5 de nov. de 2012

Review: As Pontes de Madison no cinema e no teatro.

madison

por Andreas Lieber
(Tumblr)

Uma imigrante italiana radicada em Iowa, um fotógrafo americano sem raízes e uma tórrida paixão. Os ingredientes para a mais velha história de amor estão todos misturados nesse caldeirão fervente que é As Pontes de Madison. Baseado no romance homônimo de Robert James Waller, que deu origem a adaptação para o cinema estrelada por Meryl Streep e Clint Eastwood e a inúmeras peças de teatro – inclusive a brasileira estrelada por Mayara Magri e Flávio Galvão –, durante a trama nos é apresentada a figura de Francesca Johnson, uma ex-professora de Literatura nascida na Itália e casada com um proprietário de terras em Madison (uma cidade perdida no mapa do estado americano de Iowa) que se encontra repentinamente apaixonada por Robert Kincaid, fotógrafo da National Geographic que passará alguns dias na cidade para fotografar as famosas pontes cobertas.

Com um traço firme e muitas vezes duro de filmagem, além de estrelar, Eastwood também dirige o filme, utilizando técnicas um tanto quanto clássicas demais, mesmo para a década de 90, que se desenvolvem em um filme não inovador, mas seguro em agradar ao público. O grande destaque do filme está, no entanto, na atuação impecável de Meryl Streep. Qualquer produção que conta com o nome da estrela corre o risco de ficar em segundo plano quando comparada a sua genialidade, mas aqui Streep se supera e floreia uma personagem forte, carregada de sotaque e maneirismos, que traz a delicadeza necessária ao filme, mas explode em vários momentos de catarse, encontrando na atuação serena e contida de Eastwood a oportunidade de mostrar seu verdadeiro talento.

Durante as mais de duas horas de filme, Streep nos introduz ao mundo monótono de Francesca e nos mostra a reviravolta que a chegada do fotógrafo lhe causou. Tendo abdicado de todos os seus sonhos em nome da família, ao ver-se sozinha em casa durante um curto período de tempo, ela se deixa entregar ao amor repentino e desnuda a natureza humana da indecisão, da desconstrução do amor, daquele amor eterno vivido em apenas alguns dias. A fluidez do filme é quebrada, no entanto, pelo modo com que é narrado; começando com os filhos de Francesca, Carolyn e Michael, lendo o testamento da mãe após sua morte e encontrando diários em que Francesca conta suas aventuras, o filme perde a dinâmica que teria se fosse fixado apenas na história em si.

O que é causa de erro no filme, no entanto, é um acerto na peça. Conduzida pela leitura da história por seus filhos, o teatro contou com a ajuda bem vinda da possibilidade de permanência de todos os personagens no palco ao mesmo tempo, não ocasionando a quebra da narrativa. Mayara Magri também conduz uma Francesca brilhante, embora levemente mais “abrasileirada”, competindo em atuação com seu parceiro Flávio Galvão. O grande destaque da peça que anda pelo Brasil atualmente se encontra na interação com o público que só o teatro pode alcançar; onde o filme se torna único pela atuação brilhante de Meryl Streep, a peça se diferencia pelo sentimento de inclusão que o espectador sente.

Há filmes que se tornam marcos pela sua narrativa, outros pela excelência do elenco e alguns poucos, ainda, conseguem juntar os dois. As Pontes de Madison, com certeza, se enquadra apenas na segunda opção. Dono de uma história volátil, o filme encanta, mas não fascina, deixando para seus atores, apenas, a função de impressionar o público (e como Streep dá conta do recado!). Madison seria apenas mais um entre tantos outros filmes baseados em romances com histórias clichês de amor à primeira vista que rodam sem rumo pela história cinematográfica, no entanto, em algum momento dessa adaptação de Eastwood, percebemos que o elenco não nos deixa presenciar somente a velha história de amor; presenciamos, sim, uma ode à desconstrução da mesma, embalada pelo peso da consciência humana e da insustentável teia que conecta as relações que a cerca. Teia essa que também é possível ser visualizada na peça teatral, que nos apresenta uma abordagem dinâmica e interativa, nos fazendo não perceber os clichês e mesmices da história.

As Pontes de Madison (The Bridges of Madison County, EUA, 1995)
Direção: Clint Eastwood.
Roteiro: Richard LaGravenese, baseado na novela de Robert James Waller.
Elenco: Clint Eastwood, Meryl Streep, Annie Corley, Victor Slezak.
135 minutos.

As Pontes de Madison (montagem brasileira, 2012)
Peça de: Alexandre Tenório, baseado na novela de Robert James Waller.
Direção: Regina Galdino.
Elenco: Flávio Galvão, Mayara Magri, Marcos Damigo, Adriana Londoño.

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