferentes harmonias vocais. É até interessante notar o link temático entre “Lightweight” e sua sucessora, “Unbroken”. A faixa-título é a primeira demonstração de que a cantora não pretende só arranhar no terreno da música eletrônica. Aqui o mergulho é fundo. Produção e composição são bem polidos, e faz toda a diferença ter Demi, e não Selena Gomez ou Ke$ha, nos vocais.

É aí, nessa dualidade com a qual os críticos tanto se preocuparam, que reside a autenticidade de Unbroken: a mensagem de Demi é que ela já esteve por baixo, e que todo mundo um dia vai estar, mas que a mudança não é o fim, e sim uma oportunidade de se construir de volta, mais forte, num lugar diferente. Por isso “Skyscraper” é tão simbólica e fundamental nesse setlist. Aqui, a power ballad perfeita, a escolha brilhante de tê-la como um primeiro single e o apelo que os vocais abalados de Demi tem com o ouvinte (o que só torna as notas que ela alcança no climax da música mais notáveis, diga-se de passagem) trabalham junto com a missão de sintetizar tudo o que Unbroken realmente quer dizer. “Go on and try to tear me down/ I will be raising from the ground/ Like a skyscraper”. Não é sobre para quê ou para quem o desafio é dirigido. É sobre o que ele significa.

Entre pequenas pérolas otimistas (destaque para as ótimas “Hold Up”, “Give Your Heart a Break” e “In Real Life”), Unbroken é sobre seguir adiante. E talvez por isso resolva deixar o gosto amargo de uma canção tão triste, tão autêntica quanto “For The Love of a Daughter” como a última impressão do ouvinte. A emoção é natural de uma letra que tem muito de autobiográfico e retrata Demi com 4 anos, lutando contra os problemas de alcoolismo do pai. Não é uma canção que saia da memória fácil, e é um lembrete muito oportuno de que, se está falando de dar a volta por cima, não é como se não se importasse com isso que Demi o faz. Ela viveu o que conta. Ainda que em curtos 19 anos. Ainda que seja, é claro, uma compositora que vai amadurecer muito. Mas se tem algo que Demi não é, e não se permite ser em momento nenhum, é uma encenação. Unbroken representa o que ela é, e o que ela sempre vai ser, independente das experimentações musicais que fizer. E só isso já é o bastante para torná-lo acima de qualquer suspeita.

Guilherme Jales – **** (4/5)

O retorno de Demi Lovato com Unbroken era esperado mesmo por quem não é fã da cantora e apenas conhece uma ou outra música. Afinal, é a sua volta depois de quase um ano afastada do showbiz após alguns meses de reclusão num centro de tratamento, seguida de um longo período de gravações em estúdio.

Mesmo antes dessa curta pausa na sua carreira, Demi sempre apontou que queria experimentar uma pegada mais próxima do pop-R&B em seu terceiro trabalho, sempre mencionando a influência de Christina Aguilera como uma de suas inspirações e o gosto pelas músicas de Rihanna e Nicki Minaj.

Unbroken começa com duetos e faixas produzidas por nomes fortes do gênero. O já não tão Midas como antes Timbaland produz “All Night Long”, uma faixa dançante com participação da mais bem sucedida rapper da música americana, Missy Elliott. Segue-se “Who’s That Boy”, provável próximo single com participação da ascendente Dev; e “You’re My Only Shorty”, dueto com o rapper Iyaz com uma batida que chega a lembrar as músicas de Justin Bieber.

Pra uma cantora que sempre teve uma pontinha de rock dentro de si, são faixas muito diferentes do que costumamos ouvir na sua voz. Ensaiam uma aproximação com um público mais velho, que já tem idade para beber e sair na noite. Sua voz sempre forte se destaca, mas as faixas não empolgam tanto como deveriam.

Nas músicas mais lentas e românticas é que Demi se sobressai. “Together” (dueto com Jason Derulo) e as belas “Lightweight” e “Fix a Heart” mostram que quando Demi foca seu esforço em músicas mais pessoais e emocionais, o resultado é bastante positivo.

Aqui também entra “Skyscraper”, seu último single, sobre recuperação emocional e uma bonita mensagem de “volta por cima”. A canção havia sido gravada no período mais difícil da cantora, com a garganta enfraquecida pelo efeito da bulimia da qual Demi começou a se tratar em seguida. Mesmo após uma regravação recente, a cantora optou por lançar a primeira versão, por representar de modo melhor a dor da letra. Parece ter sido a escolha perfeita.

O cd se encerra com “For The Love of a Daughter”, música adiada do cd anterior, onde a cantora revela seu drama de conviver na infância com um pai alcoolatra. É talvez a melhor de Unbroken, revelando uma dor pungente e verdadeira.

Outro destaque do álbum é “My Love is Like a Star”, canção co-escrita por James Morrison que lembra um tanto os vocais de Kelly Clarkson e Christina Aguilera, e apontam a esperança de que, com a voz que tem, Demi possa chegar à altura desses grandes nomes do pop.

Potencial ela tem. Falta apenas o direcionamento, o amadurecimento que só o tempo traz. E que ela perceba o valor de apostar mais nos seus bons vocais em vez de apelar à dança e ao espetáculo puramente visual.

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You can take everything I had/ I can break everything I am/ Like I’m made of glass/ Like I’m made of paper/ Go on and try to tear me down/ I will be raising from the ground/ Like a skyscraper”

(Demi Lovato em “Skyscraper”)

In memoriam: Steven Paul Jobs (24 de Fevereiro de 1955 – 05 de Outubro de 2011)

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