21 de jan. de 2014

05 álbuns que fazem 10 anos em 2014 (e merecem ser celebrados)

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Hot Fuss (The Killers)

por Amanda Prates

O Hot Fuss não é apenas um álbum que faz 10 anos em 2014, mas um DEBUT que completa sua primeira década neste novo ano – um clássico contemporâneo quase! Na época abraçado calorosamente por público e crítica, o disco já trazia um The Killers que propunha desafiar os conceitos pré-determinados da indústria musical, que, com seus sintetizadores e teclas, misturava pop, rock alternativo, new wave e dance rock, aturdindo os críticos que insistiam em defini-los. E como toda banda que aparece no meio do nada e faz o sucesso ruidoso que eles fizeram, foram alvos de comparações, principalmente com bandas dos anos 80, como The Cure, Duran Duran e New Order.

“Mr. Brightside”, “Smile Like You Mean It” e “All These Things That I've Done” são a marca do disco que não se fez clássico apenas pelos sintetizadores e teclas e o estilo de guitarras e a pegada alternativa mais do que acertada, mas pelo maior instrumento da banda: os vocais inigualáveis de Brandon Flowers. Com seus graves quase rasgados, Flowers consegue transmitir o sofrimento e a intensidade que pode haver numa canção.

Hot Fuss poderia ser o debut que caracterizaria o Killers como a “banda de um hit só”, mas Sam’s Town veio dois anos depois para provar o contrário e confirmar que um debut pode ser o início já primoroso de uma carreira primorosa, caso do Killers, uma banda com cara de 30 anos, mas com corpinho de 10.

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Breakaway (Kelly Clarkson)

por Caio Coletti

Era 2004, e o reino da música jovem estava completamente dominado por bandas de pop-rock formadas por homens (The Calling, 3 Doors Down, Three Days Grace, o auge da popularidade do Goo Goo Dolls), apelando para o público feminino e cantando baladas-rock românticas como “Wherever You Will Go”, “Iris” e “Here Without You”. Claro que Avril Lavigne já era um nome bem sólido no mundo da música, e o ano a veria lançar um segundo álbum que só a trouxe mais público, mas o que Avril fazia era algo muito mais próprio, diferente e em certa medida experimental do que os nomes citados ali em cima. É aí que entra Kelly Clarkson, e seu Breakaway.

Vinda da vitória no American Idol, Kelly já havia estreado com o country Thakful no ano anterior, mas foi esse segundo lançamento de estúdio que revelou quem ela seria para a indústria: uma voz feminina em um mundo masculino. O pop rock nervoso dos primeiros singles do álbum ("Since U Been Gone" e "Behind These Hazel Eyes") propunha injetar energia em uma fórmula que aos poucos estava se desgastando, além de trazer a sensibilidade feminina para o gênero. Breakaway é um álbum extremamente romântico, e extremamente machucado. Bom exemplo são a clássica "Because of You", um dos lamentos mais amargos da música moderna, e a agoniada "Addicted".

Um outro lado do álbum, porém, traz a tona a Kelly Clarkson que um dia escreveria hinos como “Stronger (What Doesn’t Kill You)”. Emprestando a cadência melódica de Prince (!) em um contexto mais rock, "Walk Away" – nossa preferida pessoal – coloca a cantora desafiando um homem a tomar uma atitude, enquanto a faixa-título, "Breakaway", co-escrita pela própria Avril Lavigne, continua um delicioso chamado a libertação mesmo dez anos depois. Música boa, como de praxe, costuma envelhecer muito bem.

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American Idiot (Green Day)

por Vanessa Dias

Simplesmente um dos maiores ícones do punk rock mundial. Assim pode ser definido American Idiot, o álbum de maior consagração do Green Day na última década. Coberto de críticas à sociedade, o governo e às guerras, o álbum não apresenta sequer uma faixa considerada “mediana”, e acabou se tornando de conhecimento obrigatório para os que se dizem amantes do punk rock. Pudera, desde seu lançamento, American Idiot ficou no Top 200 de álbuns do Rock and Roll Hall Of Fame.

A faixa título, hino eterno entre os fãs de Green Day, abre o álbum com uma crítica a toda alienação americana durante o governo do presidente Bush. Seguida pela intitulada “Jesus of Suburbia”, a faixa de 9 minutos que conta a história do personagem-tírtulo (ou Saint Jimmy, protagonista do álbum), que decide explorar a cidade (City of Damned) de uma juventude regada a drogas, bebidas e cigarros. Mas, ao decorrer da música, Saint Jimmy sofre um momento de reflexão sobre sua vida, e parte para buscar algo novo longe de Jingletown, sua cidade. Trata-se de uma faixa épica e essencial para a construção do álbum.

