5 de jun. de 2013

“Escuta Essa”: Um ebook com contos inspirados por canções brasileiras

escutarnb

texto por Caio Coletti
entrevista por Gabryel Previtale

Em torno de 60 pessoas estiveram envolvidas na produção de Escuta Essa, terceiro ebook organizado por Izadora Pimenta, colunista do RocknBeats.com e estudante do último ano de Jornalismo na PUC-Campinas. Izadora vem construindo no último ano um histórico de organizar coletâneas literárias com o objetivo de serem publicadas online: o primeiro projeto, intitulado Um ou Mais Graus de Separação, saiu em Agosto passado, reuniu 28 “escritores de gaveta” e, alguns diriam, concretizou seu medo mais arraigado (e seu maior sonho, por mais contraditório que pareça): tornou seus trabalhos públicos.

O Anagrama destacou "Um ou Mais Graus de Separação" aqui!

A proposta de Escuta Essa é ainda mais interessante. A inspiração vem do trabalho Aquela Canção, organizado por Livia Garcia-Roza e Arthur Nestrovski, que selecionou grandes nomes da literatura brasileira para criar histórias a partir de gravações clássicas da MPB. Pensando em atualizar a proposta, Izadora chamou 30 escritores para “fazer o caminho inverso: ao invés de colocar a trilha sonora em uma história, fazer uma história a partir da trilha sonora”, tendo como base canções da nova cena da música brasileira. O “alcance musical” do projeto não se limita: de “Vânia”, dos goianos da Banda UÓ (que inspirou o conto homônimo de Ivan Perina, página 55); até “Canção Para Você Viver Mais”, do Pato Fu (fonte de “A Piscina Vazia”, de Ana Clara Matta, página 85), passando por bandas menos conhecidas como a Graveola e o Lixo Polifônico, cuja “Rua A” gerou “Rajado”, de Guilherme Pietrobson (página 105).

Leia o "Escuta Essa" aqui!

Outras 30 pessoas subiram a bordo do projeto quando Izadora estava planejando o projeto gráfico do novo e-book, processo que ela descreve como essencial para esse tipo de empreendimento. “Tem que tornar o e-book atrativo visualmente, se não a audiência vai embora. A internet tem muito isso, precisa de foco”, diz ela. Para resolver a parte visual da equação, portanto, Izadora e seus colaboradores reuniram outros 30 ilustradores para produzir imagens que dessem âmbito visual aos contos. O resultado é um dos trabalhos colaborativos mais completos e sensoriais dos últimos tempos, sobre o qual Izadora disserta para O Anagrama na entrevista abaixo:

O Anagrama: Você acha que fazendo contos baseados em músicas, os fãs desses artistas vão sentir a obra que eles admiram “menosprezada”, como se não fosse completa em si mesma? Tende a haver um tipo de frustração em relação a isso?

Izadora: Olha, eu acho que não, porque o conto não é uma coisa intrínseca à música especificamente, ele é uma coisa a parte. Você tem a opção de ler, e gostar ou não, como qualquer texto que você encontra na internet sobre qualquer música. Pra qualquer coisa que você escrever, seja um conto baseado numa música ou uma resenha dessa música, vai ter alguém falando mal, alguém falando bem, alguém se identificando e alguém não se identificando. Até agora eu não tive nenhuma resposta negativa, não ouvi ninguém falando ‘Ai, que horror! Um conto da música que eu gosto que não ficou legal’, mas se aparecer é consequência.

O Anagrama: Por que o e-book e não o livro físico?

Izadora: O e-book na verdade é um caminho mais fácil pra gente, né? Porque se a gente for lançar um livro, com todo o processo comum, que é você passar por uma editora, você esperar aprovação, é um caminho mais difícil de ser publicado, né? E desde que eu lancei o meu primeiro livro eu procurei trabalhar mais com essa produção independente mesmo, que é você faz, você publica e as pessoas lêem, sem um caminho intermediário. E eu acho que tanto agora que a gente tá procurando por editoras, e tem uma que se interessou bastante pelo projeto, uma editora ainda pequena, a gente não conseguiu viabilizar por eles, porque o custo de produção desse livro com toda a parte visual dele é um pouquinho alto. Então a gente optou pelo crowdfunding, porque vai ser uma maneira mais simples de poder realizar a versão física. É legal você ter o seu livro na mão, é legal você ler, mas se é pra optar por um caminho mais fácil, se a gente quer atingir mais pessoas, a internet tá aí.

O Anagrama: E nessa mesma linha, você não acha que o ebook restringe ou limita aquelas pessoas que não estão acostumadas a ler em formato digital? Talvez acabaria diminuindo o alcance que teria um livro físico.

Izadora: Olha, eu acho que diminuir o alcance não seria o ponto certo. Eu acho que o ponto na verdade é você pensar em quem vai ser o público do seu trabalho. Porque de qualquer forma, seja o trabalho online ou seja o trabalho impresso, ele demanda essa parte do público, da pessoa que tá interessada e que vai atrás de ler. E o ebook tem que ter todo um cuidado, porque ele não pode ficar visualmente maçante, tem que tomar cuidado com a fonte que você vai usar, tomar cuidado com os atrativos, e eu acredito que a gente trabalha de uma forma nesse livro, que ele é um livro atrativo para as pessoas. Pelo menos a curiosidade de alguém de ler um ou outro conto. No livro físico a gente teria o mesmo problema, o livro ia estar lá, mas nem sempre a pessoa ia falar ‘Ai, que legal, um livro, vou ler’ (risos). Então eu acho que é mais ou menos o mesmo processo, vai mais do interesse da pessoa do que da plataforma.

O Anagrama: Qual é a pretensão do projeto? Porque fazer um livro para ficar online?

Izadora: Olha, na verdade eu sou uma pessoa que gosta de fazer coisas. Eu não gosto de ficar parada, na verdade eu acho que eu arrumo até coisa demais pra minha cabeça. E surge de uma vontade que eu tenho, e que eu sei que outras pessoas tem, de ver lá o seu trabalho publicado, tanto o texto quanto a ilustração. Eu acho que essas coisas surgem de um fator comum, várias pessoas que se unem pra fazer um trabalho.

O Anagrama: Então você não teve nenhuma visibilidade lucrativa, você queria mais expor a sua ideia, o seu projeto, ou tinha alguma linha de lucrar com isso ou quem sabe virar algo maior?

Izadora: Não, em nenhum momento a parte lucrativa é o maior estímulo. Claro que a gente procura viabilizar isso de algum modo que a gente possa lucrar, afinal todo mundo quer ser reconhecido pelo seu trabalho, não só de nome, mas todo mundo quer ter um retorno daquilo que você faz. E a gente tá trabalhando agora pra viabilizar esse projeto, e não sou só eu que vou ganhar, lógico. Eu organizei, mas a gente tá trabalhando para uma divisão justa, de todo mundo que fez conseguir receber um reconhecimento por esse trabalho. Tanto é que a gente já vendeu algumas ilustrações do livro na festa de lançamento, que a gente fez uma edição especial delas em A3, e todo o dinheiro dessa venda tá guardado, pra se a gente for lançar o livro, a gente já ter essa renda. Então é tudo num bem comum.

Colabore com o crowdfunding para lançar a versão impressa do livro!

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