27 de Agosto de 2001. No cinema brasileiro estreava um filme que, para além de simplesmente ter feito os musicais voltarem a moda em pleno século XXI, para além de ditar tendências e redefinir o ideal romântico do mundo todo, se destacava como uma obra personalíssima, capaz de comoção e expressão sem par na sétima arte moderna. Você pode negar muitas das qualidades de Moulin Rouge! – Amor em Vermelho, mas você simplesmente não pode deixar de admitir que se trata de uma daquelas experiências cinematográficas inesquecíveis. Você pode chamá-lo de um enorme videoclipe, e pode dizer que musicais destróem o ideal de realismo do cinema moderno. Você pode chamar o roteiro de ingênuo, maniqueísta, manipulador de emoções, piegas, brega. Você pode dizer que o estilo de Baz Luhrmann é dramatizado além do limite. Mas qual é a validade de termos críticos quando um filme é capaz de grudar no imaginário do mundo inteiro?
Satine é um ícone. Não tem como discutir isso. Da primeira aparição, cantando Diamonds Are a Girl’s Best Friend, até o final trágico que já não deve ser spoiler para ninguém, Nicole Kidman e Baz Luhrmann contróem juntos uma personagem para marcar todas as heroínas românticas e entrar ao lado da Rose Butaker de Kate Winslet para a galeria de personagens femininas mais marcantes dos últimos 15 anos. Nicole é uma atriz de sutilezas trazidas a flor da pele. É uma dessas intérpretes cuja própria presença traz ao filme o frescor, a originalidade e a transpiração de verdade que todo filme deve ter. Em todo o mundo de fantasia de Luhrmann, entre a inocência romântica de Ewan McGregor e a caricatura de Jim Broadbent (não me entendam mal, ambos estão brilhantes em seus papeis), Kidman é a responsável por fazer de Moulin Rouge! uma história que, tão idealizada, ainda é capaz de emocionar de verdade.
Não se tire o mérito de Luhrmann, como muitas vezes é tirado, no entanto. O diretor é um maestro genial para todos os elementos da complexa equação que faz Moulin Rouge! funcionar tão bem. É notável como ele coordena figurino, cenografia, direção de arte, música, fotografia, edição, atores e coreografias num arranjo em que tudo faz sentido, colocado onde está. O argumento geral dos críticos contra Luhrmann é que o australiano é ambicioso demais. A minha resposta é simples: quando se tem talento o suficiente para lidar com a própria ambição… Luhrmann dá conta do que se propõe, e cria o que pode muito bem ser o filme mais inesquecível da nossa década. Porque, enquanto Hollywood aos poucos cansava seu público com a grandiosidade dos efeitos e da ação, esse musical nos lembra que existe outro tipo de tamanho, que é muito mais documento quando o assunto é cinema. Moulin Rouge é grandioso, sim, e não se desculpa por ser. Mas o é em emoção.
Nota: 10,0
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Corta para 27 de Agosto de 2009. Oito anos depois de Mr. Luhrmann lançar sua obra maior nos cinemas brasileiros, esse pobre mortal, cuja paixão por cinema em grande parte foi incentivada por Moulin Rouge!, juntava tudo o que lhe interessava em um espaço só. O Anagrama nascia. É com muito orgulho que eu comemoro hoje os dois anos do blog. Ele passou por uma reinvenção no comecinho de 2010, e a bem da verdade continua passando, continuamente, até hoje. Porque a vida é assim. A gente cai e se levanta, se inventa e se reinventa. É novo e se renova. Sempre.
Eu quero agradecer todo mundo que fez parte desses dois anos. Contribuindo, comentando, lendo. Nesses dois anos em que tanta coisa mudou comigo e com o mundo a minha volta, estar aqui sempre foi um conforto e um porto-seguro. Eu espero, sinceramente, que sejam os primeiros dois anos de uma história muito mais longa. E sigamos adiante, assim, nessa última nota, falando de cinema, de música, de moda. Escrevendo, opinando… na eterna busca por decifrar essa jornada para sempre indecifrável que é a vida. E a arte, é claro. Não são ambas a mesma coisa?
“’Cause I know it’s going to hurt. I’m going out!” (Florence Welch em “Hurricane Drunk”)
Moulin Rouge! – Amor em Vermelho (Moulin Rouge!, EUA/Austrália, 2001)
Dirigido por Baz Luhrmann…
Escrito por Baz Luhrmann, Craig Pierce…
Estrelando Nicole Kidman, Ewan McGregor, Jim Broadbent, John Leguinzamo, Richard Roxburgh, Jacek Koman…
127 minutos
2 comentários:
Parabéns amore! Se o Anagrama faz tanto sucesso e é fonte de inspiração para muitos (falo por mim, você é o grande responsável por isso.
Sempre brilhante, você sempre traz as palavras certas no momento certo. Admiro você por isso e outros milhões de motivos que só me mostram que te ter como amigo é um grande presente.
E que o Anagrama continue assim sempre, que seja 'eterno enquanto dure'.
Beijos.
feliz aniversário ! Não poderia ter encontrado melhor filme para comemorar, Moulin Rouge me fez voltar a crer numa renovação do cinema na qual se tem prazer de sair de casa para ver um filme. Tão mal acostumados estávamos com os videocassetes...
Desejo que muitos anos à frente!
abraços.
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