20 de jan. de 2014

Estreia: “Looking” e o balanço entre a importância e a qualidade

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por Caio Coletti

Looking, a nova série da HBO, estreou ontem (19) logo após a exibição de “She Said OK”, terceiro episódio da nova temporada de Girls, hoje uma das marcas mais estabelecidas da emissora, em termos de crítica, prêmios e até audiência. As comparações não são só inevitáveis, como parecem ser encorajadas pelo canal, que vendeu Looking, mesmo que sutilmente, como uma versão para jovens gays da série de Lena Dunham. Então talvez tenha sido o mal da campanha publicitária mais do que qualquer outra coisa, mas nesse episódio de estreia, por mais forte que seja a sentença social que Looking queira marcar, a série ainda não se constrói em méritos próprios. Mesmo que tenha todo o potencial para fazê-lo nas próximas semanas.

O pedigree dos envolvidos ajuda: o estilo visual é a melhor arma da série para adquirir identidade própria, com o envolvimento do diretor Andrew Haigh (Weekend). Exatamente como fez em seu filme mais conhecido, esse editor transformado em diretor cria um estilo de observação único, posicionando as câmeras de maneira naturalista e nos deixando observar quase voyeuristicamente esses personagens. Mas há algo a mais além da excitação de “espiar” na direção do moço, e isso se manifesta no quanto Looking é capaz de humanizar seus personagens ao colocar nós, os espectadores, como “moscas na parede” entrando no mundo dessas pessoas. Há quem possa chamar de trapaça esse truque para realçar o realismo da trama, mas não deixa de ser um artifício muito eficiente.

O roteiro do estreante Michael Lannan é mais onde residem os problemas de Looking. Talvez seja exatamente essa a intenção, mas o fato é que esse episódio piloto reverbera vários dos temas e articulações pelas quais Girls já passou e ainda passa regularmente. São personagens na mesma faixa etária, lidando com problemas parecidos, com um senso de humor comum, e é realmente impressionante observar o ponto que a série quer fazer: independente da sexualidade, os seres humanos passam pelas mesmas ansiedades e pelas mesmas perturbações em cada parte da vida. O problema é que, a não ser por uma diminuída nos tons de soap-opera e um realce natural na sexualidade – uma coisa é quase consequencia da outra, que se diga –, Looking é uma repetição. Se vista por um certo ângulo, pode até ser considerado que a HBO subestimou os espectadores ao oferecer ao público gay uma série assim: “Gostam de Girls? Aposto que vão se identificar muito mais com esses personagens passando por problemas idênticos. Sabe porquê? Eles também são homens gays!”

A grande virtude da série até o momento são os personagens – e o elenco. O protagonista Patrick, a procura de um namorado, demora para crescer em tela, mas se mostra um caso de estudo fascinante com a sua relutância em sair da zona de conforto, algo que Jonathan Groff (Glee) traduz em uma performance imensamente carismática, evitando que ele se torne um personagem principal desprezível. Frankie J. Alvarez, por outro lado, emerge como um destaque rapidamente, na pele do lânguido Augustín, que está considerando se mudar para a casa do atual namorado. Trata-se de uma atuação sutilmente fascinante. O último do trio de protagonistas é Murray Bartlett, que talvez precise de mais tempo de tela para se destacar na pele de um personagem que parece ter passado do seu auge e não consegue aceitá-lo.

Nesses três protagonistas mora o verdadeiro potencial que Looking tem para se tornar uma ótima série. É verdade que a sombra temática preenchida por Girls é grande, e não é missão fácil contar a história de pessoas nessa faixa de idade apresentando alguma novidade. Minha aposta, no entanto, é que com todas as suas boas intenções, Looking é também sincera e competente o bastante para fazê-lo.

✮✮✮✮ (4/5)

Próximo Looking: 01x02 – Looking for Uncut (26/01)

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