Desde o advento dessa ferramenta indispensável que é o Twitter, é muito mais fácil observar o quanto a diversidade de visões e opiniões ao redor do mundo pode criar uma polêmica a partir de, virtualmente, qualquer coisa. Em tempos que ser “politicamente correto” é um conceito que se espalhou para áreas nas quais não deveria ter fincado raízes (ainda que nenhum momento seja ruim para lembrar da elegância necessária a uma discussão), a própria menção do nome da rede de microblogs é motivo de rixas. Há quem o considere um instrumento da democracia e da mais pura liberdade de expressão, e há quem replique dizendo que se faz barulho demais por nada. A bem da verdade, como qualquer outra, o Twitter é uma ferramenta que pode ser usada tanto como uma forma de abrir a própria mente quanto como uma maneira de definitivamente estreitá-la nos eternos “sua opinião não vale nada”. Como se a de quem profere tal coisa valesse mais, e como se o outro não tivesse tanto direito quanto ele de expressar sua visão.
Enfim, discussões sociais a parte, eu queria chegar mesmo a na recente mania que se tornou o comercial da Nissan na qual são apresentadas as mezzo-fofas, mezzo-sinistras figuras dos “Pôneis Malditos”. O golpe publicitário da marca é impecável. Mirando na Internet e na sua capacidade de espalhar tudo aquilo que se torna simbólico de alguma forma, a Nissan conseguiu notoriedade nacional, e não deve nem estar se lamentando muito pela decisão do CONAR, o órgão que fiscaliza a atividade publicitária no Brasil, em proibir a veiculação do comercial na TV aberta. O bater do martelo só deu mais notoriedade ao vídeo, cuja principal forma de propagação havia sido mesmo online, um meio que órgão nenhum é capaz de controlar. Acontece que a discussão levantada em torno do contexto agora é outra: aprovada sob a justificativa de que a desvirtuação de figuras consideradas “fofinhas” pelas crianças seria prejudicial a instituição da infância, a medida de veto ao comercial ascende a discussão sobre a influência da propaganda, e da mídia em geral, sobre os valores contemporâneos.
Três casos recentes servem de objeto de estudo nesse sentido. No primeiro, um garoto alemão de 11 anos que chamou a polícia ao receber de sua mãe a ordem de recolher as coisas e arrumar seu quarto, e a denunciou por “trabalhos forçados”. O caso chega a ficar engraçado quando colocamos ao lado desse outro, uma garota de 10 anos que foi hospitalizada em coma alcoólico no interior de São Paulo. Segundo a mãe, a menina havia dito que estava saindo para brincar, mas na verdade foi a casa de um amigo, onde consumiu vinho e cachaça até ser levada ao hospital por um rapaz que se apresentou como seu primo. São duas notícias que tocam um pouco no território do "absurdo” ou do “inimaginável” até mesmo para quem teve sua infância nos últimos pares de anos do século passado, como este que vos fala. E é a evidência de que há algo errado, sim, na forma como esse novo tempo está moldando a juventude. Mas, veja bem, apontamos o dedo para o lado errado. Falo por mim. A exposição a filmes e video-games violentos e a músicas de conteúdo chamado ou subversivo ou inapropriado, nada disso me fez um jovem violento ou prematuro.
O terceiro caso em questão faz pensar no mesmo sentido. Jeremiah Lee Wright é um americano de 30 anos, o que significa que viveu na infância e adolescência a cultura dos anos 1980, quando os filmes de John Hughes mantinham o santuário da juventude intacto sem abrir mão da qualidade cinematográfica. E, ainda assim, no último dia 15 (segunda-feira), Jeremiah foi preso na Louisiana por decapitar o próprio filho, Jori, garoto de 07 anos, cadeirante e vítima de paralisia cerebral. Tudo bem que a jogada viral do vídeo dos pôneis aplica um sustinho, mas chega a ser ridículo pensar que a “desvirtuação de uma figura fofinha” na infância leve a um ato como esse.
Mas enfim. A polêmica passou, a Nissan saiu da lista dos tópicos mais falados do Twitter, e todo mundo voltou a assistir A Fazenda. Mesmo porque não dá pra passar sem saber se a Bruna Surfistinha vai sair essa semana ou não. A cultura da ignorância, placidamente assentada em seu trono, agradece.
“Para o bem ou para o mal, suas palavras são sua propaganda. Todas as vezes que você abre a boca, você revela o que existe em sua mente”
(Bruce Barton)
1 comentários:
Ufa! Que bom que achei um bom artigo de opinião. Tava tentando me inteirar nessa coluna de moda mas não conseguia entender nada!
Gostei da argumentação. Essa questão é tão complicada... A razão de hostilizar um jogo, por exemplo, pode não ser o medo de criar psicopatas, mas de aumentar a indiferença da sociedade para com a violência. Não concordo com a censura aos pôneis, aos filmes etc, mas vejo a lógica nisso.
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