17 de set. de 2012

Review: Thiago Pethit está em clima de cabaré em seu novo Estrela Decadente.

capa do álbum

por Amanda Prates
(Twitter - Blog "I Enjoy, And You?")

Sim, no Brasil ainda existem pessoas que fazem música diferente. E sim, eles representam a nova geração de cantores independentes que tem tentado renovar e reinventar a música brasileira, com composições que expõem suas próprias emoções “de forma verdadeira e confessional”. Marcelo Jeneci, Mallu Magalhães, Tiê, Tulipa Ruiz... Aqui, Thiago Pethit é quem está em questão. Tendo iniciado sua carreira em 2008, com o lançamento do EP independente (assim como os outros dois álbuns) Em Outro Lugar, Pethit só ganhou reconhecimento no meio musical em 2010, com seu primeiro álbum de estúdio Berlim, Texas. Produzido por Yury Kalil Alaia (Cidadão Instigado), o disco é composto por cinco faixas em inglês, cinco em português e uma em francês, uma das características principais da música de Pethit. Nele, o paulistano de 28 anos fundamenta-se por suas veias teatrais e resgata o universo vaudeville, influenciado por Tom Waits, Kurt Weill e Leonard Cohen, e a cena underground dos anos 60 e 70, para tentar renovar a linguagem da música indie-pop.

Em Estrela Decadente, seu segundo álbum de estúdio, Thiago Pethit, antes extremamente melancólico, intimista e acústico, agora combina melancolia e escuridão. O disco, produzido por Kassin (Caetano Veloso, Gal Costa), revela o lado “transgressor” do músico e compositor. A imagem de bom-moço presente no álbum anterior dá lugar ao agressivo e questionador. Berlim, Texas é calcado pela leveza do violão e pela suave voz do rapaz, Estrela Decadente traz a sonoridade questionadora e intelectual dos anos 60 e a presença amena do rock. "No primeiro disco, queria que as pessoas ouvissem minhas histórias, por isso a supervalorização da voz e das letras. Agora, quero que se sintam dentro delas. Mas as pessoas não precisam entender a história por inteiro, pois é um trabalho mais sensitivo", revela Thiago.

Nove faixas compõem o disco lançado em agosto e disponibilizado para download gratuito no site do cantor, sendo que oito delas são de autoria própria e uma versão de Bertolt Brecht e Kurt Weill. Pethit conta com a participação de nomes como Mallu Magalhães, Cida Moreira e um coro admirável. A faixa que abre o disco, “Pas de Deux”, primeiro e único single (até o momento), ganhou clipe há pouco mais de um mês, e num clima esfumaçado é basicamente fundamentado por coreografias de atores-dançarinos num palco de teatro, no qual a atriz Laura Neiva dubla a voz de Thiago na música, e com características sonoras dos cabarés dos anos 20 e 30. A produção é assinada por Vera Egito e Renata Chebel e considerada de alto nível.

A faixa que se segue, “Moon”, é, talvez, a mais bem elaborada de todo o trabalho. Pethit não poupa o uso de guitarras, pianos e batidas animadas. É a primeira das muitas bilíngues, com o refrão cantado em falsete por Thiago que diz: “It might be soon, my heart changes with the moon”, e é a composição que melhor resume a mudança assumida pelo cantor nesse novo disco. “Dandy Darling”, de letra boba, por mais pessoal que seja, resume alguns erros do músico, mas que logo é salva por “Perto do Fim”, canção sessentista e também bilíngue, conta com a participação ilustre de Mallu Magalhães e já começa clamando: “We´ve been in hotel rooms before/I know much more than you can think of”. Quando perguntado, em uma entrevista, as razões pelas quais o levaram a escolher Mallu para compor parte da interpretação da faixa em questão, Thiago respondeu que a escolha foi algo muito conceitual, pois ao conceber o álbum, ele pensou muito na imagem de Marianne Faithfull (ilustre cantora britânica, que obteve sucesso nos anos 60) e viu em Mallu Magalhães a “encarnação da musa dos Rolling Stones”.

“So Long, New Love”, canção já conhecida, por compor comercial publicitário, é uma balada em inglês, que incorpora elementos sombrios e características do surf music com a sonoridade dos arranjos de 1960 de Phil Spector, tendo um belo coro formado por Camila Lordy, Marcio Arantes, Vitor Patalano e Pedro Penna, que aparece novamente na sétima faixa, “Haunted Love”. A faixa-título, bem rock dos anos 60, começa exigindo “Deixe-me só com o meu choro/Deixe-me só com a minha dor”, e revela o caráter melancólico assumido pelo próprio Pethit, bem característico a Nora Ney. Percebe-se uma narrativa de tom cômico, que brinca com a história de uma superstar em declínio e que, ao mesmo tempo, parece ser uma espécie de carta suicida.

O lado sombrio e obscuro de Thiago Pethit aparece mais aguçado em “Devil in Me”, e fala sobre a correlação e mistura entre paixão e loucura. A letra composta em parceria com Hélio Flanders, tem coro formado por Camila Lordy e Pedro Penna e é quase uma ode ao diabo, reforçada pela guitarra de Thiago Penna. A canção, cantada em sua maioria em inglês, se encerra com o único trecho em português “Eu vendi minha alma pra saber que o diabo sou eu”. “Surabaya Johnny” encerra brilhantemente o disco, e se destaca pelo piano de tachinha e o melotron de Camila Lordy e a guitarra de Pedro Penna. A track é um clássico de Bertolt Brecht e Kurt Weill, composta para o musical da Broadway, Happy End, de 1929, que conta com a participação de Cida Moreira. "A Cida entrou nesse disco para representar a loucura dos cabarés", explica o músico.

Poucas faixas, porém bem elaboradas. Uma mistura de algumas referências e influências de Thiago Pethit e que representa a mudança em termos de “atitude musical” assumida pelo compositor. É o lado ingênuo e doce de Berlim, Texas que dá lugar ao agressivo e que infringe as regras, perceptível de imediato na capa, características como o batom preto borrado e, ao canto da boca, um cigarro. Sem dúvidas, Estrela Decadente foi a “jogada de mestre” mais bem sucedida de Thiago Pethit que, deixando um pouco de lado os “descuidos” deste álbum, tem tudo para se tornar um dos músicos, cantores e compositores de maior destaque mundial, se já não o for, já que é alvo de tantas boas críticas da mídia.

***** (4,5/5)

thiago pethit por caroline bittencourtPB2

Estrela Decadente
Lançamento: 20 de Agosto de 2012.
Selo: Independente.
Produção: Kassin.
Duração: 31m50s.

Amanda Prates escreve todo dia 18.

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