A Pele que Habito (La Piel Que Habito, Espanha, 2011)
Direção: Pedro Almodóvar.
Roteiro: Pedro Almodóvar e Agustín Almodóvar, baseados na novela de Thierry Jonquet.
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Blanca Suárez.
120 minutos
Pedro Almodóvar é um dos poucos diretores em atividade que pode se vangloriar de ter construído uma linguagem própria. Ao lado de Quentin Tarantino e um punhado limitado de outros gênios da narrativa cinematográfica contemporânea, o espanhol forjou para si mesmo uma assinatura inconfundível e saborosa, capaz de identificar seus filmes em elementos bem claros. O colorido da encenação, a discussão da identidade sexual e o despir dos pudores são caraterísticas presentes em A Pele que Habito, última gema do diretor, que visita o território do thriller psicológico e deixa nele sua marca inconfundível.
A trama complexa envolve Robert Ledgard (Antonio Banderas, na primeira colaboração com o diretor desde Ata-Me, de 1990), um cirurgião plástico viúvo que alimenta uma obsessão por criar uma pele resistente a queimaduras e outras intempéries. A bela Elena Anaya (uma das noivas de Drácula em Van Helsing) é sua cobaia. Entre um amálgama de temas que vão da origem da loucura à discussão da verdadeira identidade, independente de rótulos de gênero, Almodóvar ainda é capaz de tirar uma pequena pérola de suspense e arrancar a melhor performance de Banderas em muito, muito tempo.
***** (4,5/5)
Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole, EUA, 2010)
Direção: John Cameron Mitchell.
Roteiro: David Lindsay-Abaire, baseado na própria peça.
Elenco: Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Dianne Wiest, Tammy Blanchard, Sandra Oh.
91 minutos.
Nicole Kidman nunca descansou. Apesar dos críticos dizerem que a australiana pegou a “maldição do Oscar” e não cravou nenhum grande papel desde As Horas, é difícil seguir ignorando um dos maiores talentos do cinema moderno quando se assiste algo como esse Reencontrando a Felicidade. Indicada para o prêmio da Academia em 2011 (sua primeira lembrança desde a vitória em 2003) pelo papel de Becca, a parte feminina de um casal que tem que lidar com a morte do filho, Nicole é o fôlego e o sangue do filme de John Cameron Mitchell (Hedwig). A transparência de emoções que a fez uma das atrizes mais celebradas das últimas décadas ainda está aqui, a garra de interpretar e fazer viver a sua personagem continua intacta. Nicole ainda é uma atriz e tanto.
Assim com Dianne Wiest, aliás. A vencedora de dois Oscar na década de 80 (por Hannah e Suas Irmãs e Tiros na Broadway) é um poço de vulnerabilidade e doçura na pele da mãe de Becca, com quem ela tem atritos e compreensões na mesma medida. Claro, o roteiro de David Lindsay-Abaire (Coração de Tinta) ajuda bastante. Baseando-se em uma peça de própria autoria, o americano que vem se tornando um nome cada vez mais presente em Hollywood faz um trabalho de sensibilidade e realismo excepcional. Não há grandes catarses demais, nem restrição emocional absoluta: há a dose certa de cada coisa. E um final tão arrepiante quanto crível.
**** (4/5)
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