Pra quem não acompanhou o mês passado, a coluna Conhecendo a Equipe (de nome auto-explicativo, mas vamos re-explicá-lo) coloca todos os colunistas, colaboradores e construtores, enfim, todo mundo que faz O Anagrama, para responder uma mesma pergunta (que você, leitor, também pode responder nos comentários!).
A pergunta do mês lida com as pessoas de mentirinha, os personagens idealizados pelas mentes incríveis de escritores, roteiristas e criadores de séries de TV, que inspiraram paixão, comoção ou mudança nessas pessoas de verdade que tenho orgulho de reunir aqui. Sem mais demora, vamos ao que interessa:
Qual seu personagem ficcional (literatura/cinema/TV/etc) preferido? De que forma as atitudes dele refletiram na sua, de que forma ele te inspirou?
por Caio Coletti – editor
Quando resolvi eu mesmo me confrontar com a pergunta escolhida para o Conhecendo a Equipe desse mês, me vi entre dois personagens que para mim são muito especiais. Não por acaso, ambos estão dentro do universo de Harry Potter: a primeira, Luna Lovegood, é a garota interpretada por Evanna Lynch no cinema, conhecida por ter ideias pouco ortodoxas. No entanto, sempre tive em mente que ninguém naquele rol magnífico de personagens de J.K. Rowling é tão verdadeiramente sábio quanto Luna. Mas, ao pensar na minha segunda opção, me dei conta que Luna é para mim um ideal, é quem eu quero, um dia, ser. Remo Lupin, por outro lado, é uma parte muito verdadeira de quem eu já sou.
O professor de Harry durante o terceiro ano é também um lobismem (isso não deve ser spoiler para ninguém, certo?), mas talvez seja sua serenidade quase inabalável que me faça amá-lo tanto. Com um monstro dentro de si, ele mantem os olhos bondosos, a expressão tranquila, a índole essencialmente boa. São qualidades simples as que Rowling deu para o seu personagem, mas, com tão pouca grandeza, Lupin é na verdade gigantesco. É só no último dos livros (em cena que foi lamentavelmente cortada do filme) que o vemos demonstrar medo. Harry o chama de covarde, e talvez ele tenha merecido, na situação. Mas não há medida para a coragem que precisou para viver entre aqueles a quem amava.
por iJunior – designer - veja os textos dele aqui
O filme A Noiva Cadáver (Corpse Bride) de Tim Bourton me inspirou de diversas formas, e conseguiu me trazer diversos personagens aos quais me indentifiquei. Embora ainda tenha relutado muito com seu final e não entendido porquê acabou assim – e até hoje faço questão de achar isso – Victoria fazia parte de um dos personagens aos quais me inspiram até hoje, ou ao menos me faz ver que o mundo as vezes não é algo feito só pra você. Victor Van Dort tem muito de mim; o rapaz desastrado, com um certo gosto as artes e até à teimosia ao que lhe parece obrigatório, mas é a Emily que darei o titulo, e maior destaque, de personagem preferido. Emily, uma personagem inocente e pura, machucada, desiludida, que aprendeu cedo que a vida não era tão bela – e cedo perdeu ela - é o que eu diria de seguir o “Live fast, die young”. Abriu mão do que tinha por um sonho, por uma paixão, e no final acabou por sofrer as consequencias de se permitir de mais, e isso é algo que eu tenho visto muito nos dias atuais.
Porém o mais impressionante era sua graça, delicadeza, e como acreditava cada minuto que algo bom ainda estaria por vir, por mais que “ainda houvessem lágrimas para dar” por toda insegurança ou medo. Emily é apaixonante, mesmo que um cadáver ela era capaz de me manter em longas catarses. Ela me inspira artisticamente graças ao ótimo trabalho de Tim Burton, mas também é aquele motivo bobo ao qual eu posso me refugiar quando me sinto muito vázio. Ela me deixa abobado seja da forma que estiver representada. É simplesmente a personagem mais graciosa que eu tenho “adotado” desde criança.
por Marlon Rosa – (todos os dias 04 e 16) - veja os textos dele aqui
Estar soterrada junto ao corpo da mãe, após seus pais terem sido mortos por um ataque aéreo; essa é a origem de uma das personagens mais icônicas da Marvel: Ororo Monroe, mais conhecida como Tempestade. Foi-se o tempo em que deusas deveriam usar apetrechos com jóias gigantescas, ostentar devotos e reinar em cima de um pedestal. Tempestade não precisa disso, os colares gigantes dão lugar à jóia de sua mãe que ela carrega no peito, uma das poucas lembranças que conseguiu salvar. Devotos? Quem precisa de devotos quando o mundo teme os mutantes? E por fim, o vento! Ah, sim, o gracioso pedestal de Tempestade, que consegue invocá-lo aos seus comandos, fazendo com que ele a leve para onde quer que ela queira estar.
