Por mais cruel, inacreditável e relevante que a realidade seja, são as perguntas derivadas da ficção que mais geram discussões na sociedade. E não adianta dizer que a arte imita a vida, ou o reverso. O Cinema e a TV traçaram um perfil tão interessante da ficção que os roteiros que vemos na tela representam as vidas que escolhemos acompanhar. Afinal, quem matou Norma? Quem matou Odete Roitman?
A telenovela, gênero de ficção que reina no Brasil há mais de meio século, não é sobre casais apaixonados e o karma dos vilões que decidem separá-los. Por mais que o nome sugira romance, o buraco é mais em baixo. Do exemplo mais recente, o pontapé inicial do enredo de Insensato Coração foi dado a partir da música “Que país é esse?”, do Legião Urbana. A novela contou a história de Norma, uma técnica de enfermagem que foi enganada pelo namorado e acabou sendo presa por um crime que ele cometeu. A personagem descobre que o estelionatário Léo cometeu outros crimes, reúne as provas, e decide encontrar o rapaz para fazê-lo pagar por tudo que a fez passar. Resumindo, a novela era sobre vingança.
O autor Gilberto Braga é conhecido por expor até onde as pessoas vão para alcançar seus objetivos não lisonjeiros, deixando ética e moral de lado, passando por cima até dos próprios familiares (oi, Maria de Fátima?). Assim como Vale Tudo, o mais famoso folhetim do autor, Insensato também abordou a falta de honestidade e a corrupção, mas a última novela abriu discussão para uma pergunta difícil de responder. Norma se aproveitou de várias pessoas, matou outras e se tornou poderosa o suficiente para fazer Léo pagar por seus crimes. E aí, a ex-técnica de enfermagem é vítima ou criminosa?
A personagem despertou a simpatia do público justamente pela humanidade que havia nela. Quem nunca teve vontade de fazer justiça com as próprias mãos? Ora, a diferença entre a ficção e a vida real é justamente o limite da ação humana. Em Vale Tudo o autor levantou a seguinte questão: Até onde vale a pena ser honesto no Brasil? A música de abertura clamava “Brasil, mostra a tua cara!”, enquanto um mosaico montava a bandeira do país. Logo lembro que, certa vez, o ex-presidente Lula disse que assistir novela “é um processo de degradação da família brasileira”. Vê a ironia? Acabamos voltando para a máxima que diz que a arte imita a vida.
“As coisas mudaram. Eu aprendi a beça lá dentro. Conheci gente que não prestava, li muito. Não sou mais aquela imbecil que ele enganou, não. Por mais esperto que ele seja, um dia desses ele cai do cavalo, faz uma besteira e aí vai me pagar por cada dia, cada minuto que eu passei naquela cadeia, onde ele é que devia estar!”
- Norma (Glória Pires), ao ser libertada da prisão.
2 comentários:
dorei rubens sua participação nesse blog q eu adoro : D
Valeu, PC! :D
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