17 de fev. de 2015

Gotham 1x15/16: The Scarecrow/The Blind Fortune Teller

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

1x15 – The Scarecrow

“The Scarecrow” é uma curiosa junção de partes em sua maioria bem executadas, mas que não funcionam tão bem juntas quanto aprendemos a esperar de Gotham. Desde a estreia, bons meses atrás, a série desenvolvida por Bruno Heller conseguiu equilibrar múltiplas tramas por episódio com a graciosidade de uma história verdadeiramente feita para acomodar um elenco grande de personagens e situações. De fato, essa foi uma qualidade fundamental para que a série construísse seu mundo de maneira tão rica e bem equilibrada, talvez a virtude que mais destacamos na primeira metade da temporada. No roteiro de Ken Woodruff (1x04, “Arkham” – review) para esse 15º episódio, as coisas não se encaixam tão bem, mas é prova da consistência de Gotham como produto televisivo que nem por isso a série desmorone completamente.

A setpiece principal do episódio é a caçada à Gerald Crane (Julian Sands, que vai deixar saudades), que se entocou na antiga casa de sua família com o filho Jonathan após fugir das garras dos nossos protagonistas no episódio anterior. Lá, ele realiza experimentos injetando hormônios do medo direto no próprio sangue, o que no mundo de Gotham aparentemente ajuda a pessoa a superar sua maior fobia – no caso de Crane, trata-se do fogo, especialmente daquele que matou sua esposa em um acidente anos atrás. Essa seção do episódio, tanto antes quanto depois dos detetives encontrarem e darem um fim ao empreendimento de Crane, é filmada e concebida como um filme de horror iconoclasta que passeia pelo lado certo do pulp e dá uma história de origem assustadora para o vilão mais legitimamente aterrorizante de Batman (ajuda que o jovem Charlie Tahan embarque bem no clima da história, e entregue uma performance intensa).

Outra seção do episódio que funciona muito bem é a que se concentra em Bruce e Alfred. Como sempre ancorada nas atuações acertadíssimas de David Mazouz e Sean Pertwee, que funcionam ainda melhor quando juntos em cena, a trama leva o jovem Batman para uma caminhada pela floresta que se parece com uma forma de enfrentar o luto pela morte do pai (uma vez que o mesmo caminho era percorrido pelos dois antes do incidente do piloto da série). O roteirista Woodruff acerta em manter as coisas simples e observar o personagem se movimentar por um arco emocional muito bem desenhado e extremamente satisfatório para o espectador, ao mesmo tempo em que o diretor Nick Copus (Arrow) filma essas cenas com uma fotografia contemplativa e pouco colorida, não deixando o melodrama suplantar os elementos sombrios da história de Bruce.

Os dois momentos em que o episódio não se sustenta são quando conta a história de Fish, que acorda desorientada em uma espécie muito enigmática de cadeia e faz tramoias para tomar o poder dentro da espelunca; e quando se concentra na negociação entre Maroni e Falcone pela vida de Pinguim, que está prestes a abrir seu clube noturno. Há algo na execução dessas storylines que parece barato, apressado e pouco lisonjeiro ao bom trabalho que Jada Pinkett Smith e Robin Lord Taylor sempre fizeram em seus personagens. Ao todo “The Scarecrow” é um episódio bem-intencionado que não deixa Gotham perder o rumo, mas não sabe muito bem o que fazer com todas as boas ideias que tem em mãos.

✰✰✰✰ (3,5/5)

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1x16 – The Blind Fortune Teller

Coincidentemente, “The Blind Fortune Teller” tem muito a ver com “The Scarecrow” no contexto maior de Gotham, o que só depõe a favor da unidade e propósito bem-definidos da série. Tanto um quanto outro episódio parecem uma antítese daquilo que Gotham vinha apresentando até agora, se distanciando um pouco do ambiente tóxico da metrópole que a batiza e passando a analisar o nascimento de vilões que devem muito pouco da sua loucura a seus arredores. A princípio, a série da FOX se mostrou um épico bem ambientado, que contava a história de uma cidade tanto quanto contava a história dos personagens que a marcaram nos quadrinhos. A população de personagens de Gotham continua aumentando, não me entendam mal, e esses novos elementos adicionam detalhes ricos ao cenário, mas a série perde um pouco da solidez de sua premissa quando introduz esses novos personagens sem conectar suas origens aos males de Gotham City.

Nesse contexto o foco na parte procedural policial da série também perde um pouco da contundência, parecendo por vezes um acessório até inconveniente àqueles momentos que realmente desejamos ver acontecerem. Gotham era uma narrativa mais coesa quando tentava analisar as estruturas internas da cidade e detectar a corrupção mais arraigada, a filosofia propensa à maldade, à tragédia e à loucura, que permeava todas as instituições de lá – além de tudo, ainda eram boas oportunidades para Ben McKenzie brilhar.

Mesmo com todos esses poréns, “The Blind Fortune Teller” continua sendo um episódio empolgante para quem assiste Gotham pela sua visão sempre acertada de gênero e encenação nas origens dos personagens que conhecemos em uma mídia completamente diferente. Alardeado por ser a introdução do Coringa no rol de vilões da série, o episódio faz um bom trabalho de casting ao chamar Cameron Monaghan (Shameless) para o papel. O ator captura os trejeitos conhecidos do vilão e traduz bem o diálogo do roteirista/developer Bruno Heller, deixando que os close-ups em seu rosto no momento em que a psicopatia do personagem é revelada transmitam a dose certa de perturbação e sadismo. O episódio acerta ao não inventar uma história trágica para o personagem, pegando o espectador de surpresa (ou quase isso) ao mostrar o distanciamento emocional que ele sente pela própria mãe.

Nas beiradas do episódio assistimos Pinguim tendo problemas com a administração da boate de Fish, e recebendo a improvável ajuda de Butch – hipnotizado pelas “experiências mentais” de Victor Zsasz; e a própria Fish trabalhando para virar o jogo ao descobrir que a tal cadeia em que estava presa é na verdade um campo de concentração para doadores de órgãos. Esse primeiro subplot provém as divertidas e medicinais doses de pulp do episódio (Robin Lord Taylor agradece!), enquanto o segundo se apóia em uma ideia nada original e no carisma de Jada Pinkett para funcionar. A nossa torcida é para que Fish esteja de volta à Gotham City o quanto antes, e que a própria série siga a dica e volte a explorar as reentrâncias dessa cidade fascinante – mas não faz mal se divertir um pouco enquanto isso.

Notinhas adicionais:

  • Mark Margolis, indicado ao Emmy por Breaking Bad e recente guest-star de Constantine, arrebenta como o “vidente cego” do título.

✰✰✰✰ (4/5)

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