Não dá, eu não consigo imaginar entre todos os meus personagens preferidos, alguém com a personalidade, força e integridade como os da Tempestade: mãe, irmã, melhor amiga, líder, assassina, rainha, ladra, mutante, guerreira, tia, africana, DEUSA, um turbilhão de substantivos, adjetivos, títulos que remetem à uma tempestade por si só. É justamente pelo fato d’ela manter tudo isso sob controle, que ela me inspira e me faz lembrar de ficar calmo quando tudo parece que vai desaguar em um rio qualquer; ela dissipa todo e qualquer tempo nublado, faz qualquer trovão parecer música e no fim, traz consigo a luz e o calor do Sol. Não há remédio melhor!
por Andreas Lieber – (todo dia 05 e 20) - veja os textos dele aqui
“It’s strange because sometimes, I read a book, and I think I am the people in the book”. Quando Charlie escreve isso em uma de suas cartas, ele faz parecer uma verdade absoluta, e talvez seja. O mundo que Chbosky criou em The Perks of Being a Wallflower se assemelha de forma tão assombrosa com o meu, que é impossível não se sentir parte da trama. Foi meio que perturbador durante a leitura do livro perceber o quanto eu parecia com um personagem, mas ao mesmo tempo estranhamente delicioso. O Charlie de Chbosky fez tudo o que eu faria em dadas situações, pensou o que eu pensaria e, com certeza, sentiu toda a vergonha que eu sentiria... e toda a timidez também. Além disso, ele reúne uma miríade de qualidades e defeitos que eu mesmo encontro em mim.
Além de todo o reconhecimento emocional, ele me fez perceber que não importa o quanto a gente lute ou sinta medo de mudanças, elas irão acontecer. E por mais assustador que seja a ideia, vamos precisar de amigos em quem confiar. Os acontecimentos na infância de Charlie que o moldaram no que ele é durante o livro não se assemelham nem por um segundo aos meus, mas de uma forma ou de outra amadurecemos igualmente e ele me ensinou que, apesar de vivermos apenas uma vez, ainda podemos nos sentir infinitos. O livro, o personagem, a análise que eu faço do mundo toda vez que eu termino de lê-lo me fazem sentir, entre tantas outras coisas, justamente a infinidade de possibilidades que é a vida (por mais clichê que isso pareça).
por Isabela Bez – (todos os dias 06 e 21) - veja os textos dela aqui
Às vezes, é preciso fugir da realidade e se divertir. Arriscar, ousar, explodir. É preciso ver a vida com ironia, e se manter longe do mundo para continuar nele. É preciso fazer o que der na cabeça e não se preocupar com as consequências. A maioria das pessoas faz o contrário disso. Elas sempre vivem com um pé atrás, cuidadosamente prestando atenção em cada detalhe para não errar. E é assim que Effy, de Skins, ganha dessas pessoas. É assim que ela ganha de mim.
Ela me faz querer ser livre, espontânea, não ter limites. Ela me faz querer viver de verdade, parar de medir todas as palavras e todos os passos que dou. É uma personagem surpreendente e trágica, daquele tipo de trágico que as pessoas desejam viver. A vida sempre vai dar um tapa na sua cara, não importa como você seja, então por que não ser livre?
por Fernanda Martins – (todo dia 13) - veja os textos dela aqui
Eu confesso que a minha identificação com a personagem de Jim Carrey, Joel Barish, no filme ‘’Brilho eterno de uma mente sem lembranças’’ é unicamente baseada na frase em que ele propaga, em pensamento, quando está numa cafeteria qualquer, em Montauk, e Clementine Krucynski (personagem de Kate Winslet) sorri para ele: “Por que me apaixono por mulheres que me dão um pingo de atenção? ’’. E eu não falo em mulheres, mas sim de qualquer pessoa que seja no mínimo simpática, que não me conheça, mas que mesmo assim me dê um sorriso.
