ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
“If-Then-Else” é um exercício excepcional de narrativa. Um daqueles episódios de televisão que, talvez daqui há 10 ou 20 anos, servirão de exemplo para mostrar o que essa mídia é capaz de fazer, o quão criativa e interessante ela pode ser. O roteiro assinado por Denise Thé (4x04, “Brotherhood” – review) resgata uma tradição da TV que andou perdida nessa que é chamada a “era de ouro” do formato: no melhor espírito dos episódios cômicos de Arquivo X e do grande musical que Buffy armou lá pelas alturas da sexta temporada, Person of Interest subverte a própria noção de história linear e mexe com a cabeça do espectador ao contar uma parábola poderosa sobre a brutalidade e a generosidade humanas – através de uma série de simulações operadas pela Machine de Finch, que está tentando tirar nossos heróis da situação mais espinhosa na qual estiveram.
Sem perder o espírito brincalhão que adquiriu nos últimos tempos, Person nos presenteia com alguns pequenos prazeres pelo caminho, recompensando o espectador que conhece bem os personagens e é capaz de se divertir com eles tanto quanto é capaz de se emocionar ou se angustiar com seus destinos. “If-Then-Else” marca a despedida de uma personagem que se infiltrou na memória afetiva do público da série de uma maneira impressionante, e presta tributo a ela entregando à atriz que a interpreta o material mais farto que lhe é dado em tempos. Sarah Shahi, como de costume, permanece ferozmente fiel a sua definição de Shaw, e é isso que torna especial cada momento dela no episódio – muito mais pela força da atriz do que por qualquer outra coisa, a personagem se tornou uma figura indissociável da série, e o efeito de sua morte é forte o bastante para sublinhar bem o tema do episódio e representar uma tremenda ruptura no funcionamento de Person.
“If-Then-Else” é um eletrizante jogo de xadrez contra a sorte, um estudo de personagem bem consciente do que a série nos informou sobre eles até agora, e uma ousadia narrativa que se encaixa perfeitamente com o mundo criado por Person, especialmente nesse quarto ano. É um thriller de ação ultra-atual sobre a forma como nos conectamos com as pessoas, e a diferença que faz essa dimensão humana do mundo. É uma demonstração dramática e extrema de que os cálculos de uma máquina não são capazes de prever cada comportamento e variável do mundo real. E é especialmente uma thinking piece filosófica e humanista sobre a necessidade de entender que nenhuma vida é menos importante que a outra – que a verdadeira compaixão e o verdadeiro sentimento não admitem a existência de “coadjuvantes” ou “protagonistas”.
Em pleno meio caminho de seu quarto ano, Person of Interest vira o tabuleiro de cabeça para baixo e deixa as peças caírem no chão mais uma vez, incitando o caos emocional que com certeza preencherá a segunda metade da temporada. E mostrando que, espatifados no asfalto, o peão e a rainha parecem exatamente iguais.
Notinhas adicionais:
- Eu NÃO estou brincando: a televisão americana pode se preparar para 2015, porque ainda estamos em 08 de Janeiro e “If-Then-Else” acabou de se tornar o episódio a ser batido.
- É preciso dar parabéns ao diretor Chris Fisher pela forma geniosa com a qual ele conduz essa narrativa cheia de brincadeiras conceituais, mas que ainda quer soar séria e importante no final das contas. Nem todo diretor conseguiria equilibrar esses tons, mas o trabalho do moço aqui é perfeito.
- B’bye Shaw! We’ll miss you!
✰✰✰✰✰ (5/5)
Próximo Person of Interest: 4x12 – Control-Alt-Delete (13/01)
2 comentários:
Quem disse que Shawn morreu? Nao apareceu na tela, nao aconteceu!!!
Bruno, não tínhamos pesquisado antes, mas achamos agora uma entrevista da Sarah Shahi que confirma que, morta ou não, a Shaw vai estar fora da série por pelo menos "algumas temporadas". A Sarah está grávida de gêmeos, já tem outro filho, e resolveu tirar uma longa licença pra cuidar da família.
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