por Caio Coletti
Apesar da boa recepção crítica, do buzz bem grande que sustentou por um tempo para a temporada de premiações, e das duas indicações ao Globo de Ouro, Rush passou em branco pelas nominações do Oscar, anunciadas ontem (16). Não dá para dizer que não é justo, embora Rush passe longe de ser um filme ruim, ou mesmo um filme mediano. Com a competição pelo prêmio da Academia acirrado como está, no entanto, é compreensível que essa produção menor de Ron Howard tenha ficado de fora da corrida (sem trocadilhos), abrindo espaço para momentos mais brilhantes de Woody Allen, David O. Russell e Martin Scorsese, entre outros. Isso tudo desde que não se deixe de saber que Rush é um filme que merece, e muito, ser assistido.
Howard é notadamente um crowd-pleaser que aos poucos aprimorou suas habilidades para transformar dramas acadêmicos como Uma Mente Brilhante (pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Diretor) e Frost/Nixon em sucessos também entre o público. Seja no campo emocional, intelectual ou físico, o diretor sabe como empolgar e envolver, tem uma noção bastante decente de narrativa e encenação, e encontra boas soluções de abordagem para os filmes que comanda. Dito isso, não há nenhuma novidade no seu trabalho em Rush, embora seja esse faro para manipular a percepção do público que faça as cenas de corrida do filme, seu próprio centro nervoso e dramátcio, momentos genuinamente excitantes e, quando preciso, agourentos e tensos.
A história acompanha a rivalidade entre o britânico James Hunt (Chris Hemsworth) e o austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl) nas pistas da Fórmula 1, especialmente na temporada de 1976, quando Lauda sofreu seu célebre e horrendo acidente. Como boa parte dos espectadores, eu acredito, vá entrar nessa história sem saber o final, existe um aspecto em Rush que é a expectativa e a incerteza, uma vez que o roteiro de Peter Morgan se estrutura literalmente como uma “corrida” entre esses dois homens vastamente diferentes. O escritor, que repete a parceria com Howard em Frost/Nixon, consegue equilibrar bastante seu filme entre Hunt e Lauda, embora não possa deixar de fazer o primeiro ligeiramente antipático. No papel, porém, a ideia é mostrar as falhas de ambos, e as formas como a competição entre eles os levou a serem melhores – na pista e fora dela.
Se há uma indicação ao Oscar que Rush deveria ter recebido, ela é para Daniel Brühl como Melhor Ator Coadjuvante. Por pura formalidade, aliás, porque o ator alemão conhecido pela participação em Bastardos Inglórios e pelo amado Adeus Lênin é tão protagonista quanto Hemsworth, se não mais. Compenetrado e ligeiramente impulsivo como é de seu feitio, Brühl empresta uma dignidade e uma arrogância a Lauda que, estranha e imprevisivelmente, o fazem uma espécie de “underdog” muito mais identificável do que o astro de cinema interpretado por Hemsworth. O Thor dos cinemas ainda não está preparado para segurar um papel dramático, mas é carismático o bastante para não comprometer o resultado final de Rush, um filme sobre rivalidade que, de maneira quase brilhante, é também um filme sobre o valor da convivência.
✮✮✮✮ (4/5)
Rush: No Limite da Emoção (Rush, EUA/Alemanha/Inglaterra, 2013)
Direção: Ron Howard
Roteiro: Peter Morgan
Elenco: Chris Hemsworth, Daniel Brühl, Olivia Wilde, Alexandra Maria Lara
123 minutos
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