por Caio Coletti
ATENÇÃO: esses reviews contem spoilers!
A estratégia da FX com a terceira temporada de Wilfred ainda não está completamente clara. A exibição de dois episódios por semana pode indicar uma vontade de atrair espectadores novos para a trama, tanto quanto pode indicar quea emissora está queimando os episódios o mais rápido possível para anunciar um cancelamento. A série, que nunca teve uma audiência exatamente fabulosa, estreou a terceira temporada com números dentro da média esperada Mais cedo nesse ano a FX anunciou a renovação de Wilfred com uma temporada de treze episódios, portanto ao menos pelas próximas semanas os fãs podem ficar tranquilos.
Dito isso, “Suspicion” é obviamente um daqueles episódios com a premissa perfeita para criar um episódio relevante, histericamente engraçado e interessante de Wilfred. O conceito central aqui aparece, como sempre, no quote inicial: “A suspeita é uma arma pesada, e com seu peso impede mais do que protege”. Abrimos o episódio com o retorno de Kristen (Dorian Brown), irmã de Ryan que teve um bebê na temporada anterior e viu o pai do mesmo abandoná-la. Ela reluta em deixar o pequeno Joffrey aos cuidados de Ryan quando tem um encontro com o aparentemente perfeito Michael (Barry Watson). É claro, nosso protagonista não tem tanta fé na legitimidade do moço.
Aqui domina o conceito de Wilfred como uma espécie de anjo da guarda às avessas, conforme ele age como se estivesse com ciumes de Bear (o urso de pelúcia com quem “se casou” alguns episódios atrás) quando este encontra em Joffrey um companheiro – Wilfred nunca falha em fazer qualquer pessoa que tente descrever suas storylines parecer automaticamente retardado. O personagem de Jason Gann age como um espelho para o comportamento de Ryan, que parece suspeitar de Michael acima de tudo porque não quer que Lindsay deixe de “precisar” do irmão mais novo.
Em “Suspicion” temos também a primeira aparição (ainda que só em voz) do pai de Ryan, pintado como uma figura vilanesca nas duas temporadas anteriores da série. A conversa entre pai e filho por telefone é curiosa: no espírito do episódio, as suspeitas de Ryan em relação a figura paterna parecem menos fundadas do que poderiamos supor. Wilfred brinca com a noção de ter um protagonista que vê o mundo de maneira distorcida e fazer o espectador assumir o olhar desse protagonista. Se tudo isso for uma ilusão, uma paranóia maniaco-depressiva, nós ficaremos tão estupefatos quanto Ryan.
***** (4,5/5)
Escrito pelo co-astro da série Jason Gann, “Sincerity” é uma abordagem muito mais sutil a uma premissa similar em estrutura ao episódio anterior. Claro, aqui também temos cenas hilárias com Wilfred e Ryan frequentando uma escola de adestramento, e Gann presenteia a si mesmo com vários bons momentos cômicos (a cena durante os créditos em que ele e Ryan discutem a premissa de Titanic é sensacional de uma forma tão apropriada para Wilfred). Ah, e temos a oportunidade de ouvir Elijah Wood afetando um sotaque australiano com a voz algumas oitavas acima do normal. I mean, não é qualquer série que pode proporcionar um momento como esse.
Wood está ótimo nesse conto em que Ryan reencontra uma paixão da escola (participação especial da estrela em ascenção Jenny Mollen) apenas para descobrir que ela se tornou o que Wilfred chama de “dog weirdo”: donos que mimam seus cachorros com roupas ridículas, carinho sufocante e vozes de bebê. Vendo a oportunidade de conseguir algo com a moça, Ryan diz que é o dono de Wilfred, e as mentiras vão escalando a partir daí. “Sincerity” seria um episódio fácil de matar, se Gann não o tivesse feito tão intrincado com a história passada da série.
É admirável que Wilfred, em seu quarto episódio da temporada, siga considerando os efeitos duradouros que acontecimentos passados tem em seus personagens. No final de “Sincerity”, Ryan admite para Wilfred que suas mentiras compulsivas para a garota que acabou de reencontrar são frutos do medo de revelar a ela seu verdadeiro eu. E que esse medo é consequencia do que aconteceu da última vez que o fez, com Amanda, que no finale da segunda temporada, o espectador deve se lembrar, foi arrastada para um hospício. Esse é um momento dramático gentilmente encenado, que faz bem para o contexto da série. Wilfred não é só “uma lição por semana”. É também uma história contínua que vale a pena assistir.
***** (5/5)
Próximo Wilfred: 03x05 – Shame (11/07)
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