12 de set. de 2012

Review: GUMMO, o primeiro apocalipse desconhecido.

por Fernanda Martins
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Se pudéssemos imaginar o dia seguinte do apocalipse, com aquele gosto árido de dor e um vazio, onde apenas criaturas – seres humanos estranhos – tivessem conseguido sobreviver, como seria? Em Gummo isto é passível de observação. Um apocalipse do ano de 1974 e que poucos de 2012 puderam conhecer.

Foi na Xênia, Ohio, em que um grande tornado atingiu uma pequena cidade no interior norte-americano. O grande fenômeno natural não destruiu tão fisicamente o local, a destruição maior foi psicológica. Os interesses humanos foram perdidos, a fé foi perdida e nem sequer havia mais hierarquias naquele local. Um verdadeiro niilismo se instaurou na Xênia.

O filme do diretor Harmony Korine, Gummo, foi lançado em 1997 e até hoje é raro eu encontrar alguém que me diga que o conheça. Confesso que não é um filme fácil de ser engolido e digerido, muitos ruminam o filme até hoje, como eu. O filme é uma torção no estômago; é um daqueles pesadelos estranhos que acordamos no meio da noite e quase não voltamos a dormir por medo da continuação.

São anões, pessoas portadoras de doenças, são albinos e um menino alheio que anda com sua orelha de coelho pela cidade, com uma aparência de treze anos e com um Marlboro vermelho em mãos - talvez o menino mais triste que eu já vi com um cigarro em mãos. Enquanto dois meninos pagam para fazer sexo com uma menina que possui síndrome de down e preparam-se para estrangular um gato, por hobby, mais tarde.

Quase não há adultos no filme e nem envolvidos neste caos ‘’pós-apocalíptico’’, pude contar uns quatro, no máximo. As crianças vivem em busca de uma recompensa por alguém que os esqueceram numa cidade em caos. Várias histórias, separadamente, são contadas, não que façam muito sentido, apenas retratam o verdadeiro fedor que aquela sociedade passou a viver.

Gummo chega a dar náuseas e certa sensação de invisibilidade e impotência, entretanto foi aclamado por alguns críticos e realizadores. O filme foi dado como péssimo e adorado, ao mesmo tempo, pelo festival de Gijón e de Roterdã. Confesso que quem o assiste jamais o esquece e se o esquecer é por que não teve coragem o suficiente de ir até o final desse grande caos que o diretor propõe a nós: a reflexão de nossas próprias vidas.

gummo

Vida Sem Destino (GUMMO, EUA, 1997)
Direção e roteiro: Harmony Korine.
Elenco: Jacob Sewell, Nick Sutton, Chloe Sevigny.
89 minutos.

Fernanda Martins escreve todo dia 13.

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