por Andreas Lieber
Que Da Vinci’s Demons foi uma das melhores estreias da temporada ninguém duvida, vide a confirmação de uma segunda temporada logo após o primeiro episódio. Mas, de acordo com o desenvolvimento da história, ficou claro que a série tinha a capacidade de ser muito mais do que isso. Esclarecendo um dos períodos da história mais cheio de tramas e fascinação, Da Vinci’s Demons veio com o objetivo, e o antingiu com maestria, podemos dizer, de elucidar a vida de um dos maiores gênios da humanidade, mesmo que acrescentando aqui e ali pitadas de ficção. Claro, há quem odeie a série e tudo o que ela optou por não mostrar – ou ocultar –, mas por outro lado, há quem acredite, como esse que vos escreve, que os mistérios de uma era parcialmente documentada nunca serão revelados em sua totalidade e que, as vezes, mesmo se transformando em absurdo, a ficção vem para ajudar.
Começamos “The Lover”, oitavo episódio e season finale, com alguns dos Son of Mithras que já haviam aparecido ao decorrer da série alguns anos antes da realidade em Florença, descrevendo Da Vinci como um certo tipo de “escolhido” para a recuperação do famoso – e lendário? – Book of Leaves. Dentre os presentes vemos Cosimo Medici, que recebeu a missão de guardar um artefato o tempo necessário. Voltando ao presente, temos a continuação da história do episódio passado com Da Vinci, Nicco e Zoroaster se decidindo por deixar Florença quando Da Vinci avista uma águia rara na região: a última vez que a viu foi em seu berço, quando sua mãe desapareceu. Seguindo-a, em mais uma cena incrível em câmera lenta da série, ele encontra pela segunda vez desde o pilot, Al-Rahim, que o dá instruções específicas de como chegar às novas terras e recuperar o livro.
Enquanto isso… Giuliano está vivo! Sim, salvo do rio pela plebe que vive aos arredores da estrada, ele se apressa de volta para Florença alertar Lorenzo sobre a traição de Lucrezia. Falando em Lorenzo, os Pazzi finalmente completam seu círculo de tramas palacianas e, juntamente a Riario, planejam matar o soberano de Florença, Clarice e suas filhas em plena missa de Pascoa. Enquanto o Capitão Dragonetti se mostra um agente duplo-duplo e, na verdade, sempre esteve ao lado de Florença, ele ajuda Giuliano a chegar ao seu destino e impedir o assassinato de sua família. Com Da Vinci tendo que escolher entre partir em sua jornada e defender a cidade, ele tenta a sorte na última – quebrando assim o paradigma de “o escolhido” que não combinava com ele de qualquer modo? –, terminando o episódio em um dos cliffhangers mais miseráveis (no bom sentido), em muito tempo.
Como vários de seus outros episódios, “The Lovers” teve um começo um tanto quanto lento, mas atingiu um ápice eufórico nos últimos quinze minutos e nos trouxe novas informações, como a jovem Vanessa descobrindo que está grávida de Giuliano e, finalmente, a morte do próprio em uma luta dentro da igreja para salvar sua família. Como nos conta a história, esse foi realmente o momento de sua morte, só esperávamos que fosse adiado na série. Com sua melhor atuação na série até agora, Laura Haddock nos entrega uma Lucrezia dividida entre emoções e que acaba nas mãos de Riario novamente, que está se mostrando cada vez mais um dos melhores vilões da televisão atual. Da Vinci’s Demons encerrou sua temporada de forma maestral, nos deixando pendurados pelo pescoço no meio de eventos significativos. Talvez a série não sobreviva para uma terceira temporada, mas terá tempo de sobra de fechar seu arco em uma segunda, se tão bem feita quanto a primeira.
(****) 4/5
por Caio Coletti
Nas últimas oito semanas, acompanhamos Da Vinci’s Demons passear de um lado para o outro e borrar as linhas entre realidade histórica e ficção absoluta, de uma forma que, longe de ser uma falha, revelou-se ser uma de suas maiores forças. A sensação de que tudo (ou quase tudo) podia acontecer guiou o espectador a um permanente estado de curiosidade que, querendo ou não, tinha muito a ver com o próprio espírito da série. Em uma cena simbólica desse season finale intitulado “The Lovers”, um diálogo entre Verocchio e Da Vinci vai mais ou menos assim: “Cada questão que você responde leva a uma outra questão. E tais buscas levam muitos a nada a não ser a miséria”, diz Verocchio. “A verdadeira miséria”, responde Da Vinci, “é se todas as questões estiverem resolvidas, porque então não há nada mais para perguntar”.
Sejamos sinceros, Da Vinci’s Demons joga uma quantidade obcena de golpes baixos em “The Lovers”, e não é nem mesmo no bom sentido. A começar no fato que a narrativa toda é construída em torno do conflito de Leo, que não sabe se embarca na viagem para a “misteriosa terra” onde se encontra o Book of Leaves (como aconselhado pelo Turco) ou permanece em Florença para evitar a tomada de poder pelas mãos dos Pazzi. Nós sabemos que isso não é um conflito de verdade, porque mesmo que Da Vinci’s tenha estabelecido o clima para a quebra com os padrões históricos, não se propôs a ser um pastiche à la Bastardos Inglórios, e tampouco arriscaria mudar o jogo de sua narrativa com apenas uma temporada de oito episódios no currículo.
O que faz essa parte do episódio funcionar é o esforço de Tom Riley, que interpreta um Da Vinci no ápice da ansiedade, quase como no ótimo episódio “The Tower”, em que o maestro ficou preso e sua sanidade foi contestada, mas com uma abordagem mais sutil. Aplausos devidos também para a intensa interpretação de Laura Haddock. Sua Lucrezia acaba sendo a personagem com o propósito e as “falhas” mais críveis em toda a série, e sua atuação bem desenvolvida abrilhanta a melhor cena do episódio: um diálogo tenso entre Lucrezia e Da Vinci sobre motivações maiores que a lealdade. Tom Bateman diz adeus a Da Vinci’s Demons (nós presumimos) com dignidade na pele de Giuliano, devidamente apoiado pela sempre sensível (e lindíssima) Hera Hilmar.
“The Lovers” tem mais alguns problemas de narrativa: para mencionar dois, a estranha e repentina mudança de lealdade do Capitão Dragonetti, a reação enciumada de Lorenzo na cena final em que descobre do caso de Lucrezia e Leo (que, no entando, não aconteceu na mesma medida quando Da Vinci sugeriu explicitamente que o Il Magnifico lhe “desse de presente” a amante). Acontece que o último truque na manga dos roteiristas consegue colocar tudo em perspectiva: numa sequencia eletrizante de ação para fechar o capítulo, Da Vinci’s atiça o espectador e… deixa tudo no ar. De uma forma estranha e extremamente prazerosa, esse é exatamente o jeito que a primeira temporada dessa série deveria terminar.
**** (4/5)
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