Tirando, é claro, o lado introspectivo de Joel o qual não tem nada a ver comigo, a impulsividade dele é totalmente idêntica àquela que eu tento não ter, mas tenho. A maneira com que ele não diz das coisas que ele sente faz com que eu me confunda com ele muitas vezes que eu assisto ao filme. A forma com que ele se entrega e aproveita qualquer momento que o faça feliz, é completamente a minha maneira de viver, e mesmo que isso acabe me mostrando, como mostrou a ele, que não existem contos de fadas, a gente monta o nosso com um final totalmente realista e com os pés no chão.
por Gabis Paganotto – (todo dia 15) - veja os textos dela aqui
Foi dificil escolher um personagem só para definir como o que mais me inspirou. Como cinéfila que sou, todos os filmes que eu assistia tinham algum personagem com quem eu me identificava, ainda mais quando era mais nova. Porém teve um filme que poucas pessoas se lembram, mas que me inspirou muito. Foi o personagem Honey (Jessica Alba) em Honey - No Ritmo dos Seus Sonhos. Nesse filme, Honey, que é de origem humilde, não desiste de seu ideal, que é salvar as crianças das ruas, através do exercício de seus talentos.
Apesar de muitas idéias contra, e muitas pessoas tentando destruir seu ideal, Honey através da dança vence as dificuldades e consegue cumprir seu objetivo. Esse personagem me inspirou muito a jamais desistir dos meus sonhos, e saber superar as dificuldades, porque no fim tudo vale a pena. Mesmo que tenhamos que sacrificar muitos ideais. Além de tudo esse personagem me inspirou ainda mais a dançar, que sempre foi uma paixão pra mim (nada comparada a da nossa Bebé, em nivel). Enfim, Honey me ensinou a compassar meus sonhos, e segui-los e executá-los com perfeição.
por GuiAndroid – (todo dia 11) - veja os textos dele aqui
Blair Waldorf (Leighton Meester) de Gossip Girl, é o tipo de personagem fundamental para todo adolescente que esteja no high school, seja pelo seu gosto impecável por moda ou pela sua índole de "rainha indomável". Mas, falar de Blair como personagem favorito é clichê nowadays. Então, eis meu segundo personagem favorito: Miranda Priestly. Miranda é a prova de que HÁ SIM idade certa para um bom platinado e do poder que ele pode te dar, e que se você não se importa com a imagem que tem, logo as pessoas não se importam para quem você realmente é. Nessa lista de radicais, here comes o radical dos radicais: Dean Winchester, "yes, like the gun". Me vejo em Dean em vários momentos, principalmente quando ele tem que tomar suas decisões. Vejo que nós fazemos a mesma coisa da mesma maneira, sempre pensando nas pessoas próximas a ele, Dean é o personagem com mais moral que eu já encontrei.
E pra finalizar essa lista que já está enorme e acho que estourando o limite de linhas, Jay Gatsby; ele representa o mistério, a seriedade, a classe, e a libertinagem dos anos 20, que de uma maneira que nem mesmo eu sei, vive dentro de mim, não sei se é aquela vontade idiota que todos nós temos de "ter vivido em outra época" ou se é toda a sombra que envolve o personagem do romance de F. Scott Fitzgerald que faz com que eu me sinta algumas/várias vezes ao dia um Gatsby dos tempos modernos. Não pelas festas regadas a bebidas ilegais, mas pela ambiguidade da minha personalidade, que tende a mudar durante as noites em que passo acordado até tarde.
por Amanda Prates – (todo dia 18) - veja os textos dela aqui
Eugênio Fontes (Olhai os Lírios do Campo) é, talvez, o personagem mais fantástico da obra do gaúcho Érico Veríssimo, e um dos mais bem construídos da nossa literatura. Suas crises existenciais, os flash-blacks acompanhados de culpa e os “surtos” reflexionais que lhe permitiram a mudança, tiveram mais impacto em mim do que a própria narrativa em si. Eugênio, que desde a infância sofrera por sua personalidade sem força, se vê obrigado a mudar em muitos sentidos. E foi esse Eugênio que me fez perceber a necessidade de mudança, mesmo que em pequenos detalhes da minha vida, mas que hoje muito significam. Mudar para que outras pessoas não me mudassem.