Na sequência do álbum está “Holiday”, mais uma faixa que permanece muito viva mesmo uma década depois. O refrão marcante com a temática Carpe Diem já seria o suficiente para ser um sucesso, mas a faixa ainda faz uma apologia contra a Guerra do Iraque, e isso fica claro em trechos como “Bombs away is your punishment / Pulverize the Eiffel towers / Who criticize your government”. O álbum segue contando através das faixas a história de St. Jimmy e fazendo criticas pesadas à guerra do Iraque e ao governo Bush – levanto aqui as faixas “St. Jimmy” e “Wake Me Up When September Ends”, que conta a história de um casal que se separou pela guerra após o garoto ser convocado para o exército.

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Love. Angel. Music. Baby. (Gwen Stefani)

por Caio Coletti

Desnecessário incorrer no quanto “Hollaback Girl” marcou uma geração da música pop. A canção co-escrita e co-produzida por Pharrell Williams não só foi um dos maiores hits de 2004, como consolidou uma das mais gloriosas épocas do hip hop dentro da música mainstream. O potencial-chiclete dos múltiplos ganchos e refrões da canção (nosso preferido, obviamente, é: “This shit is bananas/ B-a-n-a-n-a-s”) ainda são o principal atrativo, dez anos depois, do álbum de estreia da carreira solo de Gwen Stefani, até então conhecida como vocalista da criticada e adorada na mesma medida No Doubt. Com sua inspiração na cultura japonesa, mas os pés musicais bem cravados no pop americano, Love. Angel. Music. Baby. é um pequeno prodígio de sua época.

A referência óbvia são os primeiros anos de Madonna, quando a identidade melódica e harmônica da música pop ainda estava se formando das bases do R&B. Esse caminho seria ainda mais explorado por Stefani no segundo álbum, o ótimo The Sweet Escape, mas dicas dessa obsessão já aparecem em várias faixas do L.A.M.B., especialmente as gostosas baladas "Cool", "The Real Thing" e "Serious". Os múltiplos produtores, por outro lado, trazem um sabor bem diverso para o disco, mesmo dentro dos diferentes ramos de músicas dançantes voltadas para o hip hop: para cada "Bubble Pop Electric", temos uma "Rich Girl" para balanceá-la. Para cada Andre 3000, um Dr. Dre.

Há um caso para ser feito em relação a L.A.M.B. ser o melhor álbum pop do seu ano, e essa lista mostra que de fato não há muitos concorrentes no gênero (alguém notou que os nossos 5 estão predominantemente rockers esse ano?). Independente do título ou não, no entanto, é uma obra que precisa ser redescoberta o tempo todo para que não esqueçamos o quanto aquela moça do No Doubt é capaz de surpreender.

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Franz Ferdinand (Franz Ferdinand)

por Caio Coletti

A estética musical do Franz Ferdinand mudou bastante desde 2004, muito para o benefício do conceito da banda entre a crítica, inclusive. Um artista que confia demais na própria fórmula está fadado a um dia encontrar limitações nela. A sofisticação do Franz, no entanto, fez com que a energia do álbum de estreia, auto-intitulado, lançado no fatídico ano que analisamos aqui, nunca mais fosse repetida, e é difícil negar isso ao se ouvir o Franz Ferdinand hoje em dia. O estílo cinético e dramático da banda que ouvimos no Right Thoughts Right Words Right Action pode tê-lo feito um dos grandes álbuns de rock de 2013, mas a graça desse novo disco é bem diferente do charme cru do primeiro da discografia da banda.

Até os hits aqui são bem menos maquiados que a faixa mais sombria do novo Right Thoughts. Até hoje o maior sucesso da banda, “Take me Out” conta com uma guitarra punk que se sobrepõe ultrajantemente à melodia pop cheia de ganchos e brincadeiras que aprendemos a esperar de Kapranos e companhia. A história é mais ou menos a mesma com "This Fire", uma canção fundamentalmente grudenta envolta por sonoridade suja por todos os lados. Ao ver os clipes desses dois singles, inclusive, dá para notar que, apesar de já influenciada pelos mesmos movimentos artísticos que a cercam até hoje, a banda imbuía tudo com uma pincelada decadente e rústica, quase improvisada.

Todos os cacoetes e características que fizeram do Franz uma das bandas de rock com assinatura mais reconhecível do século XXI estão aqui: a teatralidade de "Auf Asche" salta aos olhos pela produção bem diversa, incluindo sintetizadores, batida eletrônica e até órgão no arsenal da banda. Existe um ar de tragédia decadente no ar, como sempre existe em tudo o que os escoceses fazem. A diferença que faz o Franz Ferdinand tão especial é que, aqui, essa é uma tragédia muito mais visceral.

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