9 de fev. de 2015

Person of Interest 4x13: M.I.A.

Person of Interest - Episode 4.13 - M.I.A. - Promotional Photos

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Na televisão aberta americana atual, só Person of Interest, entre todas as narrativas movidas essencialmente por plot, seria capaz de entregar um episódio como “M.I.A.”. E a categorização de “série movida por plot” é importante porque a maioria dos shows realmente bons da TV americana, hoje, são de certa forma parecidos com The Good Wife, por exemplo, que é um procedural cuja narrativa maior é movida por arcos de personagem. Não é que em Person eles importem menos, mas basta observar a série nesses últimos quatro anos para notar que sua força propulsora, o motivo da rota que ela constrói para chegar a uma linha final, é a trama – dos questionamentos sobre natureza da Machine até a guerra entre ela e Samaritan, passando pela discussão sobre privacidade, paranoia e conexão humana no nosso tempo. Justamente por isso o fato de a série da CBS continuar fazendo episódios como esse 13º da quarta temporada é ainda mais impressionante.

“M.I.A.” é eletrizante como procedural, mas é ainda mais como exercício narrativo. Depois de quatro longos anos construindo sua bússola moral, Person ainda é capaz de questioná-la e, eventualmente, fazer seus personagens teoricamente heroicos jogarem ela para o alto e chocarem o espectador com os seus atos. Não é um choque vazio, no entanto, porque Person seria incapaz de um truque tão barato – quando Root interroga violentamente uma testemunha mesmo que tudo indique sua inocência, é sobre as próprias falhas da natureza humana que a série quer falar. Movida por uma ira descontrolada e pelo instinto quase gutural de seguir procurando por Shaw, a personagem de Amy Acker (na sua melhor atuação na série até aqui, hands down) se esquece de retidões morais e da complicada relação de distanciamento e empatia que o #TeamMachine precisa manter com o mundo que “protege”, a fim de não se tornar como seus próprios inimigos. É um momento muito real e intenso de Person of Interest, que ressoa por todo o restante do episódio, e empresta credibilidade a essa história cada vez mais digna de ficção científica que a série está se tornando.

A busca de Reese e Root por Shaw é só metade do episódio, mas continua a tendência de serialização que Person praticamente introduziu (ao menos nessa escala) ao procedural contemporâneo, contornando com graciosidade e propósito narrativo o afastamento de Sarah Shahi da série, devido a uma gravidez. Ao menos nos conhecimentos desse que vos fala, nenhuma outra série na história recente usou um problema de casting tão eficientemente no desenvolvimento dos personagens e na continuidade da trama. O affair todo em torno do desaparecimento de Shaw, o proverbial gato de Schrödinger de Person, parece muito oportuno para o momento que a série está vivendo, os desafios que precisa colocar frente a seus protagonistas e o drama que precisa criar para suportar as diversas linhas narrativas que conduzirão ao final da temporada, daqui há 9 semanas.

Paralelamente a tudo isso, ainda acompanhamos um caso-da-semana capitaneado por Fusco e Silva (a policial-em-treinamento que apareceu em “Point of Origin” – review), o que, desnecessário até dizer, é uma boa oportunidade para ver Kevin Chapman e a ótima Adria Arjona contracenando. A caça a um assassino de aluguel improvável das gangues criminosas não só rende bom entretenimento e nos dá a localização de uma personagem recorrente interessantíssima, como também se conecta com o tema do episódio ao mostrar os limites e as fardas do heroísmo, e onde mora o limite dele. Como toda boa (quase-)ficção científica, Person é ótimo em nos mostrar quem almejamos ser, quem esperamos nunca nos tornar e, principalmente, quem já somos.

Notinhas adicionais:

  • De forma típica de Person, porque a série é obcecada em mudar as regras do jogo, o gato de Schrödinger sai da sua caixa (entendedores entenderão) numa ceninha no final do episódio. O mais bacana é que a série se permite observar os efeitos dramáticos da dúvida nos personagens e, ao mesmo tempo, nos dar mais uma amostra da forma destemida com a qual os roteiristas encaram o processo de storytelling.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

413MIA002

Próximo Person of Interest: 4x14 – Guilty (10/02)

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