por Caio Coletti
O título em português, para não perder o costume, é um desastre. O diretor Jake Kasdan pode nem ter visto o seu Bad Teacher se tornar Professora Sem Classe em terras brasileiras, mas não o julgue menos esperto por isso. Pelo contrário, aliás. Ainda que não seja a comédia mais hilariante do ano, a obra do mesmo cara que dirigiu A Vida é Dura e já havia mexido com o universo escolar no hoje pouco lembrado Orange County tem seus bons momentos cômicos e, acima de tudo, é um filme que tem muito a ver com o seu tempo. O que eu quero dizer é: pense nos últimos grandes atos cômicos americanos. Eu posso apostar meu próximo boletim escolar que a primeira coisa que veio a sua cabeça foi Se Beber Não Case. Ou, no máximo, Ligeiramente Grávidos. O primeiro é a história de um grupo de caras que tenta encontrar um deles após a mais louca noitada em Las Vegas. Um detalhe: o membro perdido da trupe está prestes a se casar. O segundo, bom, é sobre um marmanjo engravidando sua namorada acidentalmente.
Não é preciso nem ir tão longe. Aqui mesmo, no Brasil, os grandes nomes do humor estão passo a passo ficando associados aquela graça ácida, sem limites ou julgamentos, que mexe com todo o tipo de convenção e senso comum com o mesmo espírito subversivo. Três exemplos claros são Rafinha Bastos, Danilo Gentili e Marcelo Adnet. Há de se notar, aliás, o trio de nomes mais popular no humor brasileiro hoje. Em tempos que os ditadores do politicamente correto se manifestam com a mesma altura de voz daqueles que simplesmente defendem que a correção política é o mal da sociedade contemporânea, a verdade é que toda essa conversa é inutilizada pela própria arte cômica atual: estamos vivendo, obviamente, o reinado do politicamente incorreto.
Opiniões pessoais a parte (para mim, registre-se, é claro que correção política só é mandatória mesmo quando o assunto é a política em si), Bad Teacher é um filme tão ajustado a seu tempo que, às vezes, até perde um pouco da graça. Se Beber Não Case tinha o senso de aventura e caos que acompanhava a enorme ressaca pela qual os personagens passavam. Ligeiramente Grávidos se aproveitou muito da graça singela de Seth Rogen e do pendor emocional do diretor Judd Apatow. Qual é o diferencial, afinal, que poderia fazer de Bad Teacher uma obra para ser lembrada daqui a uns anos, como essas são até hoje? Nada demais. O filme carece de um elemento-surpresa. O roteiro da dupla que é responsável pela versão americana do seriado The Office (Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg) guarda algumas cartas na manga, mas nenhuma inovação dinâmica na narrativa. O diretor Kasdan impõe ritmo e ambientação competentes, mas é só.
A grande arma de Bad Teacher para conquistar seu público (o que o filme com certeza faz) acaba sendo, previsivelmente, Cameron Diaz. Vai me dizer que você, caro leitor, sabia que a dançarina sexy de O Máskara, a rouba-cenas de O Casamento do Meu Melhor Amigo, o objeto de desejo de todo o elenco de Quem Vai Ficar Com Mary? ou a belezinha dançante de As Panteras era uma atriz capaz de segurar um filme praticamente sozinha? Não que ela permaneça solitária em cena e, para fazer justiça, o trabalho de Phyllis Smith como a colega professora de Cameron é algo de brilhante. Mas é tão surpreendente o carisma e a vitalidade que a ex-modelo californiana traz para sua atuação como a incorretíssima professora Elizabeth Halsey que fica difícil não reconhecer o lado bom dessa protagonista, e mais difícil ainda não gostar do filme quando os créditos sobem.
Em curtos 92 minutos, Elizabeth negligencia alunos, rouba o namorado de uma de suas colegas, desvia dinheiro que deveria ser para uma viajem escolar, usa drogas e faz muito mais, tudo para conseguir um implante de silicone e um namorado rico. Soa mal, eu sei. Mas ela também é humana. E, bom, essa é a heroína do século XXI, meus queridos. Eu duvido que alguém seja capaz de torcer contra ela.
Nota: 7,5
Professora Sem Classe (Bad Teacher, EUA, 2011)
Dirigido por Jake Kasdan…
Escrito por Gene Stupnitsky, Lee Eisenberg…
Estrelando Cameron Diaz, Lucy Punch, Jason Segel, Justin Timberlake, Phyllis Smith, John Michael Higgins…
92 minutos
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