19 de set. de 2012

Review: Uma vida sob pressão em “It’s Kind of a Funny Story”.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Em certo momento de It’s Kind of a Funny Story (no Brasil, Se Enlouquecer Não se Apaixone), o protagonista Craig (Keir Gilchrist, de United States of Tara) toma o microfone e canta “Under Pressure”, canção do Queen que praticamente sintetiza o motivo de ele se encontrar onde está. Quando o encontramos no começo do filme, o garoto de 16 anos está tendo pensamentos suicidas, e resolve se internar na ala psiquiátrica de um hospital. Entre esquizofrênicos, paranóicos e gente como Bobby (Zach Galifianakis), que parece absolutamente sã, Craig percebe que seu problema está mesmo dentro de sua cabeça: ele vive uma vida que não queria viver.

Não é dificil se identificar com isso. Viver sob pressão é uma das características mais fortes de uma certa fase de nossas vidas em que somos obrigados a realizar a transição da adolescência para a fase adulta. Uma fase que normalmente vem acompanhada por uma série de responsabilidades e, muitas vezes, imposições dos pais e de outras pessoas em nossa vida que acabam nos levando a carregar uma vida diferente daquela pela qual realmente ansiamos. It’s Kind of a Funny Story tem uma mensagem bastante simples, mas absolutamente oportuna e válida: faça o que você quiser fazer enquanto você puder fazer. Não se deixe levar pelo terror de saber do que o mundo é feito. Ele não é de todo mal.

Não dá pra negar que a força de It’s Kind of a Funny Story está muito mais em sua trama do que em sua condução, portanto o crédito primário precisa ir para o autor do romance homônimo, que deu origem à produção. Ned Vizzini baseou a história de seu segundo livro, publicado em 2006, na sua própria experiência de breve hospitalização em uma ala psiquiátrica, dois anos antes. É de uma notável e nada forçada sensibilidade para com seus personagens que Vizzini tira a força da historia: às vezes, as pessoas que ele cria dentro do hospital parecem muito mais sãs, e fazer muito mais sentido, do que as pessoas de fora. O roteiro e a direção do casal Anna Boden e Ryan Fleck (Half Nelson) parece fazer um bom trabalho transportando esse espírito para o cinema.

Outro alicerce fundamental do filme é Keir Gilchrist e sua atuação como Craig. O jovem de 20 anos (18 à época do filme), que constrói carreira na TV e no cinema desde 2003, está no controle do personagem o tempo todo. Seu nervosismo, sua ansiedade e sua linguagem corporal pouco ajustada são medidas calculadas e perfeitamente executadas de uma atuação mais pensada do que parece. Ele se comporta, aqui, como um Jesse Eisenberg mais adorável, e a proposta funciona: é fácil gostar de Craig na atuação de Keir. Zach Galifianakis, por sua vez, surpreende como Bobby. Sua versão do personagem é a um único tempo esngraçada da forma que o ator já provou saber ser, e tocante de uma maneira que nunca pudemos observar em suas atuações anteriores. Galifianakis é intenso, transpira verdade e sabe usar os olhos com destreza que poucos atores tem hoje em dia.

Em certo momento, It’s Kind of a Funny Story sentencia, parafraseando uma canção de Bob Dylan: “Aqueles que não estão ocupados nascendo, estão ocupados morrendo”. Apesar das razões pelas quais Craig é internado, este filme não é sobre ter vontade de morrer. Este sobre ter vontade de nascer.

**** (4/5)

 

Se Enlouquecer, Não se Apaixone (It’s Kind of a Funny Story, EUA, 2010)
Direção: Anna Boden e Ryan Fleck.
Roteiro: Anna Boden e Ryan Fleck, baseados na novela de Ned Vizzini.
Elenco: Keir Gilchrist, Zach Galifianakis, Emma Roberts, Viola Davis, Jeremy Davies.
101 minutos.

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