18 de fev. de 2015

Person of Interest 4x14/15: Guilty/Q&A

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

4x14 – Guilty

Na superfície, pode parecer que Person of Interest não é exatamente gentil com as suas personagens femininas. Quando entramos em “Guilty”, esse 14º episódio da temporada, a Detetive Carter está morta há um bom tempo, Shaw continua presa por Greer, e Root declarou suas intenções de deixar para trás o #TeamMachine por um tempo – ou seja, a série está em déficit de protagonistas mulheres. Surpreendente, então, que “Guilty” seja um episódio em que a presença feminina seja tão fundamental para a trama e, especialmente, para os arcos de personagem. Person se localiza em um mundo cruel em que as moças estão tão em risco quanto os garotos, mas também as faz duronas o bastante para encarar isso com maturidade e emprestar delicadeza emocional necessária para o desenvolvimento da narrativa.

O número-da-semana é Emma Blake (Blair Brown, de Fringe), uma professora aposentada que é convocada para participar de um júri popular junto, naturalmente, à Harold. Logo surgem evidências de que ela está sendo chantageada ou manipulada por alguém misterioso para influenciar na decisão final do julgamento. Não só Brown é uma atriz excelente que precisa urgentemente ser agraciada com papéis melhores como sua interação com Michael Emerson traz um paralelo interessante para o que o personagem representa para a série, ajudando a equilibrar e afinar a bússola moral sempre muito sólida de Person. Em seu cerne, Emma é uma mulher confrontada com a possibilidade de prevenir um acontecimento terrível, mas não sem consequências – quão semelhante à situação vivida pelos nossos protagonistas é esse dilema?

As outras duas presenças femininas do episódio são Paige Turco e Wrenn Schmidt, retornando à série como a sempre provocadora Zoe Morgan e a psicóloga Iris Campbell, respectivamente. As duas pontuam o arco de Reese e mostram atuações expressivas e reflexivas ao trabalho de Jim Caviezel, em plena forma enquanto seu personagem passa por um processo de luto que o leva a mudar alguns preceitos fundamentais sobre si mesmo. O retorno da personagem de Turco traz à tona a dura realidade do tipo de pessoa que Reese sempre encarnou, enquanto a psicóloga de Schmidt representa a possibilidade de uma válvula de escape, uma lenta transformação que sem dúvida vai ser aplicada nos próximos episódios.

Contornando bem os diálogos expositivos que são característica da série, o roteiro de David Slack (4x07, “Honor Among Thieves” – review) é um pedaço bem-pensado de televisão, contemplativo de seus personagens e muito pleno em termos emocionais. É bom ver que Person ainda se dá tempo para respirar de vez em quando.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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1x15 – Q&A

Em seu 15º episódio da temporada (serão só 22, ao invés dos costumeiros 23, nesse quarto ano de Person), a série de Finch, Reese e cia escolheu o momento certo para começar a desenhar os acontecimentos que marcarão o final da season. Trazendo de volta uma personagem lá do segundo episódio, “Nautilus” (review), a trama nos dá mais um insight para entender as engrenagens e o plano maior do Samaritan, e por meio de que jogadores esse plano será executado. A virada de trama protagonizada por Claire Mahoney (Quinn Shephard), que a princípio procura por Finch parecendo arrependida de sua escolha de se juntar à inteligência artificial mais poderosa do mundo de Person, é convincente e não subestima a inteligência do espectador, deixando que ele rumine junto com os personagens as verdadeiras intenções da jovem Claire.

Ajuda que Shephard, cujo único papel anterior de destaque foi na série Hostages, empreste uma pronunciada veia rebelde à personagem, contradizendo a determinação de ferro que encontramos nela em “Nautilus” e nos fazendo acreditar no idealismo e insegurança que a caracterizam aqui. É trágico, no fundo, o arco de personagem pelo qual Claire passa, iludida pelas noções nada humanas de “um mundo melhor” vendidas pelo Samaritan. A interação dela com Finch é fundamental no sentido de passar a convicção, na qual se encontra o coração de Person of Interest, de que os humanos precisam resolver seus problemas de sua própria forma falha e vulnerável, e não com a ajuda de uma máquina que entende como números a complexidade de consequências e obstáculos que todos nós enfrentamos pelo caminho. A série da CBS se recusa a reduzir o nosso mundo a um cálculo matemático, e é aí que mora seu triunfo.

Paralelamente às tensas cenas protagonizadas por Finch e Mahoney, acompanhamos um “caso da semana” que só se conecta com a trama principal no final, mesmo que perifericamente. Difícil garantir que Person vá trazer de volta a executiva vivida por Heléne Yorke (conhecida e amada pelos fãs de Masters of Sex) para que essa storyline tenha uma consequência mais prática no desenrolar da trama, mas o conto sobre uma empresa de tecnologia que usa seu serviço de busca por voz (uma versão ficcionalizada da Siri) para manipular as emoções de seus clientes e fazê-los mais suscetíveis aos anúncios ainda é um dos casos mais tematicamente antenados com o mundo de Person dos últimos tempos. O roteiro de Dan Dietz usa essa parte do episódio para reiterar a reflexão da série sobre a conexão humana e o quanto ela é fundamental mesmo no século XXI; ou melhor, mesmo no mundo hiper-tecnológico de Person.

✰✰✰✰ (4/5)

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Próximo Person of Interest: 4x16 – Blunt (24/02)

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