No início da narrativa vi muito de mim em Eugênio, era como se eu estivesse transplantando pra ele, no decorrer da leitura, todo o meu interior: as horas em que ele se perdia pensando no passado e no presente, os surtos de problematização das coisas. Talvez eu só consiga dizer esse pouco de inspiração que me permitiu muito mudar.
por Luciana Lima – (todo dia 26) - veja os textos dela aqui
“Ela tem olhos de cigana oblíqua e dissimulada.” Os olhos de ressaca, os olhos profundos que tragam feito o mar. Capitu foi uma das primeiras personagens literárias femininas que eu tive contato. Dom Casmurro em si, foi um dos primeiros livros que li, embora uma leitura difícil para a minha cabeça de 12 anos, o livro envelhecido pelo tempo, guardado no meio das coisas da minha mãe me chamou a atenção. Mesmo tendo lido há tanto tempo, ainda hoje, Capitu permanece sendo uma das minhas personagens favoritas. Tanto pela sua personalidade forte, determinada, quanto pela forma romanceada que ela nos é descrita. Capitu, é sem sombra de dúvidas uma das personagens femininas mais importantes de nossa literatura, sendo mais protagonista que o próprio Bentinho, ela representa, pelo menos pra mim, a força e a audácia da mulher.
Ainda mais se pensarmos no contexto social do século XIX, Capitu possui um comportamento totalmente ás avessas do que se era esperado, ela representa a capacidade de subversão, de autonomia e de coragem femina. Além de possuir todos esses elementos que por si só já me chamariam a atenção, Capitu apresenta o adicional que é o caratér enigmático de sua personalidade, os olhos que dizem tudo e não dizem nada, a dualidade, a versatilidade de emoções e sentimentos. Uma das características físicas minhas que sempre comentavam é o fato de ter olhos grandes e expressivos, o que por muito tempo me incomodou e chegou a ser motivo de bullying na infância, e que hoje conseguiu adquirir outros tons. Ela é minha forma de contato mais verdadeira com qualquer pessoa, a forma mais límpida e mais translúcida de me conhecer.
"Não sou bom para dar conselhos. Você quer um comentário sarcástico?". Chandler sempre foi meu personagem preferido em Friends. Por uma série de motivos, a começar por sua personalidade característica. O uso contínuo da ironia e do sarcasmo - ele sempre tem uma resposta na ponta da língua, e isto é feito de forma tão natural que fica praticamente impossível a um fã de Friends não rir em frente a tela. Suas paranoias (como quando ele teve certeza que se tornaria um velho fechado e rabugento como seu vizinho, ou quando passou um episódio inteiro tentando descobrir sua vocação, só para no fim descobrir que era perfeito para fazer exatamente o trabalho chato que já fazia.).
Sem dizer a dificuldade que tinha em lidar com relacionamentos nas primeiras temporadas e a amizade única entre ele e Joey (Matt LeBlanc). Mas, além das características óbvias e inconfundíveis, o que eu mais gosto de observar é a evolução do personagem ao longo da série – como até mesmo Chandler Bing acabou amadurecendo, deixando o velho apartamento, engatando um relacionamento com Monica Geller (Courteney Cox) e se tornando um pai de família. Entre piadas e comentários aleatórios, mesclados a uma pequena dose de momentos sérios episódio ou outro, Chandler acabou se tornando para mim a alma de uma das séries mais legais e inesquecíveis que já pude assistir.
por Fabio Christofoli – (todo dia 29) - veja os textos dele aqui
Certamente é uma pergunta difícil. Não há um personagem fixo, com certeza. Há apenas o do momento. A ficção inspira a realidade, não podemos fugir disso. O personagem que admiramos influencia o nosso jeito de ser e nem percebemos quanto. Bom, devo escolher um. Atualmente sou viciado em How I Met Your Mother e admiro muito o personagem principal, Ted Mosby. Resumindo rapidamente a história, Ted conta aos filhos como conheceu a mãe deles, mas começa a história bem antes dela acontecer. Nessas 8 temporadas Ted conheceu muitas mulheres com potencial de ser a mãe de seus filhos, mas os relacionamentos nunca dão certo por um ou outro motivo.
Ele é quase um obsecado por encontrar a mulher da sua vida e isso trás muitas lições, principalmente para uma sociedade cada vez mais carente e apegada em ilusões. Ted é algo quase realista. Ele não dá certo, como a maioria das pessoas. Mas persiste, evoluí, acha motivos pra fazer uma piada, como a minoria das pessoas. Eu me inspiro nessa insistência, nessa fé que ele tem no amor. Vejo em Ted uma pessoa rara, um modelo. As pessoas deveriam amar mais, rir dos erros que cometem, do que não dá certo. Em grande parte da série ele é assim e por isso falei dele aqui!
1 comentários:
Engraçado como, a partir dessa leitura, fiquei com uma imagem de acada um dos autores. Muito legal